Opinião

Meu sobrenome é Embrapa

O diretor de Conteúdo do Canal Rural, Giovani Ferreira, celebra o aniversário de 50 anos da Embrapa, um marco na história do agronegócio nacional e mundial que se reinventa como indutor e ferramenta para um novo ciclo, o da agricultura sustentável

De importador de alimentos na década de 1970 a exportador de proteína animal e vegetal na década de 1990. Tudo bem, provavelmente você já sabe disso, já deve ter ouvido algumas vezes. O que ainda não te contaram é que, depois dessa revolução verde, que garantiu a autossuficiência em termos de segurança e abastecimento alimentar, o momento agora é o da revolução sustentável da agricultura brasileira. Não vamos esquecer que nesse período o país também deu início a um processo contínuo de agroindustrialização, de transformação e agregação de valor ao produto primário.

Mas como isso aconteceu? Quem são os atores, personagens e protagonistas dessa história que posicionou o Brasil entre os maiores produtores e exportadores de alimento e energia do mundo?

Pode até parecer, mas não é retórica. Obviamente que é o produtor rural, desbravador, colonizador, aventureiro, em boa parte proveniente da região Sul, que desafiou quase o impossível no Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil. Isso, porém, não seria possível, plantar e colher, produzir grãos e carnes, em biomas diferentes, solo e clima distintos sem pesquisa, tecnologia e inovação.

É onde entra, como fato e fator determinante, acontecimento e iniciativa singular, a criação da Embrapa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, em 26 de abril de 1973. Um verdadeiro marco na história do agronegócio brasileiro e mundial.

A Embrapa abriu horizontes, definiu e estruturou a vocação natural do país, econômica e social. Estimulou a pesquisa, os pesquisadores, alimentou a esperança e renovou a crença dos produtores rurais, se tornou referência no planeta em agricultura tropical, motivo de orgulho do Brasil e dos brasileiros.

Uma trajetória baseada em evidências, sobre o caminho a ser percorrido, bem como do potencial a ser explorado. E estruturada na ciência, na pesquisa básica e aplicada, na fronteira do conhecimento. Mas principalmente em pessoas e propósitos.

Esses 50 anos foram construídos por um verdadeiro exército de pesquisadores, motivados por uma legião crescente de produtores e uma infinidade de demandas e desafios das inúmeras cadeias produtivas.

Como seria impossível tratar desse universo em único e simples artigo, me permitam usar dois grandes exemplos para ilustrar o significado e a relevância desse meio século de Embrapa, liderado pelas inúmeras unidades de pesquisa e milhares de colaboradores. A primeira referência que trago aqui é de um nome, o de Eliseu Alves, que em 1971 integrou o primeiro grupo técnico de trabalho que mais tarde daria origem à Embrapa. Na pesquisa propriamente dita, quero falar da soja, o grande ativo do agronegócio nacional.

Como presidente entre 1979 e 1985, a estratégia de gestão e pesquisa de Eliseu Alves foi decisiva na incorporação do Cerrado como uma nova e grande fronteira agrícola nacional. Em uma vida dedicada à pesquisa agropecuária, aos 92 anos Eliseu Roberto de Andrade Alves se desligou oficialmente da empresa que ajudou a fundar. A despedida foi em janeiro último, em uma reunião de gestores da estatal, onde ele vinha atuando como assessor especial da presidência.

Sobre a soja, evidenciar o trabalho conduzido pela unidade Embrapa Soja, em Londrina, norte do Paraná, fundada em 1975. Desde então, a soja brasileira não apenas ganhou o Brasil – cultivada de norte a sul, de leste a oeste – como o mundo. Com uma produção atual na casa das 150 milhões de toneladas, somos o maior produtor e o maior exportador de soja. Respondemos por 40% da produção mundial.

E não estamos falando só de soja. Mas de segurança e abastecimento alimentar, de emprego e renda, de divisas comerciais e soberania, de pesquisa como instrumento de transformação na vida de cada um de nós, esteja você no campo ou na cidade.

Enfim, muita coisa foi feita, mas muito há por fazer em busca de maior eficiência e competitividade, da autossuficiência plena e sustentável da agricultura brasileira. Não podemos esquecer, por exemplo, que para ser um dos maiores produtores do mundo ainda somos altamente dependentes de outros países de um insumo preponderante, que é o fertilizante.

De qualquer forma, é no presente e no futuro do agro nacional que aos 50 anos a Embrapa renova seu papel, de certa forma se reinventa como indutor e ferramenta para um novo ciclo, o da agricultura sustentável, ancorada em boas práticas e com a responsabilidade cada vez maior de alimentar não apenas o Brasil, mas o mundo.

Embrapa, muito obrigado!