Painel discute responsabilidade da agropecuária na emissão de gases de efeito estufa

Realizado pela Embrapa e Sindicato Rural de Dourados, o tema foi debatido não somente pelo setor agrícola; confira entrevista com pesquisadorPromover o debate, trocar informações e conhecimentos, diminuir as dúvidas Esses foram alguns dos objetivos do Painel "Contribuições da Embrapa para a sustentabilidade agropecuária", realizado pelo Sindicato Rural e Embrapa.

O evento aconteceu  no dia 27 de maio, na 50ª Expoagro, em Dourados, MS. No Painel, foram realizadas duas palestras: a primeira sobre os gases de efeito estufa e a segunda sobre o comportamento ambiental dos agrotóxicos.

A seguir, entrevista com a primeira palestrante do evento, a pesquisadora Michely Tomazi, da Embrapa Agropecuária Oeste, sobre os gases de efeito estufa e a agropecuária.

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Como as organizações internacionais têm pressionado o Brasil sobre a emissão de gases  de efeito estufa (GEE) sobre a agricultura brasileira?

A preocupação com as emissões de GEE tem repercutido por toda população mundial, pois não é um problema isolado, e direta ou indiretamente atinge a todos. No caso do Brasil, um país que tem maior parte do PIB proveniente das atividades agropecuárias e boa parte da indústria também está relacionada a este setor. Sempre que o país for cobrado em relação às emissões, o setor que tem maior contribuição é o que se torna o alvo principal, e hoje é agropecuária.

No âmbito do mercado internacional, nós temos grande parte da economia baseada nas exportações e, por outro lado, temos o consumidor cada vez mais exigente, portanto, precisamos ter bem documentado a contribuição dos setores da nossa economia na emissão de GEE bem como as estratégias que o país vem buscando para mitigar as emissões.

 E o que têm sido mostrado a estas organizações sobre as ações do Brasil?

O governo federal possui o “Plano Nacional de Mudanças Climáticas” no qual se comprometeu a reduzir entre 36% e 39% as emissões de gases causadores do efeito estufa em relação as previsões de 2020. Essa meta foi a mais otimista entre os BRICs, e desde 2008 já tem demonstrado forte ação na redução das queimadas, o que tem contribuído muito para atingir essa meta. No setor agrícola, o país tem buscado formas de incentivar os agricultores com sistema de produção que contribuição para uma agricultura com baixa emissão de carbono, como o Programa ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), bem como na identificação de sistemas com potencial de mitigação.

Quais pesquisas estão sendo desenvolvidas em rede nacional pela Embrapa sobre o assunto?

A Embrapa tem hoje um portfólio de projetos sobre mudanças climáticas, sendo três projetos executados nacionalmente e outros regionalmente sobre emissões de gases de efeito estufa. O Estado de Mato Grosso do Sul está inserido nestes projetos, que juntos buscam disponibilizar ao País dados sobre a contribuição dos sistemas de produção adotados na agropecuária, incluindo o setor de floresta plantada, na emissão ou mitigação de GEE. O objetivo é avaliar as emissões dos sistemas mais utilizados pelos agricultores, comuns a cada região do País, como também identificação do potencial de sistemas com alta produtividade que possam ao mesmo tempo contribuir para mitigar as emissões.

Quais são as práticas de manejo que contribuem para a redução da emissão de gases?

São várias as práticas de manejo que podem contribuir, podemos citar algumas como a correção da fertilidade dos solos, plantio direto, rotação de culturas agrícolas com pastagens, uso de fixação biológica, colheita mecanizada da cana, etc.

Uma das preocupações para a sustentabilidade é a área econômica. Com essas alternativas para reduzir emissão de gases, ainda assim o produtor consegue manter a produtividade?

Esse é um questionamento constante dos produtores. No geral, as práticas que contribuem para reduzir as emissões também contribuem para uma melhoria do sistema de produção. Como já foi dito anteriormente, todas as práticas do programa ABC, por exemplo, além de contribuir para uma agricultura com baixa emissão de carbono também são práticas que levam ao aumento da produtividade.

Como o produtor pode ter acesso a essas alternativas?

Não são práticas difíceis de serem executadas, depende apenas do produtor entender o sistema de produção e buscar apoio dos técnicos para assistência. Já existem inclusive vários produtores que têm excelentes exemplos de uso destas alternativas, que buscaram a informação e implantaram melhorias gradativas na propriedade. Não existe uma receita única, um pacote pronto, cada um precisa adequar sua propriedade para inclusão das novas tecnologias, gradativamente, de acordo com a capacidade de cada um. Além disso, tem o incentivo do governo com financiamentos para adequação das propriedades.