Agricultura

Recuo de 34% nas exportações para o Oriente Médio em abril preocupa

Na comparação com abril de 2019, os embarques de milho caíram 98,5% no mês passado, os de soja, 57,9% e os de carne bovina, 56,1%

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Foto: Porto de Itaqui/divulgação

Apesar da balança comercial de abril ter fechado com superávit de US$6,7 bilhões – melhor resultado do mês desde 2017 -, a comercialização de mercadorias em geral com o Oriente Médio sofreu recuo de 34% no quarto mês do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados preliminares foram divulgados nesta segunda-feira, 4, pelo Ministério da Economia. As principais quedas relacionadas a produtos agropecuários enviados para o Oriente Médio foram as das vendas de milho (-98,5%), soja (-57,9%), carne bovina (-56,1%) e carne de aves (-15,1%).

“Claro que preocupa, mas é preciso identificar as causas, saber se é algo temporário ou permanente”, declarou o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério de Agricultura, Orlando Leite Ribeiro. Em entrevista ao Canal Rural nesta terça-feira, 5, o secretário discordou, em parte, da tese apresentada pelo Ministério da Economia, de que as exportações possam ter caído porque os países da região perderam renda com a baixa nos preços do petróleo.

“Eu não creio que a baixa dos preços do petróleo tenha uma maior influência nas exportações brasileiras de commodities. Essa redução do poder aquisitivo afeta, sobretudo, produtos supérfluos. Alimentos são pouco afetados nessas circunstâncias”, sinalizou Ribeiro. O secretário confirma que neste mês já é possível ver os impactos da pandemia do novo coronavírus nos resultados do comércio internacional.

De acordo com Lucas Ferraz, secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, “a principal queda para a região foi para o Irã, de 77,7%. O país foi um dos primeiros a ser fortemente atingido pela pandemia de covid-19. Além do Irã, caíram as exportações principalmente para os Emirados Árabes, -26,3%, e Omã, de 36,7%”. As porcentagens se referem às trocas comerciais independente de setor.

Ribeiro também aponta que neste ano o Ramadã, o mês de jejum entre os praticantes do islamismo, foi iniciado no dia 23 de abril. Para ele, o ritual religioso também afeta a demanda por alimentos. “Ano passado foi no dia 5 de maio [o início do Ramadã]. Você tem sempre uma grande compra que antecede o período do Ramadã e essa variação pode justificar os números de abril. Mas isso ao longo do ano será corrigido”, explicou.

Para o secretário, a situação que demanda mais atenção é de fechamento de mercados. Segundo ele, a Arábia Saudita vem adotando uma política protecionista a fim de estabelecer autossuficiência alimentar no país. “Nós tivemos recentemente duas empresas [de carne de aves] que perderam habilitação para exportar para a Arábia Saudita sem que houvesse uma justificativa técnica plausível para isso. O que aconteceu é que simplesmente a Arábia Saudita quer limitar as exportações de frango para poder desenvolver a sua própria produção”.

Movimentos protecionistas, por serem duradouros, inspiram mais preocupação. Porém, Ribeiro adianta que o Ministério da Agricultura segue em busca de novos mercados para os produtos agropecuários. No último ano, foram abertos 25 novos mercados. De janeiro a março de 2020, a pasta confirmou mais 23 aberturas em todo o mundo. Dados do Ministério da Economia ainda mostram que, embora as vendas de mercadorias agropecuárias para o Oriente Médio tenham sofrido fortes baixas, o primeiro quadrimestre de 2020 teve um crescimento acumulado das exportações de produtos agropecuários de 17,5%, em comparação com mesmo período no ano anterior.