Agricultura

Agronegócio rebate declaração do ministro das Relações Exteriores

Em aula magna de uma faculdade, Ernesto Araújo afirmou que o Brasil não vai vender a alma para conseguir comercializar soja e minério de ferro

Ernesto Araújo, Ernesto Araújo, ministro Relações Exteriores
Foto: José Cruz/Agência Brasil

O setor agropecuário manifestou, em carta, preocupação quanto às declarações do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sobre a relação do Brasil com a China. A carta foi enviada por associações que integram o Instituto Pensar Agro como sugestão para a presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). O presidente da FPA, deputado Alceu Moreira (MDB-RS), no entanto, decidiu não entregar a manifestação, depois de encontros com o governo e, principalmente, após a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, anunciar uma missão para a China.

“A Frente Parlamentar da Agropecuária gostaria de externar a sua preocupação em relação às supostas declarações reproduzidas pelo noticiário nacional, nas quais teriam sido feitas afirmações no sentido de diminuir a importância das relações comerciais entre Brasil e China”, diz a carta.

Em aula magna para os alunos do Instituto Rio Branco, na semana passada, o ministro falou, entre outros tópicos, sobre a relação diplomática com a China. “Queremos vender, por exemplo, soja e minério de ferro, mas nós não vamos vender a nossa alma. Isso é um princípio claro que temos muito presente”, disse.

“Muita gente quer que nós vendamos a nossa alma e muita gente não acha que tenhamos nenhuma alma para vender. E querem reduzir a nossa política externa a simplesmente uma questão comercial. Isso não vai acontecer.”

A carta destaca que a China se tornou o principal parceiro comercial do país desde 2009. “O desenvolvimento da economia chinesa tem elevado as demandas dos produtos agrícolas brasileiros”, diz a carta, ressaltando que o Brasil tem superávit de US$ 32 bilhões com os chineses e que os produtos mais exportados aos chineses são soja, celulose, carne bovina, frango, açúcar e algodão.

Visita

Por meio de sua assessoria, a presidência da FPA informou que Moreira fará uma visita oficial ao chanceler para apresentar a pauta do agronegócio. A reunião ainda não tem data, mas deve ocorrer após a visita oficial aos EUA. Moreira já teve reuniões com a ministra da Agricultura e com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

A carta assinala ainda que “o estabelecimento de uma agenda pautada no pragmatismo econômico é o único caminho possível para quem vislumbra o crescimento econômico de uma nação”.

“Reiteramos nossa confiança em vossa capacidade para trilhar esse caminho, com a sensibilidade de que o agronegócio brasileiro não pode abrir mão de seus principais parceiros estratégicos, com quem mantém próxima relação comercial”, aponta.

Veja o conteúdo da carta:

Exmo. Sr. Ernesto Araújo, Ministro das Relações Exteriores.

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) gostaria de externar a sua preocupação em relação às supostas declarações reproduzidas pelo noticiário nacional, nas quais teriam sido feitas afirmações no sentido de diminuir a importância das relações comerciais entre Brasil e China.

O agronegócio brasileiro, responsável por 23,5% do PIB brasileiro e metade de nossas exportações, tem sido o sustentáculo da economia há mais de uma década, quando teve início a mais grave crise econômica vivida pelo país. Nesse sentido, os diversos elos das cadeias agroindustriais têm sido responsáveis, não só pelos poucos resultados positivos na economia, mas como por parte significativa do emprego e renda no país.

Desde 2009, a China tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil. O desenvolvimento da economia chinesa tem elevado as demandas dos produtos agrícolas brasileiros. A China conta com a maior classe média do planeta e o incremento na renda dessa população tem aquecido o comércio mundial de alimentos. O crescimento das exportações brasileiras aos chineses consolidou-se um alívio para os empresários do Brasil, visto que houve uma queda do volume de vendas internacionais desde 2013, quando as exportações brasileiras atingiram US$ 49 bilhões, e nos três anos seguintes caíram para US$ 37 bilhões.

Em 2017, o volume de nossas exportações para a China alcançou a cifra de US$ 50 bilhões, valor equivalente a duas vezes o comércio com os Estados Unidos, o maior concorrente da pauta exportadora brasileira. Do ponto de vista do saldo comercial, temos um superávit da ordem de US$ 32 bilhões com os chineses. Dentre os produtos agro mais exportados aos chineses, destaca-se soja, celulose, carne bovina, frango, açúcar, algodão e com forte potencial para um grande número de setores do agro, tais como suco de laranja, frutas em natura, café, arroz, laticínios e biotecnologia agrícola, entre outros.

Para concluir, entendemos que o estabelecimento de uma agenda pautada no pragmatismo econômico, como sempre defendido por Vossa Excelência, é o único caminho possível para quem vislumbra o crescimento econômico de uma nação. Reiteramos nossa confiança em vossa capacidade para trilhar este caminho, com a sensibilidade de que o agronegócio brasileiro não pode abrir mão de seus principais parceiros estratégicos, com quem mantém próxima relação comercial e de bons frutos para todas as partes.

Cordialmente

‘Ministro acerta ao transformar embaixadas em postos de exportações’