Depois de década perdida com a vassoura-de-bruxa, produtores de cacau comemoram preços no ES

Estado está retomando produção graças à tecnologia e às políticas públicasOs produtores de cacau do Espírito Santo estão comemorando os bons preços pagos pelo produto. O Estado sofreu sérios problemas na última década com a vassoura-de-bruxa, fungo que destruiu quase toda a produção capixaba. A retomada está sendo possível graças à tecnologia e às políticas públicas que devolvem a confiança aos cacaueiros.

A produção de cacau no Espírito Santo se divide em antes e depois de 2001, ano em que a praga, que já havia devastado as lavouras na Bahia, atacou as plantações no Estado. Até 2007, houve um certo controle, depois a produção de 14 mil toneladas por safra desapareceu.

– Já tínhamos assistido a Bahia cair de joelhos com essa doença e, quando ela chegou aqui, não acreditávamos que ela teria a força que teve lá. Por incrível que pareça, foi muito pior aqui do que lá, porque aqui ela encontrou as condições ideais de reprodução – afirmou o presidente da Associação dos Produtores de Cacau do Espírito Santo, Milton Buffon.

O produtor Emir Macedo Gomes Filho, de Linhares (ES), município que produz quase 90% do cacau no Estado, perdeu 180 mil pés do fruto. A produção caiu a zero.

– Foi catastrófico. Na Bahia, ela provocou uma catástrofe social e aqui não foi diferente. Infelizmente, os produtores estão descapitalizados, empobrecidos. Uma região que já foi muito próspera, infelizmente, está com um cenário de devastação. O cacau, que já foi um ciclo vistoso, hoje está em um círculo vicioso e miserável – relatou Gomes Filho.

A solução veio da Bahia, que já sofria com a vassoura-de-bruxa desde a década de 1980. Variedades novas e tolerantes à praga foram importadas e hoje são desenvolvidas em viveiros. A tecnologia trazida do Estado baiano é simples, consiste em enxertar a variedade tolerante na planta comum.

O potencial produtivo da planta é três vezes maior, o que vem possibilitando a retomada da produção. Espírito Santo está colhendo 4 mil toneladas, bem menos do que já produziu, mas os preços estão em alta. A saca de 60 quilos que já foi vendida por R$ 250 está sendo comercializada por R$ 440.

Gomes Filho aproveitou o bom momento. Partiu do zero e hoje já colhe 500 sacas. O número de municípios produtores quase dobrou nos últimos anos, grande parte pelo programa Cacau Sustentável. O governo do Estado compra dos viveiros e repassa até 1,1 mil mudas para pequenos produtores. Para cada muda recebida, o produtor se compromete a arrancar duas plantas contaminadas pela vassoura de bruxa.

– Um ânimo novo aos produtores está levantando a autoestima. O preço reagindo no mercado é outro fator positivo. Com todo esse conjunto de fatores, com ações bem coordenadas, podemos realmente mudar a história, virar essa página, escrever uma história nova e de felicidade para a cacaicultura – disse Gomes Filho.

O desafio é, em 10 anos, pular de 4 para 100 mil toneladas.

– É um cenário de renovação, estamos motivados, estamos trazendo empresas e multinacionais para conhecerem a nossa realidade, e eles também estão apostando no Espírito Santo, o que traz um cenário positivo e promissor. Achamos que é promissor – declarou Buffon.

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