Agricultura

Custos de produção de grãos devem subir

Analista explica cenário para a rentabilidade do produtor rural

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta um novo recorde para a produção brasileira de grãos na safra 2022/23. De acordo com a entidade, o país dever produzir 312,4 milhões de toneladas. Com os custos de produção elevados e margens apertadas, no entanto, a rentabilidade do produtor rural deverá ser diretamente impactada. É o que projeta o consultor em agronegócios Carlos Cogo.

Sobre a relação de custos da nova safra, principalmente para as culturas de soja e milho (além do peso dos fertilizantes no bolso do agricultor), Cogo foi entrevistado pelo Canal Rural. Ele respondeu a perguntas relacionadas ao assunto durante participação da edição desta quinta-feira (13) do telejornal ‘Mercado & Companhia. Confira:

1 — Qual cenário é esperado para o produtor de soja? Ele pode ter uma queda na rentabilidade?

Vamos ter uma queda da rentabilidade bruta e na margem líquida. Viemos de duas safras com rentabilidade muito alta. Na região do Cerrado com rentabilidade bruta de 62% na soja na safra 20/21; na 21/22, 54%; agora, um horizonte de 26%.

A boa notícia é que, desde 2010, estamos com rentabilidade positiva para os produtores de soja de todas as regiões brasileiras. Há, sim, uma queda de rentabilidade, mas ela não está ligada à questão dos preços, que estão sustentados em patamar elevado, na faixa de US$ 13 ou US$ 14 dólares por bushel.

O problema foi o custo que cresceu 41% em reais, puxado pela alta de fertilizantes, que sempre pesou em torno de 15% do custo de produção. Neste ano, contudo, o peso foi de 32%.

2 — Para o milho, qual é o cenário?

A situação é similar [à da soja]. A gente vem de 2021 de rentabilidade bruta de 64%, e 60% nessa colheita de agora de 2022. Projetando para 2023: 43,6%, o que é uma margem muito boa.

O importante é a gente fazer a somatória da rentabilidade, que indica uma renda efetiva para o produtor de soja que faz a segunda safra de milho, de US$ 1,2 mil por hectare. Comparando com produtor norte-americano, ele está com projeção de US$ 63,00 dólares por hectare, sendo 50% soja e 50% milho.

carlos cogo - grãos
O consultor Carlos Cogo | Foto: Canal Rural/reprodução

3 — Em relação ao custo de produção, ainda vamos ver uma alta para os fertilizantes e isso impactando na safra?

Os fertilizantes já estão numa curva de queda. O dihidrogenofosfato de amônio já caiu 21%, com as máximas sendo em abril deste ano. O cloreto de potássio já caiu 49% em relação ao valor máximo alcançado, o superfosfato triplo caiu 17%. A ureia caiu 17%, mas ela está oscilando ainda.

E é aí, na ureia, que está a preocupação, pois os produtores da segunda safra de milho ainda estão em fase de decisão de compra. Estão prorrogando essa aquisição, pois o produto está num sobe e desce. E isso se deve da função de várias fábricas na Europa em decorrência do gás natural, que é um insumo para as indústrias de fertilizantes que reduziram a produção de amônia e de nitrogenados.

4 — O que esperar dos preços dos grãos a partir de agora?

Os preços dos grãos estão situados em patamares muito acima da média. A soja, por exemplo, com preço médio de US$ 13,50, US$ 14,00 por bushel, sendo que a média histórica é de US$ 11,00. O milho está numa banda de US$ 6,30 a US$ 7,00 por bushel para os vencimentos de 2023, sendo que a média história é de US$ 4,56.

O mercado vai colocar agora os olhos sobre o clima da América do Sul, que será decisivo. O clima da América do Sul consegue colaborar com tudo que ela necessita para formar uma oferta global suficiente para atender a demanda? Lembrando que a gente está vindo de um relatório do USDA, que ampliou as quebras das safras de soja e de milho dos Estados Unidos. Toda a carga está nas costas do Brasil e dos outros países da América do Sul para os preços dos grãos se sustentarem.

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