Semeadura de uma só vez da soja favorece o controle de percevejos

Segundo o consultor do Projeto Soja Brasil, Áureo Lantmann, o atraso nas chuvas e consequentemente no plantio, não favorece a migração da praga entre plantas

Artigo: Áureo Lantmann
A soja cultivada em 2017/2018, terá como uma das características, uma grande coincidência nos estádios. Isso porque, o atraso nas datas de semeadura provocados pelas estiagens nos meses de setembro até meados de outubro, induziu a grandes áreas de soja se desenvolvendo ao mesmo tempo.

Isso terá um ponto positivo no que tange o manejo de pragas. Percevejos migram de soja mais velha e já colhidas para soja mais nova. Nesta safra a migração deve ser menor, pois a coincidência nos estádios reprodutivos deverá diminuir essa migração, o que determinará um manejo de controle mais eficiente.  

Para o controle mais eficiente de percevejos é necessário que, além de se conhecer a eficiência dos inseticidas, se entenda também um pouco da sua etiologia

Os percevejos são as pragas mais importantes da soja no Brasil. Por se alimentarem dos grãos, afetam seriamente o seu rendimento e a sua qualidade. Ao provocarem a murcha e má formação dos grãos e vagens, a planta de soja não amadurece normalmente, permanecendo verde na época da colheita.

Os mais importantes são os percevejos pentatomídeos, sugadores de grãos, seguidos pelo percevejo-castanho ou percevejo-enterrador, que suga as raízes e pelo percevejo-alidídeo que também suga os grãos. Durante o desenvolvimento os percevejos passam pela fase de ovo, fase de ninfa, composta de cinco estádios (ínstares), e fase adulta.

As ninfas apresentam coloração variada com manchas distribuídas pelo corpo, completando o desenvolvimento em cerca de 25 dias. Os adultos, iniciam a cópula em 10 dias e as primeiras oviposições ocorrem após 13 dias. Apresentam longevidade média que varia de 50 a 120 dias e número de gerações anuais de 3 a 6 dependendo da região.A fecundidade média varia de 120 a 170 ovos/fêmea dependendo da espécie, sendo que o ritmo de postura diminui à medida que as fêmeas envelhecem. Esses parâmetros biológicos são influenciados pela dieta alimentar e pela temperatura.

Os insetos iniciam a colonizar a soja em meados ou final do período vegetativo da cultura (Vn), ou logo após, durante a floração (R1 a R2) (período de colonização).  Nesta época os percevejos estão saindo da diapausa ou de hospedeiros alternativos. A partir do início do aparecimento das vagens (R3).

Deduz se que a efetividade dos inseticidas é potencializada a partir do estádio R3.

O manejo dos percevejos-pragas da soja inclui a adoção das várias táticas de controle. O controle desses insetos, baseado exclusivamente no uso de inseticidas não tem se mostrado eficiente, suspeitando-se que estejam ocorrendo populações resistentes desses insetos aos produtos químicos aplicados

1)   Controle químico.

Vários inseticidas são recomendados para o controle químico dos percevejos. Além da eficiência, é importante o critério da seletividade, ou seja, o efeito do produto sobre os inimigos naturais. Portanto, na escolha do inseticida deve se dar preferência àqueles que afetam menos as vespinhas, moscas e outros parasitóides e predadores que ocorrem nas lavouras e são importantes no controle das populações dos insetos pragas.

2)   Controle biológico.

Várias espécies de inimigos naturais são encontrados nas lavouras de soja, reduzindo as populações dos percevejos e mantendo-as abaixo do nível de dano econômico. Os parasitóides de ovos constituem o grupo de inimigos naturais mais importante. Vinte espécies de microhimenópteros já foram constatadas sendo Trissolcus basalis e Telenomus podisi os mais importantes. A maioria desses parasitóides atacam ovos de diversos percevejos.

3)      Controle alternativo.

    3.1 Manejo das épocas de semeadura.

Em geral, cultivares precoces escapam dos danos dos percevejos. Porém, os percevejos se multiplicam nessas cultivares, e dispersam para aquelas mais tardias onde causam os danos maiores. A época de semeadura influencia a dinâmica populacional dos percevejos, devendo-se evitar os plantios antecipados, ou os mais tardios, onde ocorrem as maiores concentrações desses insetos

     3.2. Uso de plantas armadilhas

De uma maneira geral, os percevejos são atraídos por leguminosas. No caso do percevejo verde pequeno, P. guildinii, as anileiras, leguminosas nativas do gênero Indigofera, atraem o inseto que permanece sobre as plantas no período de entressafras.  Assim, pode-se eliminar os insetos sobre estas plantas, diminuindo a sua população antes que dispersem para a soja.

     3.3. Uso de estacas armadilhas

Uma outra medida de manejo dos percevejos é o uso de estacas com estopas embebidas em inseticidas mais sal.  Estas estacas, chamadas iscas tóxicas, são colocadas numa altura acima do dossel das plantas, o que faz os percevejos se deslocarem para este local, morrendo ao entrarem em contato com o inseticida na estopa. O uso destas estacas é importante no monitoramento da população de percevejos, indicando a presença destes insetos na lavoura. As estacas devem ser localizadas de preferência nas margens das lavouras, onde normalmente inicia a infestação.

       3.4. Manejo da palhada.

O percevejo marrom, passa cerca de sete meses do ano sob a palhada seca na superfície do solo em diapausa, embaixo de folhas caídas de mangueiras, cafeeiros e feijão guandu.  Recomenda-se examinar as palhadas e ao constatar os percevejos, estes devem ser eliminados, enterrando a palhada ou aplicando inseticida nos focos de infestação.

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