Preocupação dos sojicultores goianos vai além da falta de chuvas

Mesmo com o fim do vazio sanitário no dia 30 de setembro, produtores do estado devem aguardar chuvas para iniciar a semeadura. Funrural e rentabilidade são entraves para a safra

Os produtores de soja de Goiás estão com muitas preocupações antes mesmo de iniciar a safra 2017/2018. Entre elas, clima, rentabilidade e a cobrança do Funrural, garante a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO).

Assim como aconteceu em outros estados, algumas chuvas até chegaram, mas não na quantidade necessária para recuperar a umidade de solo necessária para o início da semeadura, que estaria autorizada no dia 30 de setembro, após o fim do vazio sanitário no estado. Precipitações mais consistentes só devem ocorrer mesmo a partir do dia 20 de outubro, quando as chuvas devem se estabilizar.

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“Estas previsões colocam em alerta principalmente os produtores do Sudoeste, onde se iniciam os cultivos em Goiás. Uma redução das chuvas no meio de outubro pode gerar replantio dessas áreas cultivadas no início do mês”, afirma o consultor técnico da Aprosoja-GO, Cristiano Palavro.

Estimativas do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária Goiana (IFAG) apontam que a área de soja a ser plantada no Estado deve passar de 3,350 milhões de hectares, pequeno crescimento em relação à safra 2016/2017. Com a produtividade esperada de 52,5 por hectare, a colheita goiana em 2017/2018 vai render em torno de 10,552 milhões de toneladas da oleaginosa.

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Rentabilidade

Embora os custos de produção da soja tenham apresentado ligeira baixa também em Goiás (Paraná e Mato Grosso confirmaram redução nos custos), a expectativa é de uma rentabilidade apertada em função dos menores preços de venda. Um levantamento do IFAG constatou redução de 7% no preço de fertilizantes e 5% no de defensivos, que, juntos, representam 40,5% dos custos operacionais da soja. De acordo com Palavro, essa queda gerou uma economia de 8,4% nos desembolsos para o plantio das cultivares RR e de 6,5% para as RR2.

Entretanto, no lado da comercialização, as cotações médias da soja nos meses que antecedem o plantio (agosto/setembro) estão 20,9% menores este ano em comparação a igual período de 2016. Segundo o consultor técnico da Aprosoja-GO, tais números demonstram uma grande possibilidade de continuação do cenário de mínima rentabilidade da sojicultura goiana.

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“O momento é de cautela, o produtor deve ter atenção. Os custos da atividade continuam altos e persistem os antigos gargalos na logística e no armazenamento”, lembra o presidente da Aprosoja-GO, Bartolomeu Braz Pereira. “Ainda com o dólar nesse patamar (inferior a R$ 3,20) e as cotações baixas em Chicago, nossa competitividade e rentabilidade com a soja ficam comprometidas”, destaca.

Segundo Palavro, a larga oferta proveniente de safras cheias nos maiores países produtores (Estados Unidos, Brasil e Argentina) têm pressionado as cotações na Bolsa de Chicago, mesmo com a demanda chinesa aquecida. “Isso reforça a necessidade de uma boa gestão da comercialização”, completa, recomendando atenção às oportunidades de negócios que podem surgir com o avanço da safra sul-americana e a colheita da oleaginosa iniciada nos EUA.

Até o momento, calcula o IFAG, apenas 16% da soja que será cultivada em Goiás foi comercializada por meio de contratos futuros ou barter (troca de insumos por grãos). Esse percentual é inferior aos 30% negociados no pré-plantio de anos anteriores. Ainda de acordo com o instituto, restam vender 13% da soja e 40% do milho segunda safra produzidos na temporada 2016/2017.

Foto: Laura de Paula/Aprosoja-GO

Funrural

As indefinições em torno da constitucionalidade do Funrural (Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural), votada pelo STF, e de sua cobrança retroativa e futura também têm preocupado o produtor. A safra começa com muitas possibilidades em discussão, como as alterações na Medida Provisória 793/2017, que trata do refinanciamento do passivo e teve o prazo de adesão prorrogado para 30 de novembro; a validação do PRS 13/2017 (extinção do Funrural); e a solicitação de embargos e da modulação da decisão do STF, que publicou o acórdão sobre a votação do Funrural esta semana.

“A Aprosoja-GO está trabalhando para que o PRS seja validado e defendemos que a cobrança futura seja opcional sobre a folha de pagamentos dos empregados ou sobre a comercialização bruta”, informa o presidente Bartolomeu. “Mas se a Justiça não entender de vez o quanto o atual modelo do Funrural prejudica o setor e tivemos que recolher esse imposto sobre nossas vendas, a rentabilidade da soja vai ficar ainda mais achatada.”

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