Produtores rurais tentam combater imagem de desmatadores

Uma das intenções é passar ao mercado internacional a mensagem de que a economia brasileira cresce sem agredir o meio ambientePreocupados com o que chamam de "percepção distorcida" do agronegócio, os produtores rurais querem conquistar agora a opinião pública para vencer a segunda etapa da votação do novo Código Florestal, desta vez no Senado.

A vitória esmagadora na Câmara dos Deputados – por 410 votos a favor e 63 contra – deu confiança ao setor de que os senadores farão apenas mudanças pontuais, desencorajando assim um possível veto da presidente Dilma Rousseff.

Surpreendidos com uma manifestação do Greenpeace no hotel onde foi realizado o 21º Fórum da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), na região central de São Paulo, os produtores rurais reunidos para discutir o novo Código Florestal chegaram à conclusão de que há desinformação generalizada sobre o projeto e uma campanha contra o setor.

? Essa pecha (de desmatador) precisa sumir, não podemos ficar com esse débito pendurado na nossa frente. Somos pesados exportadores de commodities, isso não pode ficar desta forma ? defendeu o presidente da Abag, Carlo Lovatelli.

Embora tenham obtido maioria na Câmara dos Deputados, os produtores rurais querem agora investir numa conscientização dos consumidores brasileiros sobre a importância do agronegócio e passar ao mercado internacional a mensagem de que a economia brasileira cresce sem agredir o meio ambiente.

No encontro, os produtores atribuíram a má imagem do setor a episódios isolados de desmatamento, como o aumento da derrubada ocorrido recentemente em Mato Grosso.

? Aí vem uma meia dúzia fazer especulação, aproveitar uma situação pontual e fazer desandar a imagem do agronegócio. Isso resulta em manifestações como esta, que eu faria da mesma forma se estivesse no lugar dos moços que estavam lá em cima ? disse Lovatelli, referindo-se aos manifestantes do Greenpeace. Temos de trabalhar direito e fazer o que é certo ? afirmou.

Convidado para o evento, o deputado federal Duarte Nogueira (PSDB-SP) fez coro ao relator do projeto, deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que na semana passada criticou a interferência de ex-ministros do Meio Ambiente junto ao Palácio do Planalto.

Segundo o tucano, os ex-ministros entraram no debate “aos 45 minutos do segundo tempo”, passando à sociedade uma imagem de que os deputados estavam prontos para aprovar uma “atrocidade” contra o meio ambiente.

? A sensação é de luta entre Davi e Golias. O Golias seríamos nós e eles, o Davi ? comparou.

O deputado recomendou que os produtores organizem campanhas de esclarecimento da sociedade urbana, pouco acostumada com as questões do campo, como forma de rebater as organizações ambientalistas.

? Vamos ter de fazer um intenso processo de comunicação, dizer que não há nenhuma atrocidade. Ninguém está falando em acabar com a nossa floresta ? reforçou.

Os produtores rurais negam que a anistia promovida pelo novo Código Florestal incentive o desmatamento e acreditam que é preciso distinguir desmatadores de agricultores.

? Acho que (o desmatador) é realmente gente à margem da sociedade, tem de ser castigado para servir como modelo ? comentou Lovatelli.

A entidade acredita que o projeto receberá poucos ajustes no Senado.

? Temos certeza de que vai ser aprovado. Pode haver algum ajuste, mas tem de ser aprovado. Não podemos continuar nessa situação de insegurança jurídica ? disse Lovatelli.

Para os produtores, a presidente Dilma não terá força para vetar um projeto amplamente aprovado pelo Congresso.

? A aprovação foi tão forte que politicamente não seria conveniente a presidente vetar ? falou o presidente da Abag.