O plantio da soja em Mato Grosso está em ritmo acelerado. No entanto, a alta nos custos de produção faz com que os produtores adotem cautela na comercialização antecipada do grão.
Em uma fazenda no município de Nobres, interior do estado, duas plantadeiras já estão a todo vapor e uma terceira segue em fase final de manutenção. Por lá, a chegada antecipada da chuva também adiantou a semeadura da oleaginosa. Assim, o cultivo dos 4,1 mil hectares começou uma semana antes do previsto.
“[A chuva] nos pegou meio desprevenidos. Veio mais cedo e com mais regularidade, então já temos um volume de água [no solo] acumulado maior, o que nos dá mais segurança para começar o plantio. Hoje em dia a agricultura é muito técnica, então não podemos perder o momento porque, se não, “, conta o agrônomo Clóvis André Girhardt.
Expectativa de produtividade de soja
Com o cenário atual, a expectativa é que o clima mais favorável beneficie os números da lavoura. “A nossa expectativa de produtividade esse ano é acima de 65 sacos de média. É a mesma [perspectiva] do ano passado, só que, como foi um ano difícil de colheita, nós não conseguimos alcançar essa média, então vamos tentar buscar ela novamente”, declara.
O profissional diz esperar que a umidade do solo ajude a planta a ter mais vigor. “As previsões indicam chuvas acima da média nestes primeiros meses, sendo que, geralmente, são meses mais secos. Na virada do ano a tendência também é de um volume maior de chuvas. As máquinas já trabalham praticamente em período integral e esperamos terminar o plantio o mais rápido possível, de preferência ainda no mês de outubro”, conta Girhardt.
Rentabilidade mais apertada
A expectativa de uma margem menor por conta dos custos elevados deixa o setor produtivo apreensivo e a estratégia adotada por alguns agricultores para garantir uma safra rentável é a cautela na comercialização.
O agricultor Wagner Scharf conta que, por enquanto, comercializou apenas os custos, em torno de 45% a 50% da produção. Para o restante, ele vai aguardar um preço melhor. “Especular mercado, não resta mais o que fazer. Com o mercado em baixa, o negócio não é bom.”
Ele deve cultivar 1.380 hectares de soja nesta safra. para ele, o elevado custo de produção, puxado principalmente pelos fertilizantes, é o principal motivo para a lentidão das vendas antecipadas do grão. Para efeito de comparação, a safra 22/23 em Mato Grosso está com 26,67% vendida até o início de outubro. O volume é inferior à média histórica, de 38,41%, bem como do mesmo período da temporada passada (39,50%), conforme o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Diminuindo a adubação
O produtor conta que optou por reduzir a aplicação de fertilizantes nesta safra. “Nós tiramos um pouco o ‘pé’ da adubação e, mesmo assim, teve um acréscimo em custo [de produção] por hectare de 7 sacas a mais. […] No ano passado a gente teve uma adubação acima da média e acabamos acertando, e esse ano conseguimos tirar um pouco o ‘pé’. Agora, se fosse colocar o mesmo adubo que foi colocado no ano passado, o custo subiria em torno de 12 sacas. Não podemos baixar de [produzir] 55 sacos de soja, abaixo disso estamos pagando para trabalhar”, detalha.
Ainda mais cauteloso, o agricultor Paulo Miguel Zarpellon aproveitou a umidade do colo para inciar o plantio, mas não vendeu nenhuma saca da produção que espera colher nos 1.145 hectares que vai semear com soja em 22/23.
“O preço ainda não está dando uma conta boa. Vamos esperar mais alguns dias para ver o que vai acontecer. Não sei o que vai ‘virar’ esse mercado. Esperar para ver se dá uma animada para travarmos os custos. Não podemos errar nesta safra, temos que fazer de tudo para acertar. Tudo subiu: óleo diesel, insumos, e a soja agora baixou o preço. Vamos ver se daqui para frente ela da uma reagida nos preços. Temos que produzir bem e torcer para que o tempo colabore, que continue chovendo bem e dê tudo certo”, explica.