RECORDE

Safra é de recuperação após problemas climáticos em 2022, diz gerente do IBGE

A safra de 2023 deve totalizar 307,3 milhões de toneladas, 16,8% maior que a de 2022, segundo os dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola

Os recordes esperados para a produção agrícola brasileira em 2023 estão ajudando na tendência de redução nos preços dos alimentos, avaliou Carlos Alfredo Guedes, gerente do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A safra de 2023 deve totalizar 307,3 milhões de toneladas, 16,8% maior que a de 2022, segundo os dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola de junho.

O resultado é 0,6% superior ao previsto em maio, 1,9 milhão de toneladas a mais.

“Temos uma safra de recuperação”, afirmou Guedes. “Teve crescimento de área em alguns produtos, mas é principalmente de recuperação.”

O pesquisador lembra que problemas climáticos prejudicaram o desempenho da produção agrícola em 2022, especialmente na Região Sul do país.

“Neste ano tivemos problemas no Rio Grande do Sul, mas a safra deste ano no Rio Grande do Sul está melhor do que ano passado”, acrescentou.

“Essa safra alta de milho fez com que os preços caíssem aqui no Brasil”, disse Guedes. “Isso é importante porque o milho entra em outras cadeias”, completou.

O milho, assim como o farelo de soja e sorgo, é usado pela atividade agropecuária na ração de animais, criados para a produção de suínos, aves e ovos.

“Setores de agropecuária vinham trabalhando com custo muito alto”, disse Guedes. “O milho chegou até R$ 100 a saca em alguns Estados no ano passado. Agora está sendo comercializado na faixa de R$ 40 ou R$ 50. Então é uma queda muito acentuada.”

Além de reduzirem o custo de produção de aves, suínos e ovos, as colheitas recordes de grãos também favorecem uma diminuição de preços desses produtos internamente. A valorização do real ante o dólar favorece ainda a manter os preços menores no mercado doméstico.

“Tem essa questão cambial também, (dólar) tem caído um pouco, isso também favorece manter preços menores internamente”, frisou Guedes.

A produção de soja deve somar 148,4 milhões de toneladas, uma elevação de 24,1% em relação ao produzido no ano passado.

Já a produção nacional de milho foi estimada em 124,5 milhões de toneladas, com crescimento de 13,0% ante 2022.

A lavoura de milho 1ª safra deve somar 28,1 milhões de toneladas, um aumento de 10,6% em relação a 2022.

O milho 2ª safra deve totalizar 96,3 milhões de toneladas, aumento de 13,7% em relação a 2022.

O algodão herbáceo deve alcançar uma produção de 6,9 milhões de toneladas, um avanço de 2,8% ante 2022.

A estimativa da produção do trigo foi de 10,6 milhões de toneladas, alta de 5,8% em relação a 2022.

A produção do arroz foi de 10,0 milhões de toneladas para 2023, queda de 6,0% em relação ao produzido no ano passado.

A produção de sorgo foi prevista em 3,8 milhões de toneladas, alta de 34,0% ante 2022.

Safra de arroz e feijão

O cultivo de arroz e feijão deve ficar dentro do necessário para o consumo doméstico, o que impede variações de preços, apontou Guedes.

“O principal produtor é o Rio Grande do Sul, que já colheu todo o arroz. Então nossa safra de arroz deve ficar em 10 milhões de toneladas mesmo”, apontou Guedes. “Por enquanto, nossa safra ainda atende às nossas necessidades sem depender de importações.”

No caso do feijão, a produção prevista em 3,1 milhões também está em linha com o consumo aparente anual do grão no Brasil.

“Nosso consumo de feijão também gira em torno de três milhões de toneladas, então ainda gira em torno da nossa produção”, afirmou. “Em relação à safra, não deve ter aumento de preço.”

Questionado sobre as intempéries que afetam a região Sul do País através do fenômeno El Niño, especialmente o Rio Grande do Sul, Guedes não crê em prejuízos significativos para a lavoura local, uma vez que os principais produtos da safra de verão, a soja e o milho, já foram quase inteiramente colhidos.

Ele diz que os ciclones têm ocorrido mais na região litorânea, não no interior, onde estão mais concentradas as lavouras. Segundo ele, a princípio, tormentas nessa época não afetam tanto o desempenho agrícola do Sul.

“O que realmente impacta as colheitas são as chuvas de fim de ano”, apontou. “Falta agora colheita de inverno lá.”

O pesquisador lembra que o trigo, que tem expectativa de safra recorde, depende muito das condições climáticas na época da colheita, por ser uma cultura muito sensível ao clima nessa etapa da produção. A colheita de trigo começa em outubro no Paraná, e em novembro e dezembro no Rio Grande do Sul.