Incentivo à Agricultura de Baixo Carbono esbarra em conservadorismo, diz representante do Ministério da Agricultura

Para Carlos Magno, programa é inovador e representa uma queda de paradigmaA demanda pelos financiamentos do programa de incentivo à Agricultura de Baixo Carbono (ABC), parte do plano federal de redução das emissões de gases de efeito estufa, esbarra em questões como a resistência de produtores rurais em adotar novas tecnologias e também na falta de regularização fundiária, que dificulta o acesso ao crédito. O diagnóstico é do diretor do departamento de sistemas de produção e sustentabilidade da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério

Magno representou nesta terça o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, no seminário de lançamento do Guia de Financiamento da Agricultura de Baixo Carbono, promovido pela Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Mendes e a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu, cancelaram a participação no evento para participar do enterro do deputado federal Moacir Michelleto, no Paraná, que morreu na tarde de ontem.

O seminário é um dos quatro encontros regionais que serão realizados para divulgar experiências bem-sucedidas de práticas sustentáveis no campo. O objetivo é motivar os agricultores a aderir ao programa ABC, pois a demanda pelos financiamentos continua baixa. Dos R$ 3,15 bilhões destinados às operações nesta safra, apenas R$ 274,9 milhões (8,7%) foram tomados pelos produtores rurais entre julho e dezembro do ano passado.

Carlos Magno acredita que o programa ABC deve deslanchar nos próximos meses, pois neste ano serão treinados mais cinco mil técnicos de campo que atuam junto aos agricultores, além dos três mil que receberam treinamento no ano passado. O diretor considera natural que num primeiro momento exista resistência de agricultores e pecuaristas tradicionais às novas práticas.

– Apesar de as tecnologias serem simples, o programa é inovador e representa uma queda de paradigma – diz ele.

As linhas de crédito do programa financiam a recuperação de pastagens degradadas; implantação de cultivo orgânico; implantação de plantio direto na palha; integrações entre lavoura-pecuária, lavoura-floresta, pecuária-floresta e lavoura-pecuária-floresta; manejo florestal comercial, inclusive destinado ao uso industrial ou produção do carvão vegetal; regularização das propriedades ante as exigências da legislação ambiental, inclusive com recuperação de áreas de preservação permanente e manejo florestal sustentável.

O objetivo do governo é reduzir em pelo menos 36% as emissões de gás carbônico ate 2020. Para que a meta seja atingida, será necessário reduzir o desmatamento e mudar os padrões da produção, de acordo com o assessor especial do Ministério do Meio Ambiente, Luiz Antônio Carvalho.

– Se espera que se venha conseguir através dos programas lançados pelo governo. A agricultura tem um papel importante no cumprimento das metas do Brasil de enfrentamento do aquecimento global – aponta.

A produtora rural Marize Costa relata ter recuperado metade da área degradada em seus 900 hectares em Goiás por meio de investimentos em integração da lavoura, pecuária e floresta. E acrescenta ter conquistado o feito em seis anos.

– Na mesma área eu consegui três fontes de renda simultaneamente. Eu tenho a renda da agricultura, da pecuária e da floresta – comemora.

O exemplo foi apresentado a representantes do governo e produtores durante o evento. Segundo o presidente da Comissão de Meio Ambiente da CNA, Assuero Veronez, haverá debates em diversas capitais do país.

– Para toda linha de crédito nova é preciso que a gente prepare não só os produtores como os técnicos, para estimulá-los, induzi-los a tomar esses recursos. Isso melhorará a produção de forma sustentável – diz.

Confira o Guia de Financiamento da Agricultura de Baixo Carbono