No sítio de quase 15 hectares são plantadas diferentes hortaliças, mas quem cultiva na propriedade conhece o campo há pouco tempo. Ederson Dias Barreto morava em Guarujá, no litoral paulista, antes de aprender a mexer com a terra. Dependente químico, assim como todos que hoje moram no local, ele reencontrou na agricultura a autoestima que precisava para se livrar do vício.
– A gente acha que não é capaz. Quando a gente planta um alface, vê ele crescendo, nossa, deu fruto, né? É legal isso. Com muitos irmãos que chegam da rua é a mesma coisa. Eles chegam e percebem que são capazes de ser alguma coisa – comenta.
Ao todo, são 140 sítios que integram o projeto “Missão Belém”. Criado há 10 anos por um padre italiano, o objetivo inicial do projeto era recuperar dependentes da região da Cracolândia, mas hoje ganhou todo o país. Marcos Antônio dos Santos foi acolhido em Santos. Ele conta que entrou em uma igreja depois de passar dias usando drogas. Rezava quando foi abordado por um voluntário. Agora, coordena casas na região de Jundiaí e São Paulo, com diferentes atividades.
– Primeiro eu fiz dureza, porque não queria ajudar, não queria nada. Ao mesmo tempo em que eu pedia ajuda para Deus, eu não queria ajuda. Mas Deus mandou um anjo muito insistente na minha vida que eu acabei indo conhecer essa casa. Aqui nós temos a marcenaria, que é uma marcenaria profissional, onde nós produzimos nossos armários. Tudo o que nós temos da marcenaria é produzido aqui. Temos a serralheria que produz as beliches, camas, janelas. Temos também a mecânica, que cuida dos nosso carros – explica.
A “Missão Belém” começou com um grupo pequeno e com a idéia de usar o plantio como forma de terapia. À medida que foram chegando mais moradores, a produção também aumentou. Por semana são retiradas cem dúzias de hortaliças e a expectativa é aumentar esse número para 400 dúzias.
– O foco comercial do sítio é alface e o brócolis. São os dois produtos que estamos colocando no mercado. Além disso, uma área de quase 1 alqueire de mandioca serve a própria população da Missão Belém. Vamos começar também a plantar alguns tubérculos e preparar uma pequena fábrica para industrializar um sopão, que vamos direcionar para todas as casas da Missão Belém – diz o coordenador da área agrícola, Antônio Roberto Iosque.
Metade dos que chegam ao sítio saem reabilitados e passam a levar uma vida normal, ficam entre seis e nove meses se redescobrindo. Para isso, contam com a ajuda de parceiros.
– A função da Missão Belém, além de produzir, é qualificar a mão de obra para que essas pessoas tenham uma qualificação profissional. Junto com isso, nós trazemos cursos de capacitação na área agrícola, na área de jardinagem, na área de pedreiro – explica Iosque.
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