
O Cerrado perdeu 40,5 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2024 — o equivalente a 28% de sua cobertura original. O dado faz parte da Coleção 10 do MapBiomas, divulgada nesta quarta-feira (1º), que detalha as transformações ocorridas no segundo maior bioma brasileiro ao longo de quatro décadas.
Hoje, um em cada quatro municípios do Cerrado tem menos de 20% de vegetação nativa, enquanto apenas 16% preservam mais de 80% de sua área com cobertura natural. Em 1985, esse percentual era de 37%.
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No mesmo período, a região conhecida como Matopiba, que reúne Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia e representa 30% do Cerrado, respondeu por 39% da perda líquida de vegetação nativa, equivalente a 15,7 milhões de hectares. Só nos últimos dez anos, 73% de todo o desmatamento do bioma ocorreu nessa área, hoje consolidada como a principal fronteira agrícola do país.
Segundo Bárbara Costa, analista de pesquisa do IPAM e integrante da equipe do MapBiomas Cerrado, o processo foi acelerado pela expansão agropecuária:
“O Cerrado vem sendo transformado em ritmo acelerado nas últimas quatro décadas. Mais recentemente, o Matopiba se consolidou como a principal fronteira agrícola, concentrando grande parte da perda da vegetação nativa, restando metade da cobertura natural do bioma.”
Expansão da agropecuária
Entre 1985 e 2024, as atividades agropecuárias no Cerrado cresceram 74%. A agricultura foi o uso da terra que mais se expandiu, com alta de 533% (+22,1 milhões de hectares), puxada principalmente pela soja, que hoje ocupa quase metade (49%) da área plantada no Brasil.
As pastagens, embora em queda desde o pico de 2007, ainda ocupam 24,1% do bioma. Já a silvicultura cresceu 446% no período, enquanto culturas perenes como café e cítricos também se expandiram.
Recursos hídricos sob pressão
O levantamento mostra ainda que a superfície natural de água encolheu 28% em 40 anos, enquanto cresceu a área destinada a hidrelétricas, reservatórios e aquicultura.
Para Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM e coordenadora do MapBiomas Cerrado e Fogo, o dado reforça a necessidade de políticas que conciliem produção agrícola e conservação ambiental:
“Mais da metade do bioma está em imóveis rurais. É fundamental promover incentivos que conciliem produção, conservação e recuperação da vegetação nativa para garantir a segurança hídrica, alimentar e climática do Brasil.”
Áreas protegidas resistem
O estudo também destaca que terras indígenas (97%), áreas militares (95%) e unidades de conservação (94%) apresentam os maiores percentuais de preservação. Já áreas urbanas mantêm apenas 7% de vegetação nativa.