Estudo calcula impactos de eventual redução nos subsídios dos EUA no agronegócio brasileiro

Pesquisador montou modelo teórico no qual sugere que política americana causa elevação dos excedentes exportáveis do paísDepois de nove dias reunidos em Genebra, na Suíça, representantes de mais de 30 países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) não conseguiram chegar a um acordo para reduzir suas barreiras comerciais. As principais potências (Brasil, Austrália, China, Estados Unidos, Índia, Japão e a União Européia) não foram capazes de definir como abrir seus mercados agrícolas e industriais e em quanto os países ricos deviam reduzir seus subsídios.

Os impasses da Rodada de Doha culminaram com o anúncio do diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, de que as negociações haviam fracassado novamente, depois de sete anos. Entre as razões estava a proposta norte-americana de limitar a US$ 15 bilhões por ano seus subsídios agrícolas, considerada alta por diversos países, entre eles o Brasil. Atualmente, os EUA limitam as subvenções a US$ 48 bilhões.

O professor Adelson Martins Figueiredo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo, calculou os impactos de uma eventual redução nos subsídios agrícolas norte-americanos sobre o agronegócio brasileiro. Sua tese foi defendida em 2007 na Universidade Federal de Viçosa (MG) e recebeu esta semana o prêmio Edson Potsch Magalhães 2008, concedido pela Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural.

Para chegar aos resultados, o pesquisador montou um modelo teórico no qual sugere que a política de subsídios causa um aumento de produção agrícola nos Estados Unidos e, conseqüentemente, uma elevação dos excedentes exportáveis do país.

O estudo, divulgado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), mostrou que, sem subsídios a cada ano, o Brasil poderia aumentar sua rodução agrícola em até R$ 5 bilhões e elevar as exportações em pelo menos R$ 220 milhões. Além disso, diversos produtos teriam preço reduzido no mercado interno, como a soja (4,5%) e o algodão (4%).

? Para os norte-americanos, isso reduz a necessidade de importação e possibilita a exportação dos excedentes, derrubando os preços do mercado internacional. O esultado é que o Brasil vende menos e por um preço menor ? afirma Figueiredo.

O pesquisador montou um modelo econômico ? o Modelo Aplicado de Equilíbrio Geral ? e fez simulações das reduções dos subsídios de acordo com as propostas que foram apresentadas durante a rodada.

Ganho per capita

? Se os Estados Unidos adaptassem suas metas às propostas da Rodada de Doha, haveria um impacto dramático em seus setores agrícola e agroindustrial. A produção de soja seria reduzida de 6% a 7% e a de milho cairia em até 12%. Outros setores agrícolas teriam redução de 3% a 4% ? disse Figueiredo.

A simulação feita mostra um efeito positivo na produção brasileira. Haveria um aumento de 4% a 5% na produção de soja e de 2,5% a 3,5% na de milho. Outros produtos agroindustriais teriam crescimento entre 2% e 2,5%. De acordo com o pesquisador, esse crescimento seria equivalente a um aumento da produção brasileira que poderia ir de R$ 3 bilhões a R$ 5 bilhões por ano.

? Analisamos apenas o aumento de produção no Brasil, mas certamente haveria um aumento significativo também em outros países exportadores, como Argentina e Chile. Por outro lado, as perdas para os Estados Unidos não podem ser consideradas tão grandes ? disse.

As perdas para a produção norte-americana só seriam de fato significativas se a redução dos subsídios superasse os US$ 10 bilhões. Acima disso, haveria queda tanto no Produto Interno Bruto (PIB) como no bem-estar das famílias norte-americanas.

? E eles estão apresentando justamente uma proposta de reduzir seus subsídios dos atuais US$ 25 bilhões para US$ 15 bilhões.

Metodologia

De acordo o pesquisador, há diversas formulações matemáticas utilizadas para medir variações no bem-estar de uma sociedade. Na tese, foi utilizada a “estimativa da variação equivalente”, que é a quantia adicional de renda necessária para manter inalterado o nível de bem-estar dos consumidores quando há uma mudança causada por algum motivo adverso.

Segundo ele, uma redução dos subsídios em até US$ 3,51 bilhões elevaria o bem-estar das famílias norte-americanas, compensando a contração do PIB. Entretanto, com reduções superiores a esse valor, os ganhos de bem-estar não compensariam as quedas no PIB.

Na tese, o economista mediu também o custo social das políticas norte-americanas de subsídios, avaliando, caso eles fossem reduzidos, qual seria o ganho per capita para o Brasil.

? A redução promoveria aumentos de R$ 7,71 a R$ 9,58 no PIB per capita e de R$ 4,86 a R$ 6,08 no bem-estar per capita.

Para Figueiredo, o estudo demonstra que a redução dos subsídios agrícolas nos países ricos é de grande relevância para o Brasil, elevando produção e exportações e tornando o país mais competitivo no comércio internacional.

? Não esperamos que os Estados Unidos reduzam a taxa de subsídios de todos os seus produtos. Mas é preciso que a redução seja feita em relação a produtos pontados como essenciais pela OMC, como a soja, o milho e o algodão.