Um aumento de 3,6% de área plantada de soja em comparação com a safra 2020/2021. É o que prevê a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para 2021/2022. Isso significa 39,91 milhões de hectares ocupados pela oleaginosa no próximo ano. No entanto, na visão da entidade, os números podiam ser ainda maiores.
A Companhia destacou que levou em conta perspectivas conservadoras para estimar a próxima safra. Prova disso é a disparidade na previsão de produção feita por ela e os números divulgados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) para o Brasil.
Enquanto a agência nacional espera produção de 141,26 milhões de toneladas, o órgão norte-americano prevê que o país conseguirá colher acima de 144 milhões de toneladas. Mas para que as expectativas mais otimistas se concretizem, um fator é primordial: a conquista de novas áreas. E isso é motivo de preocupação entre especialistas.
Em live apresentada pela Conab nesta quinta-feira, 2, o analista de Mercado da instituição, Leonardo Amazonas, relatou que está difícil comprar boas áreas no Rio Grande do Sul e Paraná. “Em Mato Grosso ainda existem áreas de pastagens, mas muito degradadas. Apenas em Mato Grosso do Sul a expansão será maior do que nesses outros estados porque ainda há oferta por lá”, afirma.
Já o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Mauro Osaki, vê ainda mais complexidade nesse cenário. “Os preços elevados e a alta rentabilidade alcançada por produtores tradicionais da soja atraem agricultores que não pertencem à cadeia produtiva desse grão. Muitas dessas pessoas pensam que podem ganhar rios de dinheiro logo na primeira safra, mas é óbvio que não é assim que as coisas funcionam”, pondera.
Expansão da cultura da soja
Segundo Osaki, essa realidade e também parte dessa ilusão faz com que regiões sem a vocação de plantio de soja comecem a ter novos espaços abertos para essa cultura. “Já é possível observar regiões mais próximas do litoral do Nordeste abrindo áreas para a semeadura, assim como em certas áreas do Pará, além de outras regiões ao sul da fronteira do país que antes eram quase que exclusivas do arroz”, conta.
Desta forma, o país começa a se concentrar na expansão do plantio da oleaginosa por meio de áreas antigamente voltadas à pastagem e passa a arrendar cada vez mais terras. Aliás, sobre o arrendamento, ele foi o maior vilão do aumento dos valores de produção em Mato Grosso, com alta de 63,3% entre julho deste ano e igual período de 2020, de acordo com levantamento do Instituto Mato-Grossense de Economia Aplicada (Imea). “Também é possível observar cooperativas de soja expandindo atuações em áreas de pastagem”, afirma o pesquisador.
Outra forma de expansão da soja tem sido sobre outras culturas, como a do milho. Porém, quanto a isso, o analista da Conab, Leonardo Amazonas, disse durante a live não acreditar que exista competição significativa entre os grãos. “Em conversas com especialistas do Departamento de Economia Rural (Deral), me disseram que há uma expansão de ambas as culturas, mas que elas não devem se afetar”, considera.
Por outro lado, Osaki, do Cepea, aponta que Santa Catarina, estado com tradição em cultivo de milho na primeira safra está reduzindo áreas do grão para cobri-la com a soja. “Ainda assim, um produtor que consegue uma boa produtividade de milho, em torno de 12 a 14 toneladas por hectare, tem basicamente a mesma rentabilidade da soja”, calcula.