Diversos

'O homem do campo, ao contrário do urbano, dá chance para a fauna', diz biólogo

Defensor da preservação das onças-pintadas diz que os ataques aos produtores rurais são feitos, geralmente, por quem não conhece a realidade do campo

Leandro Silveira ao lado de uma onça
Foto: divulgação

O biólogo e defensor da preservação da onça-pintada no Brasil, Leandro Silveira, divulgou um vídeo nesta semana em suas redes sociais falando da relação dos animais silvestres com os seres humanos e ressaltou que o homem do campo tem um papel importante na preservação da fauna brasileira.

O vídeo, de cerca de 7 minutos, surgiu após ele questionar os seus seguidores o que eles fariam caso uma onça atacasse um de seus cães. Algo que ocorreu com um produtor rural que é seu vizinho.

“Isso mostra o quanto a gente diverge de um assunto onde há um conflito claro. Eu gostaria de dizer nós estamos invadindo o ambiente dela (onça), mas sabemos que quem está no campo está conciliando o ambiente do animal silvestre com o nosso e está dando a chance para a onça e suas presas sobreviverem. Ao contrário do que ocorre com a ocupação urbana, onde não há nenhuma chance de sobrevivência dessa onça”, disse em um trecho.

“Cerca de 85% da população brasileira hoje é urbana e essa população urbana fantasia uma convivência ideal, perfeita, sendo que ela não participa dela. Ou seja, ela delega alguma coisa para os outros fazerem”, continua.

Segundo ele, é um erro para os urbanos traçarem metas de convivência em um ambiente onde eles não estão inseridos. “Isso gera propostas que parecem muito simples, como cercar a propriedade. Nós temos mais de 5 milhões de propriedades rurais no Brasil e 85% delas são de pequenos produtores, ou seja, só 15% das propriedades são de escala empresarial. Tem muita gente que não tem condição de cercar nada. E outro ponto que poucos entendem é que , até ocorrer algo, a maioria não vê necessidade para colocar um alambrado ou algo do tipo e a ampla maioria nem tem condição financeira para fazer esse investimento”, diz.

Segundo ele, é fundamental que os produtores rurais arrumem formas de diminuir os prejuízos, mas nem todos conseguem fazer isso. “Se vocês querem participar de uma discussão sobre meio ambiente, eu volto a reforçar: tem que ser coerente e ter informação pertinente. Se você não vive a realidade da perda, do conflito,  é difícil pra você opinar e às vezes as propostas são simplórias e ingênuas”, continuou.

Produtor rural e a vocação para a preservação

Com mais de 30 anos de experiência na preservação de onça-pintada no Brasil, Leandro Silveira conta que há muita divergência sobre o papel do homem rural na preservação do meio ambiente, mas pelo que ele acompanha, os produtores estão dando uma chance de sobrevivência para os animais nativos.

“Sempre dizem que os produtores chegaram depois. É fato, mas é preciso fazer uma reflexão: o cara do campo chegou por último, quem chegou primeiro foi o pessoal da cidade, que asfaltou tudo e não deu a menor chance para a fauna. O homem do campo dá essa chance. Quem mais exige e cobra, agindo de forma extremamente arrogante e ríspida é quem vive na cidade. É preciso tomar um cuidado para não criar um cenário de injustiça ambiental, onde eu cobro muito o que fazer e eu não faço nada”, ressaltou.

O biólogo explicou ainda que existe uma diferenciação do ambientalismo passional, geralmente praticado por quem ataca, e o ambientalismo funcional, de quem coloca ‘a mão na massa’. “Se você é só um ambientalista passional, precisa tomar cuidado como você fala sobre quem está aplicando o ambientalismo funcional, pois há um custo social, econômico. Eu trabalho com isso há mais de 30 anos e nunca foi unanimidade o que fazer. E quanto mais as pessoas se distanciam da realidade, menos ela sabe o que fazer”, disse.

Para ele, o homem do campo  muitas vezes faz um trabalho honesto e dentro da legalidade, mas a ‘vida real’ é cheia de conflitos. “Há uma falha da nossa sociedade em não assumir esse conflito e não compensar quem merece a compensação. E a compensação vem desde incentivos, monetária mesmo, ou na forma de ajuda para executar planos para reduzir esse prejuízo”, concluiu.

  • Confira, abaixo, o vídeo onde o biólogo relata o caso de ataque de onça na fazenda vizinha:

“A onça ataca não apenas os bois. Ataca também os animais domésticos, e isso gera um custo emocional e não é fácil”