Apenas um terço do crédito rural utilizado no agronegócio vem do governo federal. Aumento da participação pública e desafios para facilitar o acesso aos recursos foram temas de um encontro em Brasília.
O Departamento de Economia da PUC Rio de Janeiro apresentou, no Banco Central, o resultado de uma pesquisa de três anos sobre crédito agrícola. Embora os recursos aumentem ano a ano, a conclusão é que três fatores principais atrapalham o acesso dos produtores rurais ao crédito: falta de alinhamento entre política de crédito e políticas ambientais, como o Código Florestal, falta de recursos públicos associados à gestão de riscos, como de clima ou de preços na comercialização, e excesso de complexidade burocrática.
Juliano Assunção, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, declarou: “O primeiro passo é um caminho de simplificação das regras e redução de complexidade de burocracias associadas ao crédito rural. Em segundo lugar, diferente de outros países, o grosso da política brasileira é canalizada via crédito, quando, em outros países, uma fração importante do recurso público é associada a instrumentos de gestão de risco, climáticos e de preços de comercialização. Finalmente, é necessário um melhor alinhamento entre a política de crédito rural com outras políticas, em especial, com o Código Florestal.”
O consultor João Luiz Guadagnin, da Cresol, concorda que os entraves apresentados pela universidade dificultam o acesso ao crédito, mas diz que produtores rurais com baixa capacitação ou informação também não conseguem cumprir requisitos para acessar o financiamento. “O que falta para muitos agricultores do Brasil, inclusive para os médios, é regularização fundiária, acesso à informação, à assistência técnica. Isso ainda é muito deficiente, especialmente na agricultura familiar, mas nos médios também“, afirmou.
Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), por conta de dificuldades de acesso ao crédito oficial, 30% de todo o financiamento agrícola do país vem de cooperativas de crédito e revendas de insumos. O percentual é semelhante ao de participação do crédito público, o restante é recurso dos próprios produtores.
Para o vice-presidente da Comissão Nacional de Política Agrícola da CNA, Pedro Loyola, o governo federal deveria aumentar os recursos, não só em crédito agrícola, mas, principalmente, em uma das ferramentas de gestão de risco: o seguro rural, com a finalidade de trazer segurança de renda aos produtores e evitar inadimplências.
“De 2006 a 2017, as seguradoras já pagaram R$ 4,8 bilhões em indenização de seguros rurais, dentro desse programa do governo. Mas esse programa tem apenas R$ 370 milhões. Isso não cobre nem 8% da área agrícola do país e esse valor representa incríveis 2% de todos os gastos do governo com agricultura. É um valor muito pequeno no orçamento do governo e todo ano sofre com contingenciamento”, avaliou a entidade.