O conglomerado estatal Dubai World, holding que cuida dos principais investimentos do governo de Dubai, anunciou uma “paralisação” de seis meses no pagamento de US$ 59 bilhões em dívidas do grupo. Aliado ao fantasma de calote no Oriente Médio, mais um temor ajudou a abalar o mercado financeiro: o de que grandes bancos europeus estejam entre os maiores prejudicados se o pagamento da dívida realmente deixar de ser feito. Analistas do Credit Suisse acreditam que os bancos europeus tenham até US$ 40 bilhões em dívidas de Dubai.
Em um momento de recuperação dos mercados, uma moratória aumentaria muito o nervosismo das bolsas, segundo o economista da Investec Securities David Page.
? Traria de volta incerteza quanto aos problemas financeiros mundiais ? avaliou.
As bolsas mundiais mostraram o quanto uma notícia ruim pode afetar os negócios que agora voltam a entrar nos eixos. Na Bolsa de Londres, a baixa alcançou 3,18%. Em Frankfurt, houve desvalorização de 3,25%. E a Bolsa de Paris teve perdas de 3,41%. As ações do setor bancário estiveram entre os destaques de perdas no mercado londrino: os papéis do Royal Scotland Bank desabaram 7,74%, as ações do Lloyds caíram 5,75% e as do HSBC sofreram recuo de 4,80%. A Bovespa recuou 2,25%.
O tombo dos papéis da subsidiária de imóveis da Dubai World, a Nakheel, foi grande: quase US$ 3,5 bilhões de bônus islâmicos, chamados de sukuk. Caíram de US$ 1,10 para R$ 0,70 depois das notícias ? sinal claro de que o anúncio do governo árabe pegou os investidores de surpresa.
O governo de Dubai fez um comunicado na tentativa de acalmar os mercados. Em nota, o segundo maior dos emirados que compõem o país afirmou entender os temores dos mercados e, especialmente, dos credores, mas disse que a “intervenção” era necessária para resolver o problema do endividamento da Dubai World.
Agências reduzem notas de companhias do governo
Após o anúncio, a agência de classificação de risco Moody’s baixou a nota de seis grandes companhias do governo. O mesmo fez a agência Standard and Poor’s, que reduziu a classificação de cinco companhias.
A questão central agora é não deixar o episódio abalar a confiança dos investidores, que recém começa a voltar. Uma dificuldade, dizem analistas, é que o mercado não tem clareza sobre os movimentos de Dubai no mercado. Assim, fica difícil avaliar com precisão o risco de investir nos bônus.
? A incerteza pode se arrastar por algum tempo ainda, antes de termos uma ideia clara de como as questões serão resolvidas ? disse Huw Worthington, analista do Barclays Capital em Londres.