Agricultura

Como a guerra na Ucrânia afetou o mercado de fertilizantes?

Marcelo Mello, analista da StoneX fez um balanço de como se comportaram os preços dos fertilizantes, antes e depois da guerra

Nesta quarta-feira (24), a guerra na Ucrânia completou um ano, tendo deixado ao menos 210 mil mortos, dentre os quais 30 mil eram civis. O conflito teve impactos em diversas áreas, incluindo o mercado internacional de grãos e o setor de fertilizantes.

Marcelo Mello, analista da StoneX, fez um balanço de como se comportaram os preços dos insumos, antes e depois do conflito.

Antes mesmo do início da guerra, o mercado de fertilizantes já vinha sofrendo com a redução da oferta e a alta nos preços.

Entre 2020 e 2021, durante a pandemia da Covid-19, o consumo de alimentos aumentou, os preços dos grãos dispararam e houve graves problemas logísticos, o que encareceu o frete e os próprios insumos. Uma semana antes dos russos iniciarem os ataques à Ucrânia, o então presidente Jair Bolsonaro visitou a Rússia, que é o maior produtor e exportador do conjunto NPK do mundo (nitrogênio, potássio e fósforo), para garantir o fornecimento ao Brasil.

Quando a guerra teve início, em 24 de fevereiro, os preços dos fertilizantes apresentaram fortes altas até o final de março.

No caso da ureia, o nitrogênio mais importante, ela subiu 70% em um mês, a partir de um patamar que já vinha bastante alto. No caso do MAP, ele subiu 45% e, no caso do potássio, ele subiu 53%, aproximadamente. Os três, chamados NPK, atingiram as máximas históricas.

Apesar do aumento dos preços, o medo do desabastecimento foi maior e o Brasil, que importa 85% dos fertilizantes que utiliza, registrou um volume de compras nos primeiros meses após o início da guerra bem maior comparado ao mesmo período de 2021, já que as sanções à Rússia não incluíram as exportações desses insumos.

De abril a julho, as compras de MAP aumentaram 40% e as de potássio aumentaram 55%. Em contrapartida, a demanda despencou porque os preços foram para a estratosfera, o que fez com que as importações diminuíssem a partir do terceiro trimestre.

Entre agosto e dezembro, o Brasil importou 50% a menos de fósforo e potássio do que havia importado no ano anterior. Essa retração de compras teve influência na queda gradual nos preços nos meses seguintes. O MAP e o potássio, que eram as principais preocupações, começaram a cair a partir de abril e maio, respectivamente.

Além disso, o impacto da guerra gerou o que os analistas chamam de ‘destruição de demanda’.

Com exceção da Índia e da China, o mercado internacional de uma forma geral reduziu a utilização de fertilizantes, o que também ajudou a reduzir os preços.