Soja Brasil

Aprosoja Brasil rebate posicionamento da Syngenta sobre Diquat e Paraquat

Entidade havia solicitado ao Ministério da Agricultura a liberação emergencial dos herbicidas, mas empresa é contra

A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) solicitou ao Ministério da Agricultura na última quarta-feira (19), a liberação emergencial dos herbicidas Diquat e Paraquat para a dessecação das lavouras de soja.

Em nota divulgada à imprensa, a empresa Syngenta, detentora do registro do Diquat, disse ser contra a permissão para que “produtos não avaliados e aprovados pelas autoridades regulatórias brasileiras sejam disponibilizados aos agricultores”.

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Foto: Pedro Silvestre

No entanto, de acordo com a Aprosoja Brasil, a liberação emergencial de defensivos tem um precedente histórico. Em 2015 o governo federal autorizou o uso emergencial de benzoato de emamectina, produzido pela própria Syngenta, para o controle da lagarta Helicoverpa armígera.

A lagarta dizimou lavouras de soja e outras culturas e fez com que estados como Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Piauí e Goiás decretassem emergência fitossanitária em decorrência dos prejuízos bilionários causados aos produtores desde 2012.

A liberação emergencial só foi autorizada para produtos novos, como o benzoato, porque esse defensivo agrícola já estava registrado em, pelo menos, três países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A Associação lembra que, naquela oportunidade, a detentora não foi contrária à liberação do benzoato, sendo a única a depositar o pedido. “Já com relação ao Diquat, sabe-se que diversas empresas têm o registro no país e o Paraquat não é nenhuma novidade no Brasil ou em qualquer membro do Mercosul. Ou seja, fica claro que a preocupação neste caso não é com a segurança do produto, mas de enfrentar a concorrência de outros fabricantes”, diz a nota oficial da Aprosoja Brasil.

O posicionamento da Aprosoja Brasil lembra, também, que a liberação emergencial do Diquat teria bem estabelecidas a sua forma de entrada, aplicação e segurança no uso (como se trata de produto genérico, todas essas etapas já foram concluídas), bem como a destinação final de embalagens.

“Importante destacar também que, diante da falta de comprovação sobre a toxidade do Paraquat, autoridades sanitárias dos Estados Unidos liberaram o uso desse herbicida por mais 15 anos, além de o Canadá ter autorizado o uso, assim como Austrália e os países do Mercosul, onde o uso e a comercialização do Paraquat – banido pela Anvisa em 2020 no Brasil – continua permitida”, ressalta a entidade.

Efeitos sobre a dessecaçação da soja

A Aprosoja Brasil considera que a falta do Diquat tem prejudicado o processo de dessecação da soja, que é a utilização de herbicida para preparar as lavouras para a colheita e pode trazer prejuízos à qualidade da produção brasileira e ao país como um todo.

“Outro impacto é sentido no bolso do produtor. O litro, que antes era comprado por R$ 30,00, está custando mais de R$ 160,00. No início desta safra, o aumento no preço do produto era de 300% e hoje alcança 500%, conforme constatam produtores”, afirma a Associação.

A nota ainda salienta que a Aprosoja Brasil tem recebido reclamações de produtores que adquiriram o Diquat e ainda não receberam o herbicida. “Porém, a alegação de falta de produto não condiz com a realidade. Na verdade, não existe a falta do produto. O que existe é que empresas estão restringindo produtos que foram comprados por R$ 30,00 para poder vendê-los por um preço bem maior. E com isso a Aprosoja Brasil não pode concordar”, conclui a nota.

Outro lado

Em resposta à nota oficial da Aprosoja Brasil, a Syngenta enviou ao Projeto Soja Brasil a seguinte nota:

“A Syngenta reitera que se mantém comprometida com os agricultores brasileiros ainda que diante de desafios inerentes a uma crise sem precedentes.

Com relação ao Diquat, estamos dedicando os melhores esforços para o aumento dos volumes do produto a ser disponibilizado ao mercado brasileiro, diante de um aumento significativo da demanda. Para tanto, buscamos alternativas adicionais de fornecimento de todas as fontes possíveis no mundo, incluindo novas opções ​na China. Ainda que cientes dos problemas atuais de abastecimento de Diquat, os pedidos serão entregues nos próximos meses, sem renegociação de preços.

Somos altamente favoráveis ​​a um ambiente de concorrência livre, que permita que outras empresas registrem e comercializem produtos à base de Diquat no Brasil. Atualmente, inclusive, existem mais de 15 empresas com registros para comercialização desse tipo no país.

Estamos certos de que a importação de produtos sem regulamentação coloca em risco produtores e consumidores, meio ambiente e as exportações brasileiras. Respeitamos a regulação vigente e não estamos medindo esforços para resolver a dificuldade pontual de abastecimento, bem como nos prepararmos para atender a uma demanda ainda maior de Diquat. E, assim, oferecer aos agricultores os insumos necessários para o sucesso da próxima safra.”