Agricultura

‘Foi feito o melhor possível’, garante Tereza Cristina sobre Plano Safra

Em entrevista ao Mercado & Cia., a ministra da Agricultura falou sobre crédito rural, meio ambiente, relações internacionais e o futuro do setor produtivo

O Plano Safra 2020/2021 foi lançado nesta quarta-feira, 17, em Brasília. De acordo com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o governo se focou nos pequenos e médios produtores, além de em linhas de investimentos específicas voltadas à inovação tecnológica e meio ambiente. “Foi feito o melhor possível”, garantiu.

O programa Mercado & Companhia convidou a ministra para falar sobre o anúncio e sobre temas pertinentes ao agronegócio brasileiro. Confira a entrevista:

Canal Rural — O Plano Safra 2020/2021 saiu como você esperava ou acredita que poderia ter vindo com juros menores, já que todas as modalidades superam a taxa Selic, que agora está em 2,25%?

Tereza Cristina — Primeiro, não vejo ninguém pegar recursos em nenhum banco nesse patamar. Claro que é a Selic, a taxa de referência, mas é muito difícil o banco emprestar neste valor. Então, acho que conseguimos baixar as taxas de juros.

Vivemos um momento difícil no nosso país e no mundo com a pandemia, onde o governo teve que fazer uma opção também de assistir pessoas que perderam empregos e setores que tiveram desastres econômicos e financeiros enormes. O setor agropecuário tem sofrido, principalmente alguns segmentos que tiveram muitos mais problemas que outros, mas rodou.

Quando começamos a discuti-lo em janeiro, a nosso plano seria diferente. Estávamos preparados para que os juros livres caíssem, como vinham caindo, e houvesse mais crédito abundante nas instituições financeiras, no crédito livre. E o governo iria apoiar cada vez mais os pequenos e médios produtores. Isso mudou completamente com a Covid-19 e tivemos que fazer um plano que atendesse a todos.

Conseguimos mais recursos junto ao Ministério da Economia. Houve sensibilidade da equipe econômica e do ministro Paulo Guedes. Não foi fácil a discussão. Uma coisa é olhar só o nosso lado, mas o Ministério da Economia tem que atender muitos ministérios e segmentos da economia.

Claro que, como ministra da Agricultura, gostaria de chegar e dizer “olha mais cinco bilhões para diminuir taxas de juros e principalmente aumentar os volumes”. É uma equação muito difícil, quando você tem esses recursos. Não é só baixar os juros. Você tem linhas mais longas de investimento que tomam mais recursos de equalização de juros. É uma equação muito complicada, mas entendo que foi o melhor e acho que atendeu as expectativas do Ministério da Agricultura.

Canal Rural — O setor tem pedido a revisão dos custos administrativos e tributários que compõem a taxa de juros do crédito rural oficial. Pedem também a redução do chamado spread bancário, que é a diferença entre o que os bancos pagam na captação de recursos e o que cobram ao emprestar o dinheiro. Quais avanços já foram alcançados neste tema?

Tereza Cristina — O Ministério da Agricultura tem conversado muito sobre este tema com diversas instituições financeiras, para que a gente consiga diminuir essas taxas e colocar mais dinheiro à disposição do crédito agrícola. Essa conversa começou e já temos alguns resultados, mas ainda não são os que queremos ver. Essa conversa continua, semanalmente.

Canal Rural — Produtores que tiveram perdas pela seca ou pela Covid-19 lamentam as dificuldades para acessar recursos do crédito. Como reverter essa situação?

Tereza Cristina — Estamos trabalhando isso, prorrogando prazos, principalmente no Rio Grande do Sul, onde a seca foi maciça, não aconteceu pontualmente, mas no estado todo. Estamos olhando isso, fazendo várias ações. Algumas têm dificuldades, a gente passa uma resolução, mas muitas vezes banco não consegue fazer. Temos revisto isso. Temos tido ajuda total do Ministério da Economia e do Banco Central para resolver isso.

Temos um problema agora da data de 9 de abril, de quando fizemos as ações para ajudar os municípios atingidos pela seca. Como a seca continuou, muitos municípios ficaram de fora, então estamos revendo isso. É difícil, temos normas e temos prestar contas do dinheiro público. Não é má vontade da ministra ou da sua equipe; Queremos resolver, existe vontade política para isso, mas esbarramos burocracia. Estamos tirando ela da frente, mas temos que ter muito cuidado.

Canal Rural — Uma das ênfases do Plano Safra foi a sustentabilidade ambiental, seja pela menor taxa de juros para investimentos na linha do Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) seja pelo incentivo aos insumos biológicos, entre outros. Qual o tamanho da preocupação do Ministério da Agricultura em relação ao tema ambiental e a imagem do Brasil?

Tereza Cristina — A nossa preocupação é grande, em função da imagem que se tem hoje do Brasil lá fora. Esse tema está nas nossas considerações sempre, por isso demos um ênfase a essas linhas. A gente sabe que esse trabalho é continuado. Temos conversado muito com a Embrapa. Vamos certificar vários protocolos de produção brasileira, com a nossa tecnologia única, tropical.

Acho que no segundo semestre este tema será mais presente, principalmente no pós-Covid. E a outra coisa é a sanidade também será cobrada. Os países já se preocupavam antes com a qualidade dos produtos, e agora vão estar cada vez mais preocupados com esse assunto. O Brasil está adiantado nisso, mas temos que unificar os discursos e trabalhar todos na mesma página da sanidade para o mundo.

Canal Rural – O início da seca bem mais cedo do que o normal neste ano preocupa e meteorologistas afirmam que podemos ter mais queimadas em 2020 do que foram observadas em 2019. A situação deve ser mais crítica entre agosto e setembro, dizem eles. O Ministério da Agricultura tem um plano de ação para evitar danos à imagem do Brasil e efeitos no agro em decorrência desse tema?

Tereza Cristina — O governo do presidente Jair Bolsonaro recriou o Conselho da Amazônia, comando pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão. Ele está fazendo essa coordenação entre os ministérios, cada um com o seu papel. As providências vêm sendo tomadas. É um assunto que deveríamos dar mais atenção na média, o que o conselho está fazendo, as ações já iniciadas. A nossa ideia é que quando chegar agosto ou setembro não tenhamos o mesmo nível de queimadas do ano passado.

Canal Rural – Ministra, você gostaria de destacar alguma dessas ações do conselho?

Tereza Cristina — O Ministério da Defesa está patrulhando a Amazônia. Há muitos helicópteros e aviões fazendo reconhecimento para ver onde está ocorrendo desmatamento, que é um indício de onde pode ter queimadas. E há pessoas multando para coibir quem está fazendo de forma ilegal. Quem está dentro da lei, está livre dessa fiscalização.

Vamos fazer plano de comunicação interno e para uso externo. Gente especializada, de dentro do governo, que vai mostrar essas ações. Mostrar que o Brasil está preocupado, que existem ações para isso e que produtor é produtor e grileiro é grileiro.

Canal Rural — As exportações do agro estão avançando em plena pandemia. Ao mesmo tempo em que o setor ganha mercados, ele também é acusado de não cuidar da Amazônia e promover o desmate, o que gera risco de embargos comerciais. A senhora acredita que haja protecionismo ambiental ou o Brasil precisa redobrar os cuidados com o meio ambiente?

Tereza Cristina — Protecionismo existe e vai ficar mais forte pós-pandemia. Muitos países já começaram ações que mostram que vão se fechar. Agora, o agro brasileiro é sustentável! O que precisamos é mostrar essa imagem, que o nosso alimento saudável, que não tem país no mundo com agricultura e pecuária tão sustentáveis como a nossa. É mostrar a realidade e a verdade!

Canal Rural — Ainda em 2020, ruídos vindos de dentro do governo preocuparam o agro, em função da importante relação comercial que o Brasil tem com a China. Como está essa relação?

Tereza Cristina — Sobre a relação do Brasil com a China, os números dizem. Tem muita gente falando muita coisa, mas o agro brasileiro continua exportando. [A China] é o nosso maior parceiro comercial, e não só do agro.

Temos que pensar o seguinte: o agro brasileiro tem produção suficiente para abastecer o seu mercado interno e outros países do mundo.

Ontem, falava com o pessoal do mundo árabe e islâmico que temos muito a caminhar. Temos vários coisas a serem melhoradas e implementadas. Frutas, por exemplo, o Brasil é um grande produtor, mas exporta muito pouco. Pescado também temos potencial enorme para crescer. Na área de grãos, éramos grandes só na soja, agora somos no milho, no algodão. Temos também culturas que nem as pessoas lembram que existem, mas existem e estão dando renda ao produtor; estamos abrindo mercado mais mercado para elas, como gergelim, grão de bico, feijão-caupi etc. A nossa balança comercial tem que ser cada vez mais diversificada, e todos os países são tratados de maneira igual. Quem quiser exportar 10 mil toneladas é tratado igual a quem exporta 2 milhões de toneladas.

Canal Rural — A senhora confirma a substituição do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Eduardo Sampaio?

Tereza Cristina — Ele será substituído e virá trabalhar comigo, como meu braço direito, fazendo a coordenação de todas as secretarias do Ministério da Agricultura.

Quem vem para o lugar é o ex-deputado César Halum, que foi meu colega na Frente Parlamentar [da Agropecuária]. O motivo é administrativo e ele assume assim que estiver resolvida toda a burocracia.

Canal Rural — Considerações finais, ministra?

Tereza Cristina — Quero dizer que esse Plano Safra, com todas as dificuldades que teve para ser lançado ontem, dificuldade que o Brasil e o mundo passam, de aperto fiscal, foi feito o melhor possível. Pensamos nos produtores rurais que engrandecem o Brasil e que não pararam de trabalhar. Isso foi levado em consideração para conseguir esse aumento nos recursos. Foi o possível.

Desde o primeiro plano deste governo, no ano passado, focamos nos pequenos e médios produtores. Fizemos a MP do Agro, que foi melhorada pelo Congresso e se tornou lei, com essa finalidade: fazer com que bancos possam colocar dinheiro e acreditar que atividade agropecuária rende, que é importante para o país e, portanto, merece ter mais crédito e apostas.

Todas as crises trazem com elas uma solução. Vamos mostrar para o consumidor brasileiro que o agro produz, que é uma coisa nobre, e que como atividade econômica, a agropecuária brasileira é ótima para se investir e apostar.