Alta do dólar terá pouco impacto sobre o custo de produção da safra atual, diz analista da Agroconsult

Para André Pessoa, volatilidade do câmbio e das cotações das commodities deve permanecer nos próximos meses, podendo prejudicar o produtorA alta da moeda americana, que deve se consolidar em um patamar acima do registrado até o início deste mês, terá pouco impacto sobre o custo de produção da safra atual, uma vez que grande parte dos insumos já está comprada. No entanto, problemas localizados poderão ocorrer já que alguns produtores adquiriram defensivos para pagar em abril. A avaliação é do analista André Pessoa, sócio-diretor da Agroconsult. O especialista destaca ainda o efeito positivo da valorização do câmbio sobre a receita.

? A subida do dólar mais do que compensou a queda das cotações das commodities agrícolas ? disse.

O analista se mostra apreensivo em relação ao médio prazo em razão de um possível recuo da cotação do dólar entre a compra do insumo e a venda da produção. Pessoa acredita que a volatilidade, tanto do câmbio quanto das cotações das commodities, deve permanecer durante os próximos meses, o que é ruim para o agricultor.

Outro aspecto que deve ser acompanhado com atenção é o impacto da crise financeira internacional sobre a demanda. O analista observa que os fundamentos, que eram altistas, em razão dos baixos estoques, podem se reverter por conta de uma redução do nível de demanda agregada, principalmente nos países em desenvolvimento.

A China é motivo de preocupação, por causa do volume de compra de produtos brasileiros, como a soja e o algodão. As exportações brasileiras foram redirecionadas para a China, que terá crescimento neste ano de 9,5%, mas a tendência é sofrer uma desaceleração a partir de 2012.

? Inclusive incertezas relacionadas ao nível de crescimento da China que é um grande absorvedor dessa produção de produtos agrícolas, alimentícios. Em face de todos esses problemas, é bastante provável que a gente tenha um ciclo de baixa ? afirma o economista Roberto Piscitelli.

No entanto, com a recuperação do dólar, as exportações agrícolas estão valendo a pena, complementa o professor do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB), Pedro Henrique Zuchi.

Na opinião de analistas, o produtor rural deve ter cautela no planejamento das ações e definições dos investimentos para o próximo ano. A recomendação é de que os agricultores devem se preparar para trabalhar com níveis de preços mais baixos e menor rentabilidade na safra 2012/2013. André Pessoa não prevê margens negativas, pois as relações de troca se mantêm favoráveis, mas acha difícil que se repita a euforia provocada pelos bons níveis de preços registrados neste ano.

Instabilidade

Os preços de milho, trigo e soja se estabilizaram na última segunda, dia 3, após sofrerem forte recuo na sexta, dia 30, quando as commodities foram influenciadas pela publicação de um relatório das autoridades agrícolas americanas, que estimaram uma oferta mais elevada que o previsto.

No final da semana passada, após um período de sossego, o mercado de commodities voltou a refletir o cenário ruim da economia mundial. Os produtos agrícolas, tanto os negociados em Nova York quanto os em Chicago, tiveram forte recuo.

No dia 28, a soja, principal produto da pauta agrícola brasileira, recuou 3% na Bolsa de Chicago. O primeiro contrato caiu para US$ 12,23 por bushel (27,2 quilos), o menor valor nos últimos 10 meses. Com a queda, a soja já perdeu 13,5% do valor nos últimos 30 dias.

Essa queda é compensada, em parte, pela aceleração do dólar, que subiu 15,4% em relação ao real no mesmo período.