Agricultura sustentável é desafio para próximos governantes

Incentivar a produção de alimentos com baixo impacto para o meio ambiente não tão simplesSustentabilidade é uma das palavras da moda, mas deve estar também entre as pautas dos políticos que forem eleitos em outubro. Pelo menos é esse o pedido de representantes da agricultura e da pecuária no Brasil. Incentivar a produção de alimentos com baixo impacto para o meio ambiente e ainda reduzir as emissões de carbono no campo são alguns dos desafios para os próximos governantes.

A criação de suínos de Jorge Ceccato é grande. Por dia, são gerados 80 mil litros de dejetos. Se todo esse material fosse descartado da forma tradicional, uma quantidade enorme de gases causadores do efeito estufa iriam para a atmosfera. Porém, o produtor rural Jorge Ceccato fez parceria com uma empresa, que construiu os biodigestores e divide com o produtor parte dos lucros com a venda de créditos de carbono para o exterior.

? Essa empresa apareceu e a gente pegou na hora. Deveria ter mais incentivo do governo e não só cobrança na instalação. Deveria, na minha opinião, ser um negócio obrigatório pela redução do odor e pela emissão de gases e pela qualidade dos dejetos que vão para a lavoura ? diz Ceccato.

A novidade na granja é uma casinha, instalada há pouco mais de um mês. A estrutura parece simples, mas garante que seja alcançada mais uma etapa na sustentabilidade do negócio. Jorge instalou um gerador, que usa o biogás. A propriedade se tornou auto-suficiente em energia elétrica. Mas projetos assim ainda são exceção no Brasil.

O pesquisador Rodrigo Lima, especialista nas negociações internacionais contra mudanças climáticas, afirma que não é preciso depender apenas das vendas de créditos de carbono no mercado externo, através do protocolo de Kyoto. Ele sugere que o próximo governo crie um programa brasileiro de créditos, que beneficie a agricultura.

? Como o Brasil tem meta de reduções, quando ocorrer a regulamentação e os diferentes setores da economia tiverem metas concretas de redução de emissão para cumprir com essa meta global. É você permitir que a agricultura gere créditos para estes setores que tem metas de redução. Porque aí você venderia internamente um crédito da agricultura para o setor elétrico, da agricultura para o setor de cimento, para transportes ? diz Lima.

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Na fazenda de Luciano Barbosa, a preocupação com a sustentabilidade não gera créditos de carbono, mas garante lucros e a produção de alimentos com menor impacto ambiental. A área onde os bois pastam no inverno vira lavoura no verão. Cada hectare produz 48 sacas de soja e na estação seguinte um ganho extra com mais 250 quilos de carne. A rotação é usada há quase uma década e permitiu também reduzir o uso de fertilizantes, inclusive dos nitrogenados, que produzem gases de efeito estufa. O produtor sugere que os próximos governantes se esforcem para difundir as técnicas em outras propriedades rurais.

? Recursos não faltam. O poder público está muito focado em tentar financiar tecnologias, tratores, colheitadeiras, ao invés de realmente passar educação para o produtor. O produtor vai conseguir uma coisa muito mais sustentável, uma integração lavoura-pecuária que leve a mais lucros ? defende Barbosa.

O consultor Marco Antônio Fujihara concorda e diz que o Brasil precisa dar exemplo e garantir mercados na economia de baixo carbono do século 21.

? O governo tem papel de fazer com que o agronegócio e pequenos agricultores e entendam seu papel nesse novo contexto. Somos o único país do mundo com carros flex. A gente tem o etanol. Temos matriz energética hidráulica. Costumo dizer que a gente é pobre, mas é limpinho. Temos uma economia de baixo carbono. O que devemos prestar atenção é em manter essa economia de baixo carbono, incentivando o etanol e fontes renováveis ? explica Fujihara.