Embrapa explica por que o solo do Paraná sofre tanto com a erosão

Nesta safra 2018/2019 vários relatos já foram registrados no estado, ainda mais com a intensificação das chuvas. Prejuízo anual supera os US$ 242 milhões por ano

Um problema recorrente nas lavouras do Paraná nessas épocas com altos volumes de precipitações é a erosão. Segundo uma estimativa Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), US$ 242 milhões são perdidos em nutrientes, levados pelo problema que aumenta a cada ano. Por isso, Iapar e Embrapa uniram forças para entender quais são os principais problemas que ocasionam as erosões e o que deve ser feito para evitar este prejuízo.

Plantio Direto

O uso inadequado ou parcial do sistema de Plantio Direto no estado é uma das principais causas para o aumento das erosões. Para os pesquisadores a adoção de sistemas pouco diversificados de produção, basicamente, sucessões de trigo/soja e milho 2ª safra/soja, têm gerado pouca palha e enraizamento.

“O problema, que por um tempo havia sido equacionado no estado, tornando-o exemplo positivo para o Brasil e o mundo, está de volta e, nestes últimos quatro anos, contabilizamos perdas expressivas de água e de solo”, ressalta o pesquisador da Embrapa Soja Henrique Debiasi.

Na década de 1970, o Paraná conseguiu reduzir a erosão com a adoção do sistema de Plantio Direto. A Embrapa garante que quando adotada corretamente, essa tecnologia é capaz de reduzir em 95% as perdas de água e solo por erosão, comparada ao sistema de preparo convencional com arados e grades.

Eventos extremos como as chuvas excessivas, ocorridas em outubro de 2017, na microbacia de Toledo (160 mm em 18 horas, sobre um solo já encharcado por um volume total de 240 milímetros de chuva nos 10 dias antecedentes), também explicam parte do crescimento da erosão no estado.

“Apesar de o volume de água ser o mesmo de anos anteriores, a concentração das chuvas têm aumentado, o que contribui para intensificar a erosão. Entretanto, o problema pode ser minimizado com a adoção de medidas que favoreçam a conservação do solo”, explica.

Foto: Henrique Debiasi – Embrapa

Manejo do solo

O Paraná tem cerca de 6 milhões de hectares de terras agrícolas. Mais de 80% da área com lavouras temporárias adotam outras práticas conservacionistas, além do Plantio Direto, principalmente a rotação de culturas e o cultivo em nível. “O uso dos terraços é a prática menos adotada no estado”, analisa Telles, do Iapar.

A qualidade do manejo do solo, por exemplo, tem piorado, principalmente pela consolidação dos efeitos negativos da sucessão trigo-soja ou milho 2ª safra-soja e consequentemente pela redução da diversificação de culturas.

Para o pesquisador da Embrapa Soja Júlio Franchini a consorciação de milho com braquiária é o primeiro passo para minimizar os efeitos da compactação, por exemplo, que é redução do volume de solo por compressão. “A compactação prejudica a infiltração de água no solo e amplia a resistência para o crescimento das raízes”, explica Franchini.

Dados da Embrapa, do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural do Paraná (Emater/PR) e da cooperativa Cocamar demonstraram que áreas do Paraná cultivadas há vários anos com a sucessão milho 2ª safra-soja apresentaram, em média, 20 milímetros por hora de infiltração de água. Por outro lado, áreas cultivadas com milho consorciado com braquiária resultaram em valor de infiltração 6,5 vezes maior, equivalente a 130 milímetros por hora.

“Ao introduzir a braquiária no sistema produtivo, há aumento de palhada na superfície do solo e as raízes da braquiária funcionam como descompactadoras, o que melhora a infiltração de água”, destaca o pesquisador.

Para Debiasi, os sistemas diversificados também são os mais lucrativos. Propriedades assistidas pela cooperativa Cocamar, em Maringá (PR), que implantaram na 2ª safra 70% da área com milho e 30% com braquiária solteira tiveram uma vantagem de R$ 280 por hectare por ano, comparando-se com o sistema que não usou a braquiária.

“Ao introduzir uma cultura de cobertura, o produtor produz menos milho devido à menor área, mas a produtividade da soja e do milho é maior, por isso, só tem vantagens ao longo prazo”, explica Debiasi.

Foto: Henrique Debiasi – Embrapa

Causas da degradação

Entre as causas de degradação física do solo está o tráfego intenso no campo, promovendo compactação e trazendo outras consequências. As máquinas agrícolas, cada vez maiores, também têm interferido no sistema produtivo, com impacto negativo às práticas conservacionistas.

Outro problema é a adoção parcial do terraceamento, que prevê a criação de barreiras de contenção (terraços) para disciplinar o escoamento das águas das chuvas. Alguns produtores vêm rebaixando os terraços ou não cuidando de sua manutenção, o que também favorece a erosão.

Também merece destaque a intensificação da adoção do plantio morro abaixo, em detrimento do cultivo em nível, prática que vem reduzindo a capacidade de infiltração e armazenamento de água no solo.

Estradas mal posicionadas

Outro ponto observado pelo pesquisador no estudo realizado nas microbacias foi o mau posicionamento das estradas. Como algumas delas não estão integradas ao sistema conservacionista das propriedades, a água da chuva acaba sendo jogada de forma indisciplinada para dentro das propriedades.

“Por isso, defendemos a criação de um sistema de conservação integrado entre as propriedades envolvendo, inclusive, o poder público na realocação e conservação das estradas que estão sob sua responsabilidade”, afirma.

“Apesar de o custo médio do terraceamento variar de R$ 200 a R$ 500 por hectare, depois de implantado exige apenas a manutenção. E o retorno econômico e ambiental, a médio e longo prazos, ultrapassa em muito o valor investido”, calcula Debiasi.

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