PERIGO NO QUINTAL

Planta que matou mulher: como diferenciar a 'falsa couve' da verdadeira

Vítima que ingeriu a espécie também conhecida como charuteira veio a óbito após cinco dias internada; não há antídoto para a toxina

Na última segunda-feira (13), morreu de parada respiratória Claviana Nunes da Silva, em Patrocínio, Minas Gerais, após ter comido a folha de uma planta conhecida como “falsa couve”. Além da mulher, mais três familiares seguem internados em estado grave pelo mesmo motivo.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, ela e os parentes haviam se mudado recentemente para uma chácara no município, onde, no quintal, colheram a nicotiana glauca, também chamada de charuteira ou fumo bravo.

Pertencente à família do tabaco, além da nicotina, a planta possui em sua composição anabacina, toxina que bloqueia a transmissão nervosa nos músculos, causando paralisia e insuficiência respiratória.

“A falsa couve é uma planta que parece muito com a couve que a gente conhece, mas é importante falar que ela não é vendida na feira e nem no mercado. Ela nasce sozinha em beira de estrada, terrenos e quintais”, detalha o especialista em clínica médica Vítor Roque Dini.

Segundo ele, por ser venenosa, a nicotiana glauca já causou graves problemas de intoxicação no Brasil, visto que muitos a confundem com a couve ou a usam para fazer chá. Conforme Dini, após o consumo, os sintomas aparecem rápido e incluem:

  • Enjoo e vômito;
  • Dor abdominal;
  • Tremores;
  • Aceleração do coração;
  • Confusão mental

“Nos casos mais graves, a pessoa pode ter fraqueza, paralisia, acidose e até parada respiratória. Tanto que tem pacientes entubados na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] por conta disso”, dstaca.

Como diferenciar

Para não confundir a falsa couve com a verdadeira, é preciso uma análise visual: as folhas da nicotiana glauca são menores, mais estreitas e alongadas, além da cor ser de um verde mais acizentado.

Já a couve verdadeira tem folhas maiores, largas e de um verde mais vivo e intenso. Outro ponto importante é a textura. As folhas da couve comestível são mais grossas e firmes, com nervuras bem marcadas e superfície mais áspera. Enquanto isso, as da falsa couve são mais finas, lisas e com nervuras menos evidentes.

Estudos mostram que apenas 30 mg de anabacina já são suficientes para matar uma pessoa adulta, ou seja, poucas folhas já podem conter uma dose perigosa. Ao contrário do que se possa imaginar, o cozimento não destrói a toxina, pelo contrário, o calor pode romper as células da planta e liberar ainda mais o veneno, facilitando a absorção pelo corpo.

“Não existe um antídoto para esse veneno. O tratamento vai ser feito no hospital com suporte para respiração, monitorização do paciente e manejo clínico mesmo. Tem gente que pode até precisar fazer hemodiálise por conta disso”, conta o especialista em clínica médica.

Dini alerta que pessoas que consomem plantas selvagens e demonstram os primeiros sintomas de mal-estar precisam procurar imediatamente o hospital. “E o recado é claro: não use nem consuma nenhuma planta que você não conheça bem. A falsa couve pode parecer inofensiva, mas pode ser perigosa e até fatal”, finaliza.