No complexo, por onde circulam 35% das hortaliças, legumes, frutas, flores e outros derivados de origem animal consumidos no Estado, cerca de 9,5 mil toneladas de resíduos foram produzidas no ano passado – o equivalente a uma média de 38 toneladas diárias de funcionamento da Central. Este número representa a produção diária média de uma cidade de 50 mil habitantes – originados por 564.669.534,9 quilos de produtos ofertados por mais de dois mil produtores, e 311 empresas atacadistas. Além disso, aproximadamente 50 mil trabalhadores são empregados direta e indiretamente no local, e os compradores, nos dias de grande movimento, chegam a 30 mil circulando pelos 20 pavilhões da empresa.
O que preocupa a direção da Ceasa não é somente a produção, mas também a separação do resíduo orgânico e inorgânico. Do total de resíduo produzido, 80% é orgânico e 20% inorgânico. Porém, no ano passado, somente 15% de todo este volume teve destinação final como orgânico, sendo os restantes 75% destinados como resíduos inorgânicos e 10% como palha.
– Este panorama faz com que o custo do resíduo se torne alto, o qual é rateado entre todos os usuários, onerando as atividades realizadas na Ceasa/RS – afirma o presidente Paulino Donatti.
A composição do custo envolve desde a varrição, o transporte, o custo do maquinário e a disposição dos resíduos na Estação de Transbordo do Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre (DMLU), sendo que o resíduo inorgânico tem como destino final o aterro sanitário localizado na Região Metropolitana, distante cerca de 100 quilômetros da capital gaúcha. Atualmente, duas empresas trabalham nesse sistema na Ceasa, sendo uma na varrição e outra na coleta.
Ações visam o aproveitamento da produção de resíduos
A primeira ação do programa Ceasa Mais Cuidada será o de envolvimento, por meio de agentes educativos, de todos os atores: produtores, atacadistas, carregadores, funcionários e compradores. Serão seis funcionários que atuarão junto ao público da Central, orientando sobre o descarte correto dos resíduos, nos dois tipos de contêineres.
As frutas, legumes e verduras impróprias para o consumo devem ser descartados no contêiner de cor verde, destinado para os resíduos orgânicos. Os restos de plástico, madeira, latas e de papel e papelão devem ser descartados no contêiner de cor laranja, para os resíduos inorgânicos.
A segunda ação será de cunho socioassistencial, por meio do Banco de Alimentos da Ceasa/RS. Segundo Donatti, diariamente há um expressivo volume de frutas, legumes e verduras que não podem ser comercializados unicamente pelo seu aspecto, mas encontrando-se em condições para o consumo.
– Ao invés de serem descartados como resíduos orgânicos, esses alimentos poderão ser encaminhados para o Banco de Alimentos, que será responsável pela coleta e seleção de hortigranjeiros que serão doados às entidades cadastradas no programa – explica Donatti, acrescentando que com esta prática o objetivo é reduzir o desperdício de alimentos e garantir comida para muitas famílias.
No ano passado, o Banco de Alimentos recebeu como doação dos produtores, atacadistas e empresas localizadas no complexo um total de 134 toneladas de pães, 15 toneladas de soja e mil toneladas de hortigranjeiros. Foram atendidas 220 entidades, atingindo em média 12 mil famílias por mês, considerando que cada família é composta por quatro pessoas, o que eleva esse número para 50 mil pessoas por mês. Outras 200 famílias do entorno do complexo receberam, semanalmente, as doações diretamente na Ceasa/RS, atendendo uma média de 800 pessoas.
A terceira ação será contemplada com a Estação de Manejo e Transbordo dos Resíduos, que já se encontra em obras e deve entrar em funcionamento ainda neste ano. O investimento desta primeira etapa será de R$ 320 mil.
Atualmente, as atividades de manejo, separação e transbordo são realizadas em área aberta, gerando chorume que penetra nas tubulações e exalam cheiros pelo complexo. Ainda, quando as operações de manejo dos resíduos ficam expostas, além do aspecto visual impróprio, está sujeita às chuvas, o que contribui sobremaneira para potencializar os problemas com o meio ambiente.
Ceasa/RS será pioneira no Estado a transformar lixo orgânico em biogás
Conforme Donatti, a estação de transbordo é a primeira fase do projeto que prevê também a construção de uma usina modular de biogás experimental, já aprovada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
– As obras permitirão reduzir o impacto ambiental gerado por resíduos de alimentos impróprios para o consumo, gerar renda com a venda de biofertilizantes e economia de custos com manejo de sobras dos produtos comercializados no local, que serão transformados em biogás e consequentemente em energia elétrica – conclui.
A estação somará recursos na ordem de R$ 600 mil assim que estiver finalizada. A empresa de economia mista será uma das pioneiras no Estado a estimular o aproveitamento energético do lixo, a partir da geração de energia elétrica a partir dos resíduos.