A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveu o protótipo de um equipamento capaz de diagnosticar de forma rápida uma doença comum em plantações de laranja, conhecida como HLB ou greening, a mais destrutiva nos pomares brasileiros. A grande vantagem da técnica é identificar as plantas doentes antes que os sintomas apareçam. O HLB é uma doença sem cura causada por bactéria, com potencial de acabar com toda a plantação. Quanto antes o diagnóstico for feito, melhor.
O aparelho chamado Photon-Citrus é compacto e tem baixo custo de análise. Já passou pelas fases de pesquisa e estudos em laboratório, e os resultados animam os cerca de 30 pesquisadores envolvidos no projeto.
– Nós temos estudos em laboratório que mostram as taxas de acerto em torno de 90% em relação às três classes de folhas: sadias, sintomáticas e assintomáticas –, conta a pesquisadora da Embrapa Anielle Ranulfi, doutoranda em Física Aplicada na Universidade de São Paulo (USP). Ela está em Brasília apresentando o projeto no Pavilhão do Parque da Cidade, durante a 12ª edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que vai até este domingo, dia 25.
Atualmente o diagnóstico da doença é feito por meio de inspeção visual, a olho nu, porque a outra opção é um exame de DNA que tem custo inviável para os produtores.
– Uma equipe treinada pela própria fazenda caminha pelo pomar e busca os sintomas da doença nas plantas. Uma vez detectada a doença, o pé é erradicado para evitar que a bactéria seja transmitida para plantas sadias –, explica a pesquisadora.
Segundo ela, o principal problema dessa técnica é que quando a planta apresenta sintomas, a doença já está em uma fase avançada.
– A acurácia do método de inspeção visual é baixa, de 50% em relação às plantas sintomáticas. E a fase assintomática é muito longa, então por um longo período as plantas ficam no campo sem que o produtor saiba que ela está doente e transmitindo a bactéria para plantas sadias –, diz.
A transmissão da doença é feita por um inseto, que, após se alimentar na planta doente, pode conduzir a bactéria até uma planta sadia.
Equipamento
O aparelho usa uma técnica chamada espectroscopia de fluorescência. Segundo a pesquisadora, ele possui um LED que, ao incidir sobre a folha, excita alguns compostos que respondem também emitindo luz.
– Essa luz é captada e separada nos seus diferentes comprimentos de ondas no equipamento e, como resposta final, a gente tem o espectro de fluorescência –, afirma.
A técnica foi desenvolvida partindo do fato de que plantas sadias tem uma composição química diferente da de plantas doentes.
– A gente consegue fazer esse diagnóstico por meio das diferenças no perfil espectral obtido. Como a medição é simples e rápida, permite que os produtores testem todo o pomar, e eles podem até construir mapas de infestação da doença, por exemplo, para tratar as regiões com maior infestação de forma diferente, evitando o uso exagerado de agrotóxicos –, diz a cientista.
O protótipo está em fase final de testes na Embrapa, prevista para encerrar em 2016, e o pedido de patente pela invenção já teria sido feito.
– A Embrapa não pode produzir ou comercializar, então a nossa intenção é transferir essa tecnologia para uma empresa que esteja disposta a produzir o equipamento. A técnica agora está sendo estudada para outras culturas também –, diz Anielle Ranulfi.