– Temos características distintas do restante das regiões da América do Sul. Conseguimos uma acidez um pouco mais elevada nas uvas, o que não é uma característica muito desejável para os vinhos, mas é para os espumantes – explica o pesquisador e professor da Universidade de Caxias do Sul Sergio Echeverrigaray.
Se Argentina, Chile e Uruguai competem diretamente com o vinho gaúcho, isso não ocorre no mercado dos espumantes. Isso porque as uvas nos países vizinhos costumam maturar mais, ganhando açúcar e perdendo acidez.
– Para produzir um bom vinho ou espumante, que se destaque da média, tudo tem de ajudar. A uva deve ser adequada ao produto. Uma região onde a uva mature muito não é adequada ao espumante – complementa o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho Jorge Tonietto.
Para o enólogo da Miolo Wine Group Álvaro Domingues, a grande diferenciação do espumante da Serra está na elegância, fineza e leveza:
– O aperfeiçoamento do cultivo, a tecnologia, as potencialidades do solo, o clima e a adaptação de variedades possibilitaram produção de qualidade.
Se as condições são um diferencial, o crescimento nas vendas também estimula. A expectativa do Instituto Brasileiro de Vinho (Ibravin) é de alta de 12% nas vendas, para 14 milhões de litros.
– Aumentou o número de produtores. A relação custo/benefício é melhor se comparada com o espumante francês. E caiu o mito de que a bebida é só para festas, Natal e Ano-Novo – afirma o diretor executivo da entidade, Carlos Raimundo Paviani.
O potencial da região na área de espumantes tem atraído novos investimentos. A Quinta Don Bonifácio é um desses casos. Em 2000, instalou vinhedos na localidade de São Francisco e no distrito de Santa Lúcia do Piaí, no interior de Caxias do Sul. Hoje, a vinícola tem 24 produtos na linha, sendo seis espumantes – que representam 80% do faturamento. Já a Dunamis lançou seus primeiros espumantes há cerca de um mês a partir de uvas produzidas em Cotiporã.
Variedades de uvas tiveram boa adaptação
A adaptação de variedades para produzir espumantes foi um ponto fundamental para a Serra.
– A região conseguiu isso ao longo do tempo. Especialmente, varietais chardonnay branca e pinot noir, muito usados nos espumantes. Além desses, riesling itálico, que é cultivado na região, mas pouco usual em outras áreas vinícolas do mundo. Essas três variedades são marcadores de qualidade da Serra – detalha o pesquisador Jorge Tonietto, da Embrapa Uva e Vinho.
Também faz diferença o processo enológico – a transformação da uva em um vinho base e, depois, no espumante propriamente dito. O domínio dessa técnica não é novidade na região. Conforme Tonietto, o primeiro registro da produção de espumante na Serra foi feito em Garibaldi, em 1914.
– São quase cem anos aprendendo a fazer espumante. A partir dos anos 1980, 1990, a área de produção se irradiou para outras cidades, atendendo à crescente demanda de mercado – conta o pesquisador da Embrapa.
Mas o acúmulo de diferenciais da Serra não significa que não seja possível produzir vinho de qualidade na região ou, por outro lado, um bom espumante em outras áreas. A tecnologia ajuda a fazer diferença.
– Com uma boa condução do vinhedo, um bom tratamento enológico e tecnologia se conseguem bons vinhos. Mas com custo de produção maior, o que, do ponto de vista do mercado, não é interessante – avalia o pesquisador Sergio Echeverrigaray.
Indicação de origem
O Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, e Pinto Bandeira têm Indicação de Procedência. A região dos Altos Montes, que engloba Flores da Cunha e Nova Pádua, e da Aprobelo (Monte Belo do Sul e parte de Santa Tereza) buscam a indicação para vinhos e espumantes. A Afavin, de Farroupilha, tem processo para o reconhecimento dos moscatéis.