Após três mudanças em menos de seis meses, vazio sanitário será de 137 dias, eliminando a possibilidade do cultivo de soja sobre soja
Rikardy Tooge | São Paulo (SP)
Atualizado às 17h02
O Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT) fez mais uma alteração no período de vazio sanitário no Estado. Nesta terça, dia 10, a entidade de defesa vegetal alterou o calendário para 137 dias, começando em 1º de maio até 15 de setembro.
Essa foi a terceira mudança em menos de seis meses. Em outubro, o órgão mudou o calendário de 90 dias sem plantas vivas de soja nas lavoura para o mesmo período de 137 dias.
Após muita discussão dentro da cadeia produtiva, o Indea-MT novamente mudou a regra, passando a ser de 122 dias, de 1º de junho até 30 de setembro. Com a alteração desta terça, o cultivo da soja de segunda safra em Mato Grosso não poderá ser feito. A normativa proíbe a sucessão de cultura soja sobre soja. Os produtores que já plantaram a segunda safra de soja estão com direto assegurado de continuar com a produção, mas, a partir da publicação, os demais estão impedidos.
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O período de 1º de maio até 15 de setembro já vale para a próxima safra. O cuidado se deve para garantir a prevenção e o controle da ferrugem asiática nas lavouras da oleaginosa no Estado. A nova regra consta na Instrução Normativa conjunta nº 01/2015 da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Secretaria de Agricultura Familiar (Seaf) e do Instituto de Defesa Agropecuária (Indea-MT).
Produtores contestam
O presidente da Associação de Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-MT), Ricardo Tomczyk, se posicionou contra a nova mudança no vazio sanitário. O dirigente aponta a falta de diálogo na cadeia produtiva. Além disso, ele cita que a medida restringe a produção de sementes, considerada estratégica pela Aprosoja-MT.
– Esse é um assunto que não vem sendo discutido adequadamente. Ficou complicado porque impossibilita os produtores a produzirem a própria semente, algo que é considerado estratégico para nós. Consideramos uma medida exagerada – critica Tomczyk.
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Outro ponto da normativa que foi alvo de reclamação é o término do vazio, programado para 15 de setembro. A associação entende que isso permite um plantio sem uniformidade no Estado, o que pode aumentar inóculos da ferrugem.
– Somos contra, o dia 30 de setembro permitiria um plantio mais alinhado, sem produtores jogarem inóculos para outras lavouras. Poderia haver exceções, mas desse jeito somos contra. Falta uma discussão aprofundada – aponta.
As três mudanças em menos de seis meses, segundo Ricardo Tomczyk, é reflexo da falta de discussão sobre o assunto.
– Isso (três mudanças em menos de seis meses) mais complica do que ajuda – completa.
Embasamento técnico
As medidas levaram em consideração as condições edafoclimáticas (tipo de solo e clima) do Estado, o poder competitivo do modelo agrícola mato-grossense e se baseou na orientação da Comissão de Defesa Sanitária Vegetal de Mato Grosso (CDSV/SFA-MT) e em notas técnicas de instituições de pesquisa, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Fundação MT.
– Consideramos os diversos estudos agronômicos que apontam para a insustentabilidade do plantio em sucessão da cultura de soja sobre a cultura de soja, por isso tomamos essa medida enérgica. Faremos uma série de ações junto com as entidades do setor produtivo para manter nosso poder competitivo em relação a outros Estados produtores – diz o Indea-MT, em nota.
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O coordenador da Comissão de Defesa Vegetal, Wanderlei Dias Guerra, comemorou a decisão e elogiou a postura do secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Seneri Paludo. Segundo ele, Paludo foi corajoso em fazer a nova mudança, especialmente por se basear em parecer técnico.
– O secretário nos procurou e disse que ia ouvir a posição da pesquisa sobre o tema. Nosso objetivo era de 15 de abril até 15 de setembro, mas consideramos o calendário atual um meio termo entre a posição da pesquisa e dos produtores – explica.
Um grupo de trabalho será criado para elaborar um plano de controle a ser executado nas lavouras plantadas entre os dias 15 e 30 de setembro, visando um controle mais eficaz dos primeiros plantios para não afetar os agricultores que começarão a plantar a partir de outubro.
– O grupo de trabalho vai acompanhar o controle de quem plantou antecipado. Não seria justo encerrar o vazio sanitário em 30 de setembro, sendo que, nesta safra, quem plantou antecipado fez bom controle. Então esse grupo vai monitorar os produtores que podem plantar antes – comenta Guerra.
Ferrugem asiática
A ferrugem asiática é uma doença da soja causada pelo fungo Phakopsora pahcyrhizi, que provoca a desfolha precoce da planta impedindo a completa formação dos grãos, o que gera redução na produtividade.
O maior volume de pulverização nas lavouras, conforme ainda consta na nova Instrução Normativa, é consequência da perda tanto da eficiência, quanto do número reduzido de ingredientes ativos para controlarem a ferrugem.
Veja a instrução normativa 01/2015, publicada em 10 de fevereiro de 2015: