Se o produtor não está vendendo a soja por achar que o valor não compensa, imagine entrar em 2018 com 400% a mais do grão ainda armazenado e a possibilidade de aumento de área
Daniel Popov, de São Paulo
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) revisou a sua projeção para a produção de soja em 2016/2017 para cima. Agora, a entidade prevê que a produção total de soja superará a casa das 112 milhões de toneladas. Uma boa notícia é que as exportações podem bater recorde também. Entretanto isso não impedirá uma complicação para o próximo ano: os estoques de passagem da oleaginosa podem superar as 11 milhões de toneladas, o maior da história.
Há algum tempo, desde que as projeções para a produção recorde do Brasil começaram a se confirmar uma preocupação rondava o setor. O que fazer com tanta soja? Sabendo que o consumo interno da oleaginosa segue estagnada em 41 milhões de toneladas, a saída para todos estes grãos seria o mercado externo. Com base nestes dados, uma estimativa realizada pelo analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado apontou que seria necessário vender ao exterior pelo menos 61 milhões de toneladas de soja, algo inédito para o Brasil.
O maior volume embarcado do Brasil até hoje, não ultrapassou as 55 milhões de toneladas, na temporada 2014/2015. Ao que parece estes números não estão tão distantes quanto parecia. Segundo a projeção da Abiove a tendência é que o Brasil exporte 61,7 milhões de toneladas neste ano, alta de mais de 16% ante o ano passado.
Mas, vale ressaltar que, ainda assim, o Brasil fecharia o ano de 2017 com o maior estoque de passagem de todos os tempos, algo em torno de 11,2 milhões de toneladas, 409% a mais que os 2,2 milhões de 2016. Um dos maiores estoques de passagem da história brasileira aconteceu na temporada 2008/2009, com 3,1 milhões de toneladas. Na época, ao entrar com tamanho estoque, aliado a crise internacional, os preços da soja caíram muito.
Ainda é cedo, mas se analisarmos o último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), sobre a safra 2017/2018, tanto Brasil, quanto Estados Unidos (dois principais produtores da oleaginosa do mundo), irão manter a produção como neste ano. Com isso, por mais que a China amplie suas compras, a oferta mundial do grão será muito elevada.
Subprodutos
Farelo – A Abiove continua a projetar uma produção de farelo proteico de 31,10 milhões de toneladas, bem como mantém inalterado o consumo interno de 15,80 milhões de toneladas. Um leve aumento de 0,6% é a alteração para a exportação de farelo, projetada em 15,50 milhões de toneladas. A associação prevê uma redução de 8,8% no estoque final de farelo, de 1,13 milhão para 1,03 milhão de toneladas.
Óleo – A Abiove não alterou a previsão para a produção de óleo, estimada em 8,10 milhões de toneladas, e elevou em apenas 0,7%, para 6,90 milhões de toneladas o consumo interno.