Internacional

'É essencial reduzir a dependência da Rússia', diz CEO da Yara

A Yara International, uma das maiores empresas de fertilizantes do mundo, teve um escritório atingido por um míssil em Kiev, na Ucrânia

Nesta terça-feira (1º), o presidente e CEO da Yara International, Svein Tore Holsether, escreveu um artigo, publicado no site da empresa norueguesa, uma das maiores fabricantes de fertilizantes do mundo, condenando os ataques russos na Ucrânia.

Segundo Holsether, as consequências de longo prazo da guerra no abastecimento global de alimentos ”afetarão as partes ricas e pobres do mundo”. Para o CEO da Yara é “essencial reduzir a dependência da Rússia.

Yara
Yara é um dos maiores produtores mundiais de fertilizantes minerais. Foto: Yara/Reprodução

“Estamos extremamente preocupados com a grave situação na Ucrânia e apoiamos totalmente a condenação do governo norueguês à invasão militar russa. A Yara foi diretamente atingida pelo conflito tanto por ter funcionários na zona de guerra na Ucrânia quanto por um míssil que atingiu o prédio de escritórios da Yara em Kiev. Felizmente, nenhum de nossos funcionários foi ferido fisicamente. Ao mesmo tempo, estamos adquirindo uma quantidade considerável de matérias-primas essenciais da Rússia, usadas para a produção de alimentos em todo o mundo”, escreveu.

No texto, Holsether diz que a Ucrânia é uma das principais nações agrícolas do mundo.

“Os agricultores estão agora entrando em um estágio crucial na temporada agrícola em que fatores de entrada como fertilizantes, sementes e água determinarão o rendimento da próxima colheita. Os cálculos mais extremos indicam que se não for adicionado fertilizante ao solo, as colheitas podem ser reduzidas em 50% até a próxima colheita”.

Já a Rússia, continua o CEO, além de ser um dos maiores produtores mundiais de trigo, também tem enormes recursos em termos de nutrientes.

“As plantas precisam de nitrogênio, fosfato e potássio para crescer. O nitrogênio é fornecido a partir da amônia, que é produzida a partir do nitrogênio do ar e do gás natural. A importância do gás tem estado na ordem do dia no debate em torno dos elevados preços do gás europeu em 2021 e início de 2022. Atualmente, 40% do abastecimento de gás europeu é proveniente da Rússia. Em relação ao potássio (sal extraído de jazidas de argila), o mercado é altamente concentrado e frágil à mudança. Hoje, 70% do potássio extraído e 80% de tudo exportado vem do Canadá (40%), Bielorrússia (20%) e Rússia (19%). No total, 25% do suprimento europeu desses três nutrientes vem da Rússia”.

Preocupação

No documento, o CEO diz que a Yara é uma fornecedora de soluções para o setor agrícola na Ucrânia e uma grande compradora de matérias-primas da Rússia.

Sempre cumprimos os regulamentos atuais, sanções e nossas próprias diretrizes. A flutuação livre de mercadorias através das fronteiras foi possível em um momento de maior estabilidade geopolítica. Agora, com as condições geopolíticas desequilibradas, as maiores fontes de matéria-prima para a produção de alimentos da Europa estão sujeitas a limitações e não há alternativas de curto prazo. Uma consequência potencial é que apenas a parte mais privilegiada da população mundial tem acesso a alimentos suficientes. Preços mais altos de alimentos e fertilizantes podem impactar positivamente os resultados da Yara no curto prazo. No entanto, as perspectivas sociais e econômicas estão completamente sincronizadas no longo prazo: a criação de valor a longo prazo para empresas privadas só pode ser alcançada por meio de um sistema alimentar sustentável, com alimentos acessíveis e acessíveis para a população mundial. Um mundo com abastecimento alimentar instável é um mundo com fome em partes do mundo, aumento da mortalidade, conflito armado, migração, tumultos e sociedades desestabilizadas que podem acelerar ainda mais as tensões geopolíticas“.

Segundo o CEO, é crucial que a comunidade internacional se reúna e trabalhe para garantir a produção mundial de alimentos e reduzir a dependência da Rússia, embora o número de alternativas hoje seja limitado.

“Isso constitui um dilema difícil entre continuar abastecendo-se da Rússia a curto prazo ou cortar a Rússia das cadeias alimentares internacionais. A última opção pode ter consequências sociais consideráveis. Essas considerações não devem ser feitas por empresas individuais, mas precisam ser feitas por autoridades nacionais e internacionais. A urgência agora está em ajudar a Ucrânia e o povo ucraniano. Ao mesmo tempo, estamos pedindo aos governos noruegueses e internacionais que se unam e protejam a produção global de alimentos e trabalhem juntos para diminuir a dependência da Rússia”, concluí.