PISCICULTURA

Pesquisa genética de tilápias avança com o estudo de cientistas moçambicanas

O objetivo dos trabalhos é reduzir a disparidade de peso entre machos e fêmeas, visando aumentar a eficiência na produção de tilápias

pesquisa tilápias paraná
Foto: Divulgação/AEN

Um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) busca há 15 anos o melhoramento genético de tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus), a espécie de peixe mais produzida e de grande importância comercial no Brasil.

Recentemente, o Programa de Melhoramento Genético de Tilápias do Nilo (Tilamax), desenvolvido pelo grupo de Pesquisa PeixeGen da universidade, avançou com as teses de mestrado de duas pesquisadoras de Moçambique, Carla Finiosse e Nareta Figueiredo.

As pesquisas promoveram um avanço nos estudos para o desenvolvimento de material genético que dispense a necessidade de reversão na produção.

Atualmente, a forma mais utilizada para o cultivo desta espécie é o monosexo – apenas machos – porque o peso da fêmea oscila entre 70% a 75% do macho.

O trabalho das pesquisadoras africanas indica redução da diferença de pesos entre os animais com uso do material genético no acasalamento: as fêmeas passaram de 72% do peso do macho para 82% em viveiros escavados e para 80% nos tanques-rede.

“Conseguimos aumentar dez pontos percentuais, o que indica que existe um caminho para diminuirmos a desigualdade”, afirma o orientador delas, Carlos Antonio Lopes Oliveira, docente da graduação e pós-graduação do Departamento de Zootecnia da UEM.

Os mestrados das moçambicanas foram estudos complementares dentro da Pesquisa PeixeGen.

Nareta Figueiredo pesquisou o “Dimorfismo sexual para o peso corporal de tilápias do Nilo” e conseguiu aprimorar a metodologia para o processo de seleção de famílias reprodutoras, reduzindo a diferença entre macho e fêmea.

Já Carla Finiosse estudou uma “Avaliação do dimorfismo sexual para a velocidade de crescimento em tilápia do Nilo em dois sistemas de produção”. Ela testou o material genético em tanques-rede e viveiro escavado, com elevação do peso das fêmeas.

As pesquisadoras são funcionárias do Centro de Pesquisa em Aquicultura (Cepaq), em Chókwè, Moçambique, que produz tilápias da espécie moçambicana e da espécie nilótica (a mesma produzida no Brasil).

Finiosse chefia a Unidade de Alevinagem de tilápias-do-nilo e Figueiredo é técnica no setor de melhoramento genético de tilápia Moçambicana. Oliveira lembra que a parceria foi impulsionada pelo zootecnista Humberto Todesco, egresso da UEM, que atua como consultor no Cepaq.

“Para mim, esta pesquisa foi muito boa porque praticamente eu só tinha a experiência de onde eu trabalhava. Na prática, a gente aprende mais, consegue ver os problemas e as soluções, além de ter um grande professor ao nosso lado. Volto para o meu país com uma boa bagagem de melhoramento genético”, afirma Carla.

“Eu já tinha uma bagagem de tecnologia de produção, mas era com tilápia de Moçambique. Aqui pude ampliar meus conhecimentos ao trabalhar com tilápia Nilótica e vários sistemas de produção. Vou levar essa experiência para o meu país e aplicar as novas tecnologias de produção que aprendi aqui. Estou extremamente satisfeita por ter feito parte dessa instituição, desse programa de pós-graduação e também por ter sido orientada pelo professor Carlos Oliveira”, diz Nareta.

A parceria de transferência de tecnologia entre os dois países começou há dois anos, em fevereiro de 2022, quando foi assinado um acordo de cooperação internacional entre o Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (PPZ) da UEM e a organização norueguesa não governamental Norges Vel, por meio do Escritório de Cooperação Internacional (ECI). A vinda e manutenção delas foi mantida pela ONG e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que concedeu bolsas de estudos no último ano.

Figueiredo e Finiosse concluíram o mestrado e retornaram a Moçambique na última semana, levando o material genético desenvolvido na UEM para distribuição pelo Cepaq aos alevinocultores e piscicultores do país africano.

Tilamax

O programa Tilamax foi desenvolvido há mais de quinze anos na Estação Experimental de Piscicultura da UEM, que executa desde 1996 uma importante função na pesquisa de excelência para a piscicultura brasileira, envolvendo estudantes da graduação, mestrado e doutorado. Localizada no distrito de Floriano, a 20 quilômetros de Maringá, no Noroeste do Paraná, a Estação abriga o primeiro centro público da América Latina de pesquisa sobre melhoramento genético de tilápias do Nilo.

São 20 tanques de 6m³, onde são avaliados anualmente representantes de 50 a 90 famílias, resultando em aproximadamente 3 mil peixes. De cada grupo familiar são selecionadas as quatro melhores fêmeas e os dois melhores machos, que serão os pais da próxima geração.