Brasil tem domingo de protestos contra Dilma e Temer

Grupos pedem a saída definitiva de Dilma Rousseff e afastamento de Michel Temer em várias cidades do Brasil

Em todo o país, movimentos favoráveis e contrários ao impeachment de Dilma Rousseff promovem manifestações neste domingo. Movimentações foram registradas nas principais capitais brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Na Esplanada dos Ministério, em Brasília, manifestantes faziam um ato na manhã deste domingo pela conclusão do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. As pessoas foram chegando aos poucos. No fim da manhã eram cerca de cinco mil de acordo com a Polícia Civil. Os manifestantes ocuparam o gramado em frente ao Congresso Nacional e muitas pessoas vestiam a camisa do Brasil e carregavam bandeiras, pedindo apoio para a Operação Lava Jato e cobrando a aprovação de uma Medida Provisória que propõe dez mudanças para o combate à corrupção

Para o professor Rubem Suffert, o motivo do ato era para pedir o fim de qualquer tipo de corrupção, sem importar a esfera do governo em que ela esteja. “Infelizmente, a nossa população sofre muito com isso. O povo,nos diversos segmentos, paga mais imposto e isso é um absurdo”, disse ele.

Já o Engenheiro Júlio Cezar acha que a simples presença já é o bastante para fazer a diferença. “Eu acho que a presença, simples, sem cartaz, já é uma manifestação forte, que todo brasileiro deveria usar.”

Os manifestantes concentraram-se ao lado do Museu da República e, de lá, seguiram para a frente do Congresso Nacional. “Viemos reforçar que a nossa luta não parou”, disse Ricardo Noronha, um dos integrantes do Movimento Limpa Brasil.

Os organizadores disseram acreditar que o número de pessoas nos protestos vai aumentar quando começar o julgamento final do impeachment. “Queremos a saída definitiva de Dilma. Os crimes de responsabilidade dela foram comprovados na Comissão do Impeachment e no TCU (Tribunal da Contas da União)”, afirmou Jailton Almeida, um dos coordenadores do Vem pra Rua.

Algumas pessoas seguravam faixas de apoio ao juiz Sérgio Moro, responsável pelas ações da Operação Lava Jato na primeira instância. Moro foi um dos mais citados nos discursos realizados nos carros de som. Manifestantes chegaram a entoar “Parabéns a Você” no gramado em frente ao Congresso Nacional, como homenagem ao juiz que completa 44 anos nesta segunda, dia 1.

O projeto de iniciativa popular com dez medidas de combate à corrupção era comumente citado como forma de “melhorar” o país. “Somos favoráveis ao projeto e queremos a sua aprovação o quanto antes”, defendeu Noronha.

Mais uma vez, a maioria das pessoas saíram vestidas de verde e amarelo. Algumas, com cartazes e faixas, pediam a saída de Dilma. Outras reivindicavam medidas mais duras de combate à corrupção. Havia também quem se posicionava pelo fim do foro privilegiado para políticos, ministros e membros do Poder Judiciário.

Produtor rural

O agropecuarista Dirceu Guerra, 66 anos, saiu do município goiano de Rio Verde para participar do protesto. “Precisamos que o Judiciário puna de maneira mais severa os corruptos”, disse. Ao lado da filha, Adriana, Dirceu deu mais uma sugestão para evitar casos de corrupção de políticos: “temos de acabar com a reeleição. Ela ajudou bastante na formação de ‘quadrilhas’ que só tinham como objetivo permanecer no poder. Daí faziam todos os conchavos possíveis para se manter”, declarou.

Continuação da Lava Jato

A aposentada Lívia Ramos disse que foi a manifestação por temer interferências na operação Lava Jato. “Viemos aqui contra todos os corruptos, queremos ver todos na cadeia. Foram Dilma, Lula, o PT. Mas acho que o Renan Calheiros (senador do PMDB-AL e presidente do Senado) está querendo atrapalhar a operação”, ressaltou.

Alguns bonecos infláveis, conhecidos como pixulecos, apareceram nas mãos dos manifestantes. Entre eles, o de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Bonecos do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, e do procurador-geral da República, Rodrigo Janot também se faziam presentes. Os ministros do STF Dias Tofolli e Teori Zavaski também foram alvos de protestos.

Grupos menores também estiveram presentes, com reivindicações como retorno da monarquia e intervenção militar. Integrantes do Movimento Democracia Direta, que defende a saída de Dilma Rousseff e do presidente interino Michel Temer, precisaram ser escoltados pela PM após um princípio de confronto com manifestantes contrários a Dilma, mas favoráveis à permanência de Temer. Até pouco antes do fim do protesto, os bombeiros não tinham registrado atendimentos.

Pelo Brasil

Em sua página oficial, o Movimento Vem Pra Rua divulgou imagens de manifestações por todo o país e aproveitou para convocar seus seguidores. Em São Paulo, o ato foi marcado para a avenida Paulista – que é fechada para a passagem de veículos todos os domingos, segundo norma da prefeitura.

Carros de som motivavam as pessoas durante a tarde ensolarada de domingo. Com clima pacífico, os manifestantes de verde e amarelo levaram cartazes com reivindicações.Durante o evento, organizadores distribuíram balões branco que foram solto durante o ato.

O Movimento Vem pra Rua e a Polícia Militar não divulgaram estimativas sobre o número de participantes até o início da noite deste domingo. A corporação informou apenas que mais de mil policiais, 225 viaturas e uma aeronave integram o esquema de segurança do evento da Paulista e do ato pró-Dilma que ocorreu no Largo do Batata.

Ao longo da Paulista, em pelo menos cinco caminhões de som, representantes dos movimentos pró-impeachment discursavam com palavras de ordem como “Fora PT”, “Não vai ter golpe, vai ter impeachment” e frases de apoio ao juiz federal Sérgio Moro e à operação Lava-Jato. Um boneco gigante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido de presidiário, batizado de Pixuleco, e um de um militar, em referência ao Exército e ao retorno da ditadura militar no país, foram inflados.

O aposentado Paulo Alves estava no ato e era um dos que defendem a volta da do regime militar. “Do jeito que está o nosso país, só a ditadura vai resolver. Mesmo sem liberdade, eu vivi na ditadura e não tinha corrupção, desemprego”, disse.

O radialista Rodrigo Assef protestou carregando um boneco em formato de mosquito e o rosto da presidenta afastada. “Estou protestando contra essa pouca-vergonha que virou a política no Brasil. A Dilma ainda não saiu, protestamos pelo fim da corrupção, para prender o Lula. Para ver se melhora a situação do Brasil, estamos indo para o buraco”, criticou.

Em Porto Alegre, o ato contra Dilma foi no Parque Moinhos de Vento, o Parcão. A manifestação ocupou parte da Avenida Goethe, que contorna o parque, com bandeiras do Brasil e faixas de protesto, além dos bonecos infláveis de Dilma e do ex-presidente Lula. Um terceiro personagem, o juiz Moro, também ganhou uma versão de boneco, com roupa de super-herói.

A coordenadora estadual do MBL, Paula Cassol Lima, ressaltou que um dos objetivos é protestar contra um possível “acordão” dos políticos para enfraquecer a Operação Lava Jato. “Uma das questões principais é a delação premiada. Eles querem impedir que as pessoas que estão presas façam esse tipo de acordo. E nós sabemos que na operação se conseguiu muita informação sobre esquemas gigantes de corrupção envolvendo vários partidos.”

Entre os manifestantes favoráveis ao impeachment na capital gaúcha, também havia pessoas que defendem a monarquia parlamentarista e o retorno da família real ao poder no Brasil. “Já que estamos em um momento de analisar as nossas instituições, que estão extremamente corroídas, nós hoje temos essa proposta de novamente analisar a nossa história e ver efetivamente o que funcionou no Brasil”, disse a advogada Maria Cristina Meneghini. Segundo ela, “os melhores IDH do mundo vêm de monarquias parlamentaristas”.

Além de São Paulo e Porto Alegre, há registros de atos contra Dilma em Copacabana, no Rio de Janeiro, Passos (MG), Fernandópolis (SP), Uberaba (DF), Salvador (BA), Recife (PE) e Volta Redonda (RJ).

Atos contra Temer

O domingo também foi de atos contra o presidente interino Michel Temer. A Frente Povo Sem Medo, que reúne diversos movimentos sociais, convocou a população para ato no Largo da Batata, na zona oeste da capital paulista.Vestidos de vermelho, os manifestantes pediram a volta da presidente Dilma Rousseff e a saída do presidente interino. 

Os manifestantes começaram a se reunir às 14h  e, por volta das 16h15, saíram em caminhada, na direção da Praça Panamericana, local próximo à casa do presidente interino Michel Temer, no bairro Alto de Pinheiros.

O tema do ato é “Fora Temer! O povo deve decidir! Defender nossos direitos, radicalizar a democracia!”. Segundo a Frente Povo Sem Medo, que considera o impeachment de Dilma um golpe, “não precisou nem dois meses para que as máscaras caíssem e as razões do golpe fossem expostas em praça pública”, citando a queda de três ministros de Temer em um mês.

“A primeira é o Fora Temer, porque nós consideramos que esse governo é ilegítimo. [A segunda frente] é também em defesa dos nossos direitos que estão ameaçados com o programa do golpe, programa de regressão social no país, reforma da Previdência, reforma trabalhista, desmonte dos programas sociais, desmonte do SUS [Sistema Único de Saúde]. [A terceira] é que povo deve decidir. Um dos pontos desse ato é que o Congresso não tem autoridade, não tem credibilidade para definir os rumos do país, para definir a saída política para essa crise, então entendemos que o povo deve ser chamado a decidir”, declarou Boulos.

Sobre um eventual plebiscito, Boulos disse que essa seria uma alternativa, não apenas para a questão do impeachment, mas para impulsionar a reforma política. De acordo com integrantes da Frente Povo Sem Medo, uma profunda reforma política é necessária porque o sistema político brasileiro faliu e perdeu qualquer vínculo de representação efetiva com a maior parte da sociedade.

Os movimentos defendem o que chamam de radicalização da democracia, por meio do enfrentamento do poder econômico nas eleições e na construção de mecanismos de maior participação popular na política. Os ativistas reivindicam ainda uma reforma tributária, com taxação de grandes fortunas, no lugar da reforma da Previdência; e as reformas urbana e agrária, em vez da reforma trabalhista. Para eles, essas medidas vão contemplar a maioria do povo brasileiro.

Políticos presentes

Os deputados federais Luiza Erundina e Ivan Valente, do PSOL-SP, compareceram ao ato. “Eu lutei como muitos que aqui estão contra a ditadura militar. Fomos expulsas do Nordeste porque defendíamos a reforma agrária e a democracia”, discursou Erundina do alto do carro de som. Ela chamou a população a ir às ruas defender a democracia e pedir a saída de Temer.

Também presente ao ato, o ex-senador Eduardo Suplicy defendeu a presidente afastada Dilma Rousseff, dizendo que ela não cometeu crime de responsabilidade. Ele acrescentou que, se estivesse no Senado atualmente, votaria contra o impeachment e aconselhou os atuais senadores a votar contra o afastamento definitivo da presidenta.

Segundo Boulos, 40 mil pessoas participavam do ato às 16h15. No ato, havia bandeiras de diversas entidades, como Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, União da Juventude Socialista, Central Única dos Trabalhadores, União Nacional dos Estudantes, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Na capital gaúcha, o ato contra o impeachment e o governo do presidente interino Michel Temer foi no Parque Farroupilha. A manifestação teve apresentações artísticas de músicos e grupos teatrais. Os participantes carregam bandeiras de movimentos sociais e organizações sindicais, além de faixas de apoio a Dilma e de denúncia ao que os manifestantes consideram um golpe.

A menos de um mês para o julgamento do impeachment no Senado Federal, os organizadores destacaram a importância de manter a população mobilizada para sensibilizar os senadores a votar contra o afastamento definitivo de Dilma. “Nós achamos que tem seis senadores que têm vergonha na cara e perceberam que o golpe não é contra a Dilma, mas contra os direitos sociais e trabalhistas”, disse o presidente da Frente Brasil Popular, Claudir Néspolo.

Para o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que participa do ato, o governo Temer está ficando enfraquecido pela necessidade de cumprir os acordos do impeachment. “Amanhã está prevista a votação da Medida Provisória 257, que atinge diretamente os servidores. Terça-feira está prevista a votação da mudança da regra de exploração do pré-sal. Cada parcela do golpe que o governo paga são mais setores da sociedade que se unem conosco”, destacou.

A Frente também mobilizou manifestantes em Belo Horizonte (MG), Goiâna (GO), Salvador (BA), Brasília (DF) e Belém (PA). Também foram registrados protestos defendendo a presidente Dilma Rousseff em Lisboa, Portugal.

Impeachment

O processo de impedimento movido contra Dilma Rousseff entra em uma etapa decisiva nesta semana. A comissão especial vai votar o parecer do relator, que, se for aprovado, segue para o plenário. O julgamento está previsto para até o fim de agosto.

Caso Dilma Roussef seja considerada culpada pelo crime de responsabilidade, ela perderá os direitos políticos e fica inelegível pelos próximos oito anos.