Economista vê certo exagero em chamar de fracasso a Rodada de Doha

Para Ernesto Lozardo, negociações sem conclusão deixaram mais claros os interesses dos países desenvolvidos e emergentesDizer que as negociações da Rodada de Doha, realizadas em Genebra, na Suíça, foram um fracasso é um certo exagero. A avaliação é do economista Ernesto Lozardo, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Segundo ele, os nove dias de reuniões entre ministros de vários países trouxeram alguns avanços.

? Ficaram claros os interesses dos países emergentes e desenvolvidos ? afirmou o economista, em entrevista ao Agribusiness Online, nesta quarta-feira, dia 30.

Por outro lado, Lozardo acentuou que os países em desenvolvimento ainda não consolidaram a participação no comércio global. Ressaltou também que grandes nações, como Índia e China, estão em um processo de maior integração.

? A Índia segue muito claramente os mesmos passos econômicos que a China adotou há dez, 12 anos. Vem perseguindo as metas chinesas de reformas econômicas.

Na opinião do economista da Fundação Getúlio Vargas, os mais prejudicados são os Estados Unidos. Já os chineses mostraram um poder significativo nas negociações para destravar o comércio internacional.

O Brasil também não pode fazer avaliação positiva dos nove dias de reuniões ministeriais, em Genebra. Ernesto Lozardo disse que o principal erro do país é não ter um posicionamento claro na política internacional.

? Priorizou-se o Mercosul. Não deu em nada, pouco avanço. Depois mudou a ótica para União Européia. Pouco avanço. Sempre sem rumo certo e claro sobre qual o norte da política internacional brasileira.

Lozardo lembrou que, enquanto outros países emergentes buscaram acordos comerciais bilaterais, o Brasil manteve a aposta em uma grande negociação multilateral, como a Rodada de Doha. E chamou a atenção para o fato dos países asiáticos trabalharem, atualmente, na criação de um bloco econômico.

? Não deu certo o multilateralismo e ficamos com o quê? Nada ? concluiu o economista.

Crise americana

Ernesto Lozardo afirmou ainda que a crise financeira dos Estados Unidos, que teve como ponto central a oferta e crédito imobiliário de alto risco, também teve impacto nos resultados da Rodada de Doha.

? Pesou muito. Os Estados Unidos foram muito duros na negociação. Não abriram concessões maiores. Mas a questão financeira é muito particular norte-americana. Requer uma regulamentação e uma transparência maior que os americanos se deram conta.

O economista analisou que a situação financeira americana “não diz muito respeito ao comércio em si”, embora afete fundos de investimentos e influa em outros sistemas financeiros. Porém, é um fator de vulnerabilidade que não pode ser desvinculado quando se trata da evolução da atividade comercial.

? Não dá para desconsiderar a fragilidade dos sistemas financeiros internacionais em face do progresso do comércio. Terão que ir juntos. A estabilidade financeira reflete na atividade comercial e vice-versa.