França está pronta para diálogo mas não deixará de apoiar seus agricultores, diz primeiro-ministro do país

François Fillon ressaltou que não há bloqueio por parte dos europeus em negociar a abertura do mercado agrícolaEm visita à cidade de São Paulo, o primeiro-ministro da França, François Fillon, disse nesta quinta, dia 15, que o país está pronto para iniciar um diálogo "franco" sobre o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Ele ressaltou, no entanto, que os países europeus não vão abrir mão de apoiar seus agricultores - uma das principais questões que hoje travam o avanço do acordo, - mas destacou que o protecionismo não é um caminho aceitável.

– Sabemos que o que agravou a crise dos anos 30, que é bastante comparável com a crise atual, o que a tornou catastrófica, e que acabou levando para todas as desordens, foi a volta para o protecionismo – disse.

O primeiro-ministro ressaltou que não há fundamento em dizer que há um “bloqueio” por parte dos europeus em negociar a abertura do mercado agrícola. Segundo Fillon, a agricultura é estratégica para a segurança de abastecimento do ponto de vista sanitário, e a Europa não irá abrir mão dela. O primeiro ministro falou ainda que o Brasil está bem posicionado na economia global e que tem um papel fundamental para Europa.

– Nós estamos prontos para um diálogo franco e transparente, mas, além da parte agrícola, temos de falar da parte industrial, o comércio, os serviços, o acesso aos mercados públicos. Estou convencido de que nós vamos encontrar uma solução aceitável – acrescentou.

Há sete meses, as negociações entre o Mercosul e a União Europeia foram retomadas. Desde 2004, as conversas estavam paralisadas devido à falta de progresso na Rodada Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC) – que prevê a criação de regras para o comércio global. Para os europeus, facilitar a exportação de produtos agrícolas do Mercosul pode prejudicar seus agricultores.

O primeiro-ministro fez referência ainda à participação da França nas forças de coalizão que fizeram uma intervenção militar na Líbia. Fillon defendeu a ação e disse que a medida foi baseada na proteção das populações e na defesa de um processo democrático nascente.

– Eu conheço as reticências que foram emitidas pelas autoridades brasileiras, durante a intervenção militar que conduzimos na Líbia. Entendo as reticências, mas também gostaria que entendessem as nossas – disse.

Em setembro, em discurso na abertura da 66ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a presidente Dilma Rousseff se colocou contrária às intervenções militares ocorridas nos países do Oriente Médio e do Norte da África, envolvidos em conflitos civis desde o ano passado, em uma série de revoltas conhecida como Primavera Árabe.

Repercussão

Após a participação na Fiesp, O primeiro ministro francês foi para Brasília se encontrar com a presidente Dilma Roussef. O discurso sobre a crise financeira na Europa e as consequências para o agronegócio brasileiro, repercutiram no setor.

Para o presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), João Sampaio, a diminuição das exportações brasileiras para Europa não tem a ver com a crise financeira. É um processo que vem acontecendo nos últimos dez anos. Em 2000 as exportações de agronegócio para Europa representavam 41% do total. Dez anos depois, diminuíram para 25%. Em contrapartida as exportações para Ásia cresceram de 5% para 18% em uma década. Segundo João Sampaio, o Brasil, pelo menos até agora não foi afetado.

– Neste primeiro momento ainda não. Já plantamos a safra que vai ser colhida no início de 2012. Muito das vendas que vão ser realizadas no primeiro semestre de 2012 já está toda efetivada os contratos já feitos, então é questão de entrega desta mercadoria. O que pode afetar bastante é uma desaceleração muito forte na Europa, consequentemente desacelera os demais países do mundo toda. Então aí sim pode afetar consideravelmente. Mas neste momento a gente não imagina que vá ter uma consequência muito grande para nossas exportações agrícolas – aponta.

O professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, admite que o ajuste fiscal rigoroso na Europa pode causar uma recessão. Mas nada que afete de forma significativa as exportações brasileiras. A economia deve continuar crescendo em 2012.

– Não vai ser um ano negativo, a própria América latina está crescendo em um ritmo até superior ao Brasil. O Brasil é competitivo e o maior produtor mundial de uma série de produtos, é o maior exportador de uma série de produtos. No setor de agroindústria, agropecuária, o Brasil é primeiro mundo, é o principal, tem uma das mais altas tecnologias, capacidade de produção. E o mundo embora crescendo menos vai continuar crescendo e o que as pessoas querem é comer e comer alimentos de qualidade e o Brasil tem isto a oferecer – garante.