Saiba como criar tilápias

Consumo do peixe cresce a cada ano no país, tornando-se a principal fonte de renda em diversas propriedades 

O cultivo de peixes de água doce no Brasil está em expansão. A produção, antes secundária, tem se tornado a principal fonte de renda em diversas propriedades rurais. A pedido de um telespectador de São Luís do Maranhão, fomos a uma das principais regiões produtoras de São Paulo, para saber o que é preciso para ingressar atividade.  

A microrregião da Baixa Mogiana, no interior de São Paulo, é referência no cultivo de peixes de água doce. Piscicultores de 11 municípios mantêm centenas de viveiros que produzem, por ano, uma média de 2 milhões de toneladas.

– É uma alternativa viável para grande parte dos produtores. A maioria deles tem uma área viável de se construir um viveiro ou, às vezes, tem até um viveiro como bebedouro para gado que dá simplesmente para adaptar para piscicultura. Piscicultura é uma atividade que não concorre com as demais atividades da área agrícola e com isso ajuda a trazer uma nova renda para a propriedade. Se bem conduzida vai trazer um bom resultado econômico para o produtor – diz o engenheiro agrônomo Maximiliano Leonello.

Segundo ele, um viveiro de 1 mil metros quadrados, considerando os gastos com instalação e licenciamento, fica entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. Eles podem ser usados de 15 a 20 anos. De acordo com Leonello, o retorno do investimento aparece no segundo ano.

Exemplo

Na propriedade dos irmãos Daniel e César Polettini, de 40 hectares, em Mogi Mirim, são mantidos 53 viveiros. A água utilizada para encher os tanques vem de duas fontes: uma nascente e um ribeirão, próximos à área. Para utilizar o recurso, os produtores precisaram de outorga e de outras licenças ambientais solicitadas a órgãos estaduais de regulamentação da atividade.

Nos viveiros dos irmãos, são cultivadas 35 espécies ornamentais e de consumo, mas o carro chefe é a tilápia. César e Daniel optaram por reproduzir naturalmente os peixes.

– A maioria das espécies a gente consegue uma desova natural, elas desovam sozinhas nas caixas e a gente só coleta a ova, distribui nas incubadoras onde nascem as larvas. Depois a gente traz para o berçário, que seria uma segunda fase, para depois a gente mandar para o tanque, onde lá elas vão crescer e se tornar alevino no caso – diz Daniel.

O produtor que está começando na atividade e não tem uma estrutura para reprodução dos peixes geralmente compra os alevinos prontos. Esses peixes bem pequenos que tem entre 4 e 5 centímetros e custam no mercado entre R$ 0,15 e R$ 0,20 a unidade. Uma orientação importante é o produtor estar atento à procedência desses peixes.

Para garantir que o peixe venha para a propriedade sem doenças, o produtor precisa buscar referências sobre o fornecedor e, se necessário, consultar um técnico ou engenheiro agrônomo. Outro cuidado é com o manejo dos alevinos.

– Quando receber os alevinos [é preciso] tomar cuidado com animais predadores como aves, passarinhos, animais como lontra, que predam os peixes. Bolar um sistema de segurança. Outra questão é o manejo dos animais, ter uma nutrição de boa qualidade ou adubação dos viveiros compatível pra produzir alimento natural necessário e o próprio manejo ao longo do período de engorda pra saber o que está evoluindo esse peixe – afirma Leonello.

Depois que atingem a média de 1 quilo, as tilápias são retiradas com redes especiais sem nós, que evitam que elas se machuquem. Grande parte da produção anual de tilápias na região de Mogi Mirim é transportada nessas caixas especiais para pesqueiros do interior de São Paulo. Os produtores abastecem também a indústria, que está otimista com o crescimento da demanda no mercado interno.

De acordo com Eduardo Carinta, proprietário do interposto de pescados, o consumo subiu de 7 quilos por habitante em 2007 para 11,8 quilos, sendo que a média mundial é de 16 quilos.

– Então ainda temos muito pra crescer. É um segmento que está em expansão e o pescado vem sendo uma das proteínas que o pessoal tem colocado no prato no dia-a-dia – afirma.