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Prejuízo no campo com estiagem chega a R$ 12 bi no Paraná, diz Deral

A quebra na produção de milho no Paraná foi de 58% na segunda safra em relação ao mesmo período da cultura no ano passado

As perdas nas lavouras de milho aconteceram em praticamente todas as regiões do Paraná. Foto: Jonas Oliveira/AEN

Pior estiagem registrada em 50 anos, a crise hídrica que atinge o Paraná há mais de um ano já provocou um prejuízo de R$ 12 bilhões apenas na cultura do milho, de acordo com o Departamento de Economia Rural da Secretaria do Estado da Agricultura (Deral).

Ao vez das 14,6 milhões de toneladas de milho previstas inicialmente, as lavouras do estado devem colher em torno de 6,1 milhões de toneladas.

Para estimar o prejuízo, técnicos do Deral pegaram o volume perdido — 8,5 milhões de toneladas –, dividiram por sacas de 60 kg e converteram o resultado no valor aproximado do cereal no mercado internacional. O prejuízo é assustado. E não é para menos, é a menor colheita de milho safrinha da última década no estado.

De acordo com o chefe do Deral, Salatiel Turra, a estiagem não foi o único fator responsável pela quebra de 58% na produção do milho segunda safra. “Nós também tivemos outros fatores, como pragas e fortes geadas em um período muito crítico para a cultura”, explica. Mas Turra afirma que a estiagem é o principal resultado do baixo desempenho das lavouras.

Estiagem

No começo de agosto, o governo do Paraná editou o quarto decreto de emergência hídrica no Paraná, em sequência, reconhecendo a gravidade da estiagem e que prioriza o uso da água para abastecimento humano e dessedentação animal.

Segundo dados do estado, apenas em julho, houve 1.505 focos de queimadas no Paraná, 125% a mais que no mesmo mês do ano passado, quando 669 ocorrências foram confirmadas. Nos primeiros dias de agosto, as ocorrências mais do que dobraram, passando de 674 registros entre os dias 1.º e 8 de agosto, contra 329 no mesmo período de 2020.

O alerta de risco alto de incêndio continua vermelho na maior parte do estado, conforme mapa divulgado no fim de semana pelo Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar). “Esse cenário só muda com a ocorrência de chuvas mais volumosas no estado. Embora esse período seja historicamente mais seco, também temos o agravante de uma crise hídrica que perdura há mais de um ano”, afirma o coordenador de Operação do Simepar, meteorologista Marco Jusevicius.

Maior produtor de feijão no país, o Paraná também viu diminuir em 48% a colheita das duas primeiras safras do grão deste ano. Das 539 mil toneladas esperadas, foram colhidas 282 mil toneladas.

Consequências

O milho é a principal componente da ração de aves e suínos. O Paraná, atualmente, é o maior produtor e exportador nacional de frango; e o segundo maior de produtor e exportador de suínos.

Segundo o chefe do Deral, a quebra na segunda safra do cereal farão os produtores importar o grão, causando impacto no preço dos alimentos para o consumidor final.

Flávio Turra, gerente de desenvolvimento técnico do Sistema Ocepar, disse, em uma entrevista para a Federação da Agricultura do Paraná (Faep), que o Paraná consome de 12 a 13 milhões de toneladas do cereal para abastecer as cadeias de proteínas animais. Somando a primeira safra (3,1 milhões de toneladas) com a safrinha (6 milhões de toneladas), o Paraná produzirá em 2020/21, 9 milhões de toneladas. “Como se esperava que o Paraná fosse produzir 17,5 milhões, em tese sobrariam cerca de 5 milhões de toneladas. Agora, estamos com déficit de mais ou menos 4 milhões de toneladas”, estima Turra.

De acordo com levantamento do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema Faep/Senar-PR, de janeiro a julho de 2021, o Paraná já importou 670 mil toneladas de milho, o que representa um aumento de 157% em relação ao mesmo período do ano passado (260 mil toneladas). Isso pagando 39% a mais por tonelada (média de US$ 204,71 em 2021 contra US$147,33 em 2020).

Outra preocupação com a quebra da segunda safra, diz o chefe do Deral, é com o início da janela de plantio de soja, na segunda semana de setembro. “Os produtores da região oeste do estado começam mais cedo a semeadura, justamente para adiantarem o plantio de uma segunda safra. Com o clima seco, o a semeadura pode atrasar de novo e podemos ter consequências graves na cultura do milho no ano que vem também”, explica.