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Fruticultura do Paraná ajuda a expandir produção de sorvetes

De acordo com a Associação Brasileira do Sorvete e Outros Gelados Comestíveis (Abrasorvete), que representa a indústria do setor, em 2023 o consumo de sorvetes em todo o Brasil cresceu 15%, atingindo 438 milhões de litros

Sorvete
Foto: Vanderleia_Dezingrini-assessoria de comunicacao

A fruticultura do Paraná tem sido valorizada por produtores, pequenos empresários e indústrias que investem na sobremesa queridinha do verão: o sorvete.

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A diversidade, um dos principais atributos da agricultura do Estado, que é um dos supermercados do mundo, aliada à qualidade dos produtos, atrai consumidores em todas as regiões. Algumas iniciativas contam com apoio do governo estadual.

Em Carlópolis, no Norte Pioneiro, a produção de sorvetes de frutas paranaense está ligada a uma tradição familiar desde a década de 1930, quando Benedito Salles abriu a primeira sorveteria. Na sequência a loja passou para o filho, Roberto, e para o neto, José Salles. “Sempre trabalhamos com vários tipos de fruta”, conta Salles.

Há quatro anos quem comanda as vendas é a filha, Luzia Cristina Salles, que trocou a carreira de Enfermagem pela produção de sorvetes. “Às vezes me perguntam se eu vou voltar para a Enfermagem, mas não dá coragem, eu gosto muito do que eu faço” conta.

São 11 frutas diferentes, todas de produtores de Carlópolis. Abacate e goiaba são os sabores mais procurados. O município é reconhecido por uma Lei Federal como a Capital Nacional da Goiaba, e a fruta tem Indicação Geográfica (IG), um selo de reconhecimento do seu valor e da identidade.

O pai de Luzia, hoje aposentado, é o principal fornecedor de abacate na sorveteria, e já frequentou cursos do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná IaparEmater (IDR-Paraná) para melhorar a produção.

A tradição familiar também é a marca registrada da sorveteria Primorato, em Morretes, no Litoral. Donos de um restaurante que servia como parada de caminhoneiros na Serra da Graciosa, os avós do empresário Márcio Jazar Zanikoski compraram uma máquina de sorvete em 1954 e tiveram muito sucesso no ramo. “Todos os filhos foram criados dentro do negócio e adquiriram habilidades na gastronomia”, diz.

Na década de 1980 foi a vez de seus pais abrirem uma sorveteria em Curitiba e, depois de se aposentarem, voltaram para Morretes. Em 2016 Zanikoski foi para o Litoral para dar continuidade ao negócio familiar. Hoje a sorveteria busca ressaltar os sabores da região, como banana, maracujá, açaí de juçara, goiaba, jabuticaba, pitanga, pitaya, limão rosa, entre outras.

“As receitas foram criadas por meu pai e eu mesmo gosto de inovar em sabores. A produção é toda artesanal, trabalhosa, mas vale a pena quando escutamos o ‘hummm’ do cliente. Usamos os frutos locais, pois, além de frescos, são procurados pelos moradores e turistas que vêm de toda parte”, diz.

Industrialização

De acordo com a Associação Brasileira do Sorvete e Outros Gelados Comestíveis (Abrasorvete), que representa a indústria do setor, em 2023 o consumo de sorvetes em todo o Brasil cresceu 15%, atingindo 438 milhões de litros.

Para 2024 a expectativa do setor é crescer mais 5%. Considerando vendas de açaí e massas servidas em casquinhas em sorveterias, o consumo total pode chegar a 600 milhões de litros ao ano.

O Paraná tem percebido esse aumento da demanda. No Centro-Oeste, a Cooperativa da Agricultura Familiar de Corumbataí do Sul e Região (Coaprocor) tem clientes diversos, como supermercados, indústrias de sucos e cosméticos.

Mas parte da produção é destinada para sorveterias, e inclusive uma grande empresa de Minas Gerais utiliza a polpa do maracujá para a produção da sobremesa. São 650 associados de mais de 20 municípios que trabalham com frutas como maracujá, acerola, morango, framboesa, amora e goiaba.

A cooperativa já foi contemplada pelo programa Coopera Paraná, do Governo do Estado, o que colaborou com a logística, compra de câmara fria, entre outros investimentos. Também recebe assistência técnica do IDR-Paraná.

“Nosso diferencial é que atuamos na cadeia toda: somos produtores, fazemos a comercialização, a logística, por isso somos competitivos, além do bom preço”, diz o presidente da Coaprocor, Olavo Aparecido Luciano. “Temos excelente qualidade, é uma polpa natural que está criando um caminho importante”.

Apesar de enfrentar desafios como a deriva, doenças e a dificuldade em manter a sucessão familiar, Luciano conta que cada vez mais empresas estão interessadas em industrializar a fruticultura da região. Nos últimos anos, principalmente pequenas culturas como framboesa e amora estão se destacando.

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Em Carlópolis, terra da goiaba no Norte Pioneiro, a produção de sorvetes de frutas está ligada a uma tradição familiar. Foto: Divulgação

Extensão

Na região Central do Estado, a produção está ligada à extensão rural e ao ensino superior. O projeto “Sabores da Agrofloresta”, coordenado pela Universidade Federal de Fronteira Sul (UFFS), campus de Laranjeiras do Sul, orienta associações de agricultores familiares na produção de picolés e sorbets (sorvetes à base de água) de 20 sabores.

O diferencial é que são frutas nativas (oriundas da Mata Atlântica) e crioulas (frutas exóticas adaptadas à região). Guabiroba, ananás, uvaia, araçá, jabuticaba, jerivá, juçara com banana, cereja do mato, morango silvestre, manga mexerica, banana, limão caipira, mamão caipira e goiaba fazem parte da matéria-prima utilizada.

Entre as entidades apoiadoras estão o Instituto Água e Terra (IAT), com o fornecimento de mudas, e o IDR-Paraná, que além de prestar assistência técnica para os agricultores envolvidos, estimula a participação do projeto em feiras de agroindústria para colaborar com a comercialização.

Os participantes observam efeitos na conservação e recuperação das florestas, na geração de renda das famílias, além de valorizar a cultura e os hábitos alimentares das famílias e dos consumidores.

“A gente tem trabalhado com frutas oriundas das nossas florestas. E isso tem feito uma grande diferença, porque os agricultores estão reconhecendo a importância de árvores que não davam valor, ou pensavam em suprimir das propriedades, e não só preservam as que têm, mas estão plantando mais”, conta o professor Julian Perez, que coordena o projeto.

Para os produtores, essa iniciativa ajuda a diversificar a renda para além dos mercados convencionais e identificar oportunidades. A ideia agora é investir em aperfeiçoamento para ampliar a produção, aproveitando o interesse do público nas frutas nativas.

“Nós fomos entendendo que era importante trabalhar com as agroflorestas, trabalhar com orgânicos e preservar a natureza. Comercializar e proteger as variedades”, diz o agricultor Osmar Francisco Pereira, da Associação de Agricultores Orgânicos Nova Alternativa (Apona), em Laranjal. Ele destaca a qualidade dos sorvetes, já que a maioria aproveita 100% a doçura natural das frutas. “A industrialização das frutas nativas, principalmente, é uma coisa nova. Tem muita coisa que pode se desenvolver na comunidade, no município e na região”.

Fruticultura no Paraná

Em 2022 o setor de frutas do Paraná atingiu aproximadamente R$ 2,5 bilhões em Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária, rendimento 7% superior ao registrado em 2021 (R$ 2,10 bilhões). Os destaques foram a laranja (R$ 619,6 milhões), o morango (R$ 389 milhões) e as uvas (R$ 291,2 milhões).

O Sistema Estadual de Agricultura (Seagri) tem iniciativas específicas para esse setor, viabilizadas com programas como o Coopera Paraná, o Banco do Agricultor Paranaense e o Programa de Revitalização da Vitivinicultura (Revitis), ou com a pesquisa e a extensão rural, favorecendo também a produção de vinhos e sucos, polpas, doces e venda para mercado de mesa.

Na avaliação do coordenador estadual da Fruticultura do IDR-Paraná, Eduardo Agostinho dos Santos, esse setor vem avançando principalmente de forma qualitativa. Há empresas paranaenses exportando frutas in natura – no caso da goiaba de Carlópolis – e também polpas. Além disso, há muitas oportunidades a serem exploradas, como o mamão e a pitaya, que têm chamado a atenção dos consumidores.

Os produtores precisam ficar atentos às tecnologias e práticas pertinentes para o seu cultivo e à crescente demanda das agroindústrias.

“O papel da extensão rural é mostrar aos agricultores familiares novas opções de renda, que promovem qualidade de vida no meio rural e sucessão nas propriedades. A fruticultura exige conhecimento e dedicação, porém permite ter renda em áreas pequenas e mesmo agregar valor à produção com a agroindústria”, explica Santos.

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