Excesso de chuva atrasa colheita e sojicultores já acumulam prejuízos

Colheitadeiras paradas, soja ardida e redução de produtividade são alguns dos problemas causados pelo clima adverso. Embrapa dá dicas para minimizar as perdas com o excesso de umidade

Algumas regiões de Mato Grosso registraram chuvas constantes desde o final do ano passado. Esta situação, além de adiar a entrada das máquinas no campo, também traz problemas para os grãos colhidos. Produtores já relatam o surgimento de soja ardida e redução na produtividade. Embrapa alerta para cuidados que evitarão mais perdas.

Raros têm sido os dias de sol em Mato Grosso nesta temporada. Por lá, boa parte das lavouras estão quase prontas ou aptas para serem colhidas. Quando o sol aparece o que se vê são colheitadeiras correndo para o campo para não atravancar tudo. É assim na propriedade de Elton Zanella, localizada no município de Campos de Júlio, onde uma parte dos 8 mil hectares já está pronto, quase estragando inclusive. Segundo o agricultor, por lá já são 15 dias de chuvas ou nublados, sem conseguir entrar no campo. “Estamos tentando colher essa soja e não conseguimos. Já tem vagem abrindo e dando 10% de grãos ardidos”, conta ele. “Vamos aproveitar o sol que abriu hoje, pois não sei vai durar até o fim do dia ou se amanhã vai ter sol de novo.”

Segundo o gerente técnico da propriedade de Zanella, Marcos Adriano Storch, nos últimos 100 dias, a região recebeu mais de 1.200 milímetros acumulados, bem acima do esperado. Isso fez com que apenas dois mil hectares fossem colhidos. “Se o tempo deixar a gente colher um ou dois dias por semana, conseguimos tirar a soja do campo. Mas, o que está acontecendo é que está chovendo até 15 dias sem parar, isso é um problema e não tem o que fazer, não tem milagre”, ressalta Storch.

personagem soja

Leandro Bortoluzzi enfrenta o mesmo problema. Dos cinco mil hectares cultivados com soja, só 1,1 mil foram colhidos e com prejuízos. “Fizemos todos os tratamentos com os melhores fungicidas do mercado, mas a quantidade de chuvas é muito grande. Calculamos de duas sacas a três sacas a menos por hectare”, frisa Bortoluzzi. “Agora vamos rezar para que o patrão lá de cima nos ajude a finalizar a colheita até o final de fevereiro, começo de março.”

O chefe geral da Embrapa Soja, José Renato Bouças Farias, explica que períodos assim além de perdas em quantidade, também afetam a qualidade dos grãos “O excesso de umidade pode aumentar o índice de grãos ardidos, que são infectados por fungos e o produtor pode perder dinheiro na hora de vender para as indústrias”, diz Farias. “Sem falar que esta água pode penetrar a vagem e fazer com que o grãos germinem.”

Na fazenda de Zanela, as primeiras colheitas começaram mesmo com a soja ainda molhada. “Largamos a colheita com 30% de umidade. Muitas vezes temos que entrar dentro da máquina para empurrar a soja para ela sair. Não sabemos se esse sol vai se manter então temos que aproveitar o pouco tempo que temos”, garante o produtor.

Soja germinando na vagem, por causa do excesso de umidade
Soja germinando na vagem, por causa do excesso de umidade

Esta condição de colher a soja ainda com umidade não é a Idea,l afirma o chefe geral da Embrapa Soja, mas o produtor tem razão em fazê-lo, já que deixar a oleaginosa no campo, com a possibilidade de chover e ter que esperar mais, pode gerar perdas totais nas lavouras. “É importante ficar atento a meteorologia, e se puder esperar a soja perder a umidade. Mas, se a previsão seguir com chuvas e curtas paradas é melhor colher. Eu colheria, se fosse minha a área”, conta Farias.

Outra dica para evitar problemas, é armazenar os grãos colhidos nestas situações de bastante umidade ou afetados por alguma enfermidade, separado de grãos sadios. Em muitos casos, ou na maioria deles, esta dica é difícil de seguir. “Isso evitaria que os grãos ruins afetassem a soja boa, minimizando as perdas”, reitera o representante da Embrapa.

A colheita no município, segundo informações do sindicato Rural de Campos de Júlio, está no máximo em 20%da área semeada. “Tem muita soja dessecada, seca, e amarelando. Então quando começar a amadurecer, com este atraso, virá tudo de uma vez e vai dificultar muito a vida dos produtores. Ainda mais se der mais uma semana de chuva igual aconteceu agora”, finaliza Alfredo Tomé Felipe, vice-presidente do sindicato.

Daniel Popov, de São Paulo/Pedro Silvestre, de Mato Grosso

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