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Empresário investe na maior floresta de mogno africano do mundo

Com sede em Roraima, empresa planeja plantar 19 milhões dessas árvores, que são vendidas por até 1.700 euros o metro cúbico no mercado externo

Estufas onde são criadas as mudas da Mahogany Roraima

O Brasil terá a maior floresta de mogno africano do mundo. O projeto, que está sendo implementado pela Mahogany Roraima, prevê uma área plantada de 24 mil hectares em 10 anos no estado de Roraima. É o equivalente a 19 milhões de árvores. Atualmente, a maior floresta de mogno africano está na Austrália e tem 15 mil hectares.

O presidente da Mahogany Roraima, Marcello Guimarães, explica que o estado foi escolhido por ter o menor preço de terra por hectare no Brasil e a melhor condição de solo e clima para o cultivo do mogno africano. O estado também dispõe de muita terra improdutiva, o que motivou a Mahogany Roraima a fechar parcerias agrícolas com os proprietários, que ficarão com 20% do valor produzido.

Roraima também está em uma localização estratégica para escoamento da produção, que será 100% destinada ao mercado internacional. O estado está localizado a 600 km do porto de Georgetown, por onde será escoada a madeira. Georgetown, por sua vez, está a apenas um dia de navegação do Canal do Panamá.

Serão investidos R$ 487 milhões em 21 anos, com compra de terras e plantio (10 anos de plantio e 11 anos de manutenção, inclusive corte). A estimativa é que 5.9 milhões de metros cúbicos poderão ser cortados entre os próximos 36 e 96 anos, dependendo da quantidade comercializada por ano.

O Brasil vendia uma média anual de 175 mil m³ de mogno brasileiro até a proibição da sua extração para evitar a extinção da espécie.

Marcello Guimarães mostra o crescimento acelerado do mogno africano

A empresa prevê um retorno de R$ 11 bilhões de reais. Além do uso de tecnologias de ponta, a Mahogany Roraima firmou parceria técnico científica com três equipes de pesquisadores. Uma delas estudará todos os solos das florestas (talhões), com o objetivo de torná-las autossuficientes em três anos.

Outra equipe fará pesquisas sobre as melhores condições de manejo no viveiro e nos talhões e irá conduzir as pesquisas de clonagem. A terceira equipe ficará responsável pela pesquisa do desenvolvimento das raízes no campo e nos outros plantios de mogno africano no estado de Roraima.

A empresa também tem trabalhado junto com a alemã Astech para criar um sistema automatizado de irrigação (o sistema identifica o mogno pela cor verde e ativa a solenoide que abre a liberação de água), a construção de uma máquina para adubação de arranque e cobertura automática (identificando onde está a árvore), e finalmente um sistema de plantio de mudas 100% automático.

 

Exílio em Cuba

Nascido no Rio de Janeiro, o presidente da Mahogany Roraima, Marcello Guimarães, mudou para Cuba aos 3 anos. E o motivo de sua mudança virou manchete nos jornais brasileiros. No dia 4 de janeiro de 1970, ele e seu irmão Eduardo, um ano mais novo, embarcaram com a mãe em um voo que partiria de Montevidéu com destino ao Rio de Janeiro. Marília Guimarães, a mãe dos meninos, era a militante de esquerda de codinome Miriam. Naquele momento ela participava do sequestro da aeronave, que teve seu destino desviado para Havana, capital de Cuba.

“Passamos dez anos por lá. Minha mãe trabalhou em Cuba com a Nueva Trova Cubana e estudou medicina. Nós estudamos em escolas convencionais e, da 7a série em diante, em uma escola no campo. Meio período era de aula, e a outra metade era de trabalho no campo, para integrar e ensinar como era a vida rural. Daí vem o meu amor pela terra”, diz o empresário. A família só voltou ao Brasil em 1980, beneficiada pela Anistia.

De volta ao país, Marcello passou a desenvolver seus conhecimentos de informática e tecnologia. A isso somou seu lado empreendedor, com o qual montou a empresa responsável pela primeira eleição informatizada do Brasil. Outra iniciativa notável foi o desenvolvimento do Visual Kit 5, pacote de ferramentas que permite o desenvolvimento de programas mesmo para quem não tem familiaridade com as linguagens para a formulação de softwares.

Plantação de mogno em área da Mahogany Roraima

Depois de uma temporada morando em Miami, Marcello se instalou em Boa Vista, capital de Roraima, há cinco anos. Ali, resolveu resgatar a sua paixão pelas coisas do campo. Começou criando suínos. Depois passou para vacas leiteiras. O problema é que, nos períodos de seca, qualquer faísca gera incêndios florestais em Roraima. “Em 2013 e 2014, a fazenda pegou fogo. Perdi animais. Tinha de mudar”, diz.

Foi procurando terras que ele ouviu um corretor falar do mogno africano, madeira pela qual os europeus chegam a pagar 1.700 euros (cerca de R$ 6.000) pelo metro cúbico. “Falei com um produtor de Minas Gerais. Perguntei se Roraima se prestava a essa cultura. Ele disse que é o melhor lugar do Brasil. Estamos na mesma latitude do clima mais propício da África.”

O regime de chuvas parecido faz com que a árvore cresça rapidamente durante os períodos úmidos e ganhe resistência e seu tom avermelhado durante a época de seca. E são essas características que tornam a madeira tão valiosa.

Com terra barata e muito investimento em pesquisa, Marcello desenvolveu um método de plantio  que reduz as perdas a menos de 1%, quando o normal é algo em torno de 10%. Além disso, criou um sistema que permite cultivar áreas grandes num espaço curto de tempo.

Seus avanços já despertam a curiosidade de investidores estrangeiros. Principalmente os interessados em fazer integração lavoura-floresta. “Um grupo de israelenses vai plantar cacau no Brasil no meio dos nossos mognos. Tem também um chinês que está levando a ideia para implantar em seu país”, conta Marcello.

Os bichos começam a voltar para áreas reflorestadas

Plantar mogno é um investimento de risco e de longo prazo. Leva-se em média 15 anos até que a árvore atinja o ponto ideal. Para manter o negócio de pé, além do repasse de tecnologia, Marcello conta com créditos de reposição florestal, a ajuda de investidores e de fazendeiros com terras ociosas, que topam ceder a área em troca de parte da renda gerada pela comercialização da madeira.

Na visão do empresário, mercado não é problema. “Há muitos compradores das nações ricas. As indústrias de mobiliário, decoração, automotiva, aeronáutica e naval. E tem também a indústria farmacêutica, pois a casca do mogno é indicada para o combate de várias doenças.”

Enquanto seu negócio vai ganhando corpo e avançando pelas terras de Roraima, o empresário corre para obter todas as licenças ambientais para o projeto. “A primeira demorou um ano e meio. Agora estou em busca da definitiva.” Esta talvez demore um pouco mais, pois envolve o trabalho de ambientalistas, geógrafos e até arqueólogos para fazer o estudo sócio-econômico que irá levantar o impacto do projeto na fauna e na flora do estado.