POLÊMICA

Combate ao agronegócio é tema de aula em universidade federal do RS

Parlamentares e entidades do setor repudiam evento ligado à turma de medicina veterinária da UFPel

evento UFPel contra o agronegócio
Foto: Reprodução Redes Sociais

Um evento sediado na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) na segunda-feira (22) revoltou entidades do agro brasileiro pelo teor político, sendo taxado por parlamentares e associações representativas do setor como manifestação da extrema-esquerda em ambiente público federal.

Isso porque durante a aula inaugural da 6ª Turma Especial de Medicina Veterinária do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), realizada no auditório do Centro de Ciências Humanas e Sociais (CEHUS) do campus, também foi sediada a abertura oficial da XII Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária, cujo tema foi “defender a vida, combater o agronegócio”.

Diante da ocasião, o deputado federal do Rio Grande do Sul, Ubiratan Sanderson, protocolou um ofício diretamente ao Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, solicitando que seja apurado possível discurso de ódio contra o agronegócio e desvio de finalidade no uso do espaço da UFPel para promoção político-ideológica.

Segundo ele, o tema do evento, que tem o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) como um dos principais apoiadores, constou em materiais de divulgação pública do evento, cartazes, comunicações digitais e falas de organizadores e participantes, sendo apresentada como mote político e pedagógico da atividade, o que lhe confere caráter oficial.

No texto, o parlamentar advoga que o uso do slogan, adotado como título institucional da jornada, extrapola os limites do debate acadêmico legítimo ao propor o “combate” a um setor econômico específico que representa parcela expressiva da economia nacional, é legalmente constituído, e integra a cadeia produtiva que abastece o mercado interno e externo de alimentos, combustíveis e matérias-primas.

De acordo com Sanderson, a expressão “combater o agronegócio”, ao ser adotada com apoio institucional e financiamento público indireto (por meio do Pronera), pode configurar discurso de hostilidade e incitação à animosidade contra indivíduos, empresas e atividades inteiras que operam de maneira lícita, contribuindo com tributos, empregos e desenvolvimento regional.

Em suas redes sociais, o deputado estadual do Rio Grande do Sul Felipe Camozzato também expressou repúdio ao evento.

Notas de repúdio

Em nota assinada nesta quarta-feira (24), a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) também manifesta preocupação com o evento.

“A atividade, que para nossa perplexidade e indignação, contou com conivência da Reitoria da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), local do evento, vai em caminho contrário às necessidades e anseios da sociedade brasileira”, destaca a entidade.

Segundo a Farsul, ao estimular o ataque a um setor que é responsável por alimentar milhões de brasileiros, além de mais duas centenas de outros países, faz apenas aumentar a cizânia em um país acossado pelo ranço ideológico.

“O discurso de ódio contra aqueles que são apontados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) como exemplo de agricultura sustentável em nada agrega ao desenvolvimento de nossa nação”.

A Farsul também ressalta que é grave o fato de a XII Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária ocorrer dentro de um ambiente acadêmico, onde deveria imperar o conhecimento, a tolerância e a concórdia.

“A discussão de ideias é saudável e necessária, sem dúvida nenhuma, mas a mesquinhez da ira gratuita em nada agrega ao debate. Ainda mais quando esse estímulo ao ódio vem de um grupo que ascende ao ensino superior gratuito de forma privilegiada por uma legislação benevolente a um público específico”, diz outro trecho da nota.

O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS) também divulgou nota em que repudia o evento, considerando o tema desta edição inaceitável.

“Para o CRMV-RS, o agronegócio é um pilar essencial do desenvolvimento nacional, responsável por milhões de empregos, pela produção de alimentos e pelas oportunidades oferecidas a médicas e médicos-veterinários e zootecnistas. Em vez de ser combatido, deve ser fortalecido com base em ciência, tecnologia, sustentabilidade e respeito”, destaca.

Resposta da Universidade

Em nota, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) ressalta que a Aula Inaugural da 6ª Turma Especial de Medicina Veterinária do Pronera refletem o espírito de debate e pluralidade que caracteriza a vida universitária, em sintonia com sua longa trajetória de formação de profissionais críticos e comprometidos com diferentes setores da sociedade.

“É na universidade em que os projetos de sociedade são debatidos a partir das mais diferentes tendências conceituais e assim se buscam perspectivas para fomentar o desenvolvimento em seus diferentes contextos”, diz.

A UFPel também destaca que há mais de 20 anos, a UFPel mantém uma parceria com o Pronera, programa executado pelo Incra e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceria com o Ministério da Educação (MEC), voltado a oferecer educação formal a trabalhadores e trabalhadoras rurais assentados da reforma agrária, contribuindo para a democratização do acesso ao ensino superior e formando profissionais de excelência que hoje atuam em diferentes regiões do país, assim como ocorre com os egressos de todos os demais cursos da instituição.

Segundo a instituição, os mais de 100 cursos de graduação e 48 programas de pós-graduação a transformam em um espaço plural que atua em diversas áreas do conhecimento, entre elas as Ciências Agrárias.

“Cursos como Agronomia, Zootecnia, Engenharia Agrícola e Medicina Veterinária desenvolvem pesquisas e parcerias que contribuem tanto com a agricultura familiar quanto com o agronegócio, reconhecendo a importância de todos os segmentos para o desenvolvimento do Brasil”, ressalta a nota.