Direto ao Ponto

‘Tendência é Bolsonaro contra Haddad, mas há espaço para surpresas’

Para interpretar a reta final das eleições, o Direto ao Ponto desta semana conversa com André Jácomo, professor de ciências políticas do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF)

A tendência eleitoral deste ano é que de fato aconteça um segundo turno entre os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), afirma o especialista em comportamento político André Jácomo. Ele é o convidado do programa Direto ao Ponto deste domingo, dia 30.

 

No entanto, de acordo com ele, é preciso ficar atento ao movimento do voto útil e do voto estratégico. “É quando o eleitor deixa de votar num candidato da sua preferência para derrotar um que ele não gosta, embora uma semana seja um tempo muito curto para mudar o panorama”, explica.

 

Jácomo afirma que pode acontecer de um eleitor preferir votar em um candidato que está aparentemente fora do segundo turno por entender que “são melhores adversários para candidatos que não querem ver vitoriosos, como por exemplo um eleitor do Haddad migrar para o Ciro por acreditar que o candidato do PDT é melhor adversário para o Bolsonaro”.

 

O cientista também diz que é preciso observar o caminho dos eleitores de candidatos menores, como Álvaro Dias (Podemos),  de João Amoêdo (Novo) ou Guilherme Boulos (PSOL).

 

“Para compreender para onde vai esses votos é preciso observar as orientações partidárias e preferências distintas de cada legenda” reitera. Para Jácomo, há uma tendência dos votos de Álvaro Dias migrarem para Bolsonaro e do Amoêdo também, mas não com a mesma força.

 

Questionados sobre o papel do MDB e do PSDB – dois partidos de peso no cenário político – o especialista disse que os candidatos não aparecem com tanta expressividade, mas podem ajudar a definir o segundo turno a partir das alianças políticas. “O MDB e o PSDB têm palanques estaduais que são importantes para o segundo turno”, fala.

 

Outro ponto citado por Jácomo é de que embora o número de abstenções indicado pelas últimas pesquisas aparentar se manter na média histórica, o número de eleitores no segundo turno pode diminuir pela grande rejeição dos presidenciáveis que lideram a corrida.

 

Tendência história

 

Segundo Jácomo, a predominância da preferência em Jair Bolsonaro se dá não pelo simples fato de que sua agenda política ser voltada para a segurança, mas porque ele representa a quebra de uma tendência história de eleições polarizadas entre o PT e o PSDB tendo o PMDB como fiel da balança.

 

“Esse padrão se repetia desde 1994 entre os dois partidos. Embora ele não represente uma novidade institucional, pois está dentro da política há anos, ele é novidade no sentido de quebrar a disputa que vinha se mantendo”, reflete.

 

Jácomo diz ainda que Bolsonaro parece ter herdado ainda os votos dos anti-petistas que, em 2014, votaram no Aécio Neves (PSDB) por rejeição à então candidata Dilma Rousseff (PT).

 

“Olhando as pesquisas agora, parece ser a tônica desse ano, em que temos o Haddad despontando no segundo turno e o Bolsonaro herdando os votos que não gostam do PT. A quebra da polarização nessa ótica se explica em: pessoas que gostam do PT e pessoas que odeiam o PT.”

 

Nesse sentido é que a presença de figuras consolidadas no agronegócio disputando a vice-presidência como Kátia Abreu (PDT) e Ana Amélia (PP) não influenciam tanto o voto do setor produtivo, porque, para Jácomo, ambas representam uma importante escolha nas estratégias políticas internas, mas não têm tanto peso para a cabeça do eleitor.