Em oito anos, Brasil passou da austeridade fiscal ao crescimento com redistribuição de renda

Criação de empregos também foi considerada recorde pelo governo. Em 2002, foram gerados 961 mil postos de trabalho. Para este ano, a estimativa é de 2,2 milhõesDe uma economia em crise, com pouco crescimento e inflação em ascensão, para o maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em mais de duas décadas, com desemprego em queda e reconhecimento internacional. A política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em oito anos de governo, foi marcada pela busca do crescimento com distribuição de renda.

A atuação do governo Lula na área econômica pode ser dividida em duas fases: a austeridade fiscal durante a gestão de Antonio Palocci no Ministério da Fazenda, de 2003 a 2006, e o crescimento com reconhecimento internacional da administração Guido Mantega na pasta, que começou há quatro anos e continuará no governo da presidenta eleita Dilma Rousseff.

Com a necessidade de reorganizar a economia após o processo eleitoral de 2002, Lula iniciou o mandato por meio de um forte aumento de juros, que combinado com um ajuste fiscal mais rigoroso, resultou num crescimento do PIB de 0,5% em 2003. Inicialmente tinha sido divulgada queda de 0,2%, mas os números foram revisados posteriormente.

Em 2010, o presidente Lula termina o governo com um crescimento estimado da economia de pelo menos 7,5%. A média de crescimento até 2008, ano mais forte da crise econômica, chegou a 4,2% e entre 2010 e 2014 a expectativa para o crescimento médio está em torno de 6%, de acordo com estimativas do Ministério da Fazenda. Somente em 2009, por causa da crise econômica mundial, o PIB caiu.

A demanda interna que era de 0.2% no início do governo deve alcançar, em 2010, 10,3%. Quanto à demanda externa, que em 2002 era de 0,2%, tudo indica que deverá ficar negativa em 2,8%, com o Brasil exportando menos em consequência, ainda, da crise financeira internacional.

Contidos no primeiro mandato de Lula, os investimentos deslancharam na segunda metade do governo. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que em 2002 representava -7,8% do Produto Interno Bruto (PIB), deve fechar 2010 em 19,1% na mesma comparação, de acordo com o Ministério da Fazenda. Os destaques são os investimentos da Petrobras, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A alta dos investimentos e do consumo impulsionou a indústria. Exceto em 2009, quando o Brasil ainda sentia os efeitos da crise, e 2003, o setor teve forte expansão. De 2,75% em 2002, a indústria deve encerrar 2010 com 8,5% de crescimento. O reconhecimento internacional dessa política veio em 2008, quando o Brasil recebeu o grau de investimento, certificação das agências de risco de que o país não dará calote na dívida pública.

O maior crescimento econômico também se refletiu em maior riqueza por brasileiro. O PIB per capita, que um ano após o início do governo era de R$ 13.931, fechou 2009 em R$ 16.414 e a estimativa do Ministério da Fazenda é que chegue a R$ 17.500 em 2011, em torno de US$ 10 mil. Os efeitos do aquecimento da economia, no entanto, não se concentraram na parcela mais rica da população e beneficiaram as camadas mais pobres da sociedade, motivada pela política de valorização real do salário mínimo e pelos benefícios sociais com o Programa Bolsa Família.

Entre 2002 até 2010 mais de 75 milhões de brasileiros foram incluídos na classe C e a desigualdade de renda pelo índice Gini caiu de 0,58% para 0,54% em 2009, com dados na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Em consequência, houve redução da pobreza em 45%. Enquanto, o percentual de pobres em 2002 chegava a 26,7%, em 2009 caiu para 15,3% da população.

A criação de empregos também foi considerada recorde pelo governo. Em 2002, foram gerados 961 mil postos de trabalho. Para este ano, a estimativa do Ministério da Fazenda é de 2,2 milhões. Em novembro, a taxa de desemprego, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atingiu 5,7%, o menor nível da história.

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 12,5% para 5,85% (estimativa do boletim Focus do Banco Central, em 14 de dezembro). A meta a partir de 2006 foi definida em 4,5%, podendo variar dois pontos percentuais para cima ou para baixo.