Agricultura

Sistema da Embrapa reduz risco climático para milho safrinha

Trata-se do Antecipe, um método de cultivo intercalar mecanizado de milho safra nas entrelinhas da soja antes da colheita

Um sistema de produção de grãos, desenvolvido pela Embrapa, incrementa ainda mais a produção da soja e do milho segunda safra (conhecido também como afrinha). Trata-se do Antecipe, um método de cultivo intercalar mecanizado de milho safra nas entrelinhas da soja antes da colheita.

Este sistema, desenvolvido ao longo de 14 anos de pesquisa, antecipa a semeadura do milho segunda safra em até 20 dias antes da colheita da soja.

Segundo a Embrapa, a tecnologia é composta por três pilares: um sistema inédito de produção de grãos, uma semeadora-adubadora desenvolvida para este cultivo e um aplicativo para auxiliar o produtor a planejar de forma correta a implantação do Antecipe no campo.

“O Antecipe foi desenvolvido e aprimorado por pesquisas e validado em várias regiões do país que produzem safrinha, como Minas Gerais, Paraná, Goiás e Mato Grosso”, relata o pesquisador Décio Karam, líder do projeto.

De acordo com ele, os resultados têm promessas, permitindo aumentar a produtividade do milho semeado neste sistema, quando comparado ao cereal semeado fora do crescimento agrícola desenvolvido pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc).

Em áreas conduzidas no estado do Paraná ao longo dos anos de validação da tecnologia, os ganhos de produtividade variaram entre 0,5 a 4 sacos por hectare para cada dia de antecipação.

“Esses resultados dependem da época de antecipação, da cultivar de soja utilizada e das condições climáticas dos anos agrícolas em que os trabalhos foram conduzidos”, explica o pesquisador Emerson Borghi, da Embrapa Milho e Sorgo.

Sistema Antecipe

Na prática, o Sistema Antecipe começa com uma semeadura mecanizada da cultura do milho nas entrelinhas da soja, usando uma semeadora-adubadora desenvolvida para este fim. Para isso, 2020, a Embrapa Milho e So de Morrgo com a empresa Justino de Morgo com a empresa parceria Irmãos S/A (Jumil) desde o desenvolvimento dessa máquina em escala comercial, já disponível aos produtores.

Karam e Borghi ressaltam que “a semeadora-adubadora é de uso múltiplo, ou seja, pode semear a soja no verão e o milho na sequência, com o diferencial de que somente essa máquina faz a semeadura do Antecipe”.

O momento certo para a realização do Antecipe varia conforme a região. O início do estágio para realização da semeadura intercalar começa a partir do R5 da soja (início do enchimento de grãos na vaca). Isso é importante porque, dependendo da região, vai definir uma época de antecipação da semeadura do milho nas entrelinhas da soja.

De acordo com a pesquisa, os melhores resultados com o Antecipe no estado obtido do Paraná foram informados quando o milho foi semeado a partir do estádio R6 ou R7. “É preciso que os produtores e conheçam muito bem uma cultivar de falta e reconheçam os estádios de técnicos, pois a semeadura ao milho, o que não é adequado para o desenvolvimento”, ressaltam muito os métodos de soja cedo.

Não há necessidade de mudanças no espaçamento da soja para a realização da semeadura do milho usando o Antecipe. Na hora da colheita, o milho é cortado junto com a soja, ficando apenas um pequeno caule de cada planta de milho. Só que, nesse momento, toda a lavora de milho já está implantada, com raízes em pleno desenvolvimento e pronta para continuar crescendo.

Com o crescimento dinâmico, o milho continua seu crescimento, mas para isso ele deve estar, no máximo, até o estádio de desenvolvimento V5. “Este nesta fase também é importante, pois, soja, o ponto de crescimento do milho está abaixo da superfície do solo, mesmo com o corte das folhas na colheita da soja, o milho conhecimento seu desenvolvimento”, ressalta.

Os pesquisadores alertam, porém, que a Embrapa não está recomendando a segunda mudança do sistema de cultivo de milho que hoje existe no Brasil. “O Antecipe é uma tecnologia para diminuir riscos, ou seja, aquele milho que semper é semeado fora da época recomendada, por meio do Antecipe, é colocado nas melhores condições de desenvolvimento, aumentando a produtividade quando comparado ao milho semeado tardiamente”, destacam-se.

Os resultados obtidos o momento permitiram inferir que o sistema Antecipe demonstrou enormemente para redução de riscos na que é responsável por mais de 70% da produção nacional de cereais e tem o potencial de expansão desta expansão em área cultivada, considerando apenas as áreas de soja não semeadas com o milho segunda safra.

Além disso, esse cultivo está alinhado às diretrizes estratégicas do governo brasileiro, fornecendo em curto prazo a expansão do sistema de redução da emissão de gases do efeito estufa brasileiro e com a política de agricultura de Baixa Carbono (Plano ABC+).

Crise hídrica

Em Mato Grosso do Sul, a tecnologia chegou no início de 2022 por meio de pesquisas da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) e serão demonstradas em quatro Unidades de Observação. “A tecnologia Antecipe é muito promissora para o estado de Mato Grosso do Sul, pois reduz consideravelmente os riscos climáticos do milho segunda safra”, diz o pesquisador Rodrigo Arroyo Garcia.

Foram selecionadas algumas áreas com parceiros para validação da tecnologia em Mato Grosso do Sul (Dourados, Nova Andradina, Maracaju e São Gabriel do Oeste). “Além de serem áreas representativas na produção, são regiões com características edafoclimáticas em que o milho pode ser consideravelmente beneficiado pela antecipação da semeadura, fugindo das épocas de semeadura que os riscos climáticos são elevados”, destaca.

Em MS, há diversas regiões em que as semeaduras mais tardias do milho segunda safra são muito suscetíveis à deficiência hídrica, e outras também pela ocorrência de geadas. Ele diz ainda que antecipar a semeadura do milho, em método intercalar à soja, “é fundamental naquelas áreas em que a implantação do milho ocorreria já em época menos favorável, próxima dos limites do Zoneamento Agrícola de Risco Climático”.

Para a efetivação do sistema, paralelamente, houve a necessidade do desenvolvimento de uma semeadora-adubadora específica, “haja visto que a semeadura do milho ocorre com a cultura da soja em fase final de desenvolvimento, o que foi possível graças à parceria estabelecida entre a Embrapa e a Jumil”, diz Auro Akio Otsubo, chefe adjunto de Transferência de Tecnologia, da Embrapa Agropecuária Oeste.

Cristiano Taufer, gerente comercial da Pantanal Implementos Agrícolas, diz que a empresa “sempre gostou de trazer novas tecnologias e ideias para o agricultor. E devido a isso, todas as vezes que tivemos a oportunidade de estar em parceria com a Embrapa, uma empresa que tem reconhecimento em nível brasileiro e até mundial, isso nos dá muita credibilidade para ser parceiros.”

Para Fábio Chencci Corrêa, gerente de engenharia da Jumil, empresa que comercializa a semeadora-adubadora, a tecnologia do Sistema Antecipe chamou a atenção por ser disruptiva e fecharam a parceria de cooperação técnica em 2019. “A gente entende que, em breve, ela terá um crescimento exponencial”.

O diferencial, em Mato Grosso do Sul, é que, além do milho safrinha, a semeadora-adubadora possui uma terceira caixa para semeadura de forrageiras, adaptada pela fábrica. Segundo Otsubo, “a possibilidade da semeadura de forrageiras permitirá, o cultivo do milho consorciado com braquiária, assegurando palha para a próxima safra. É uma inovação dentro do Sistema Antecipe”, esclarece.

Quanto à implantação, inicialmente, há o custo de aquisição da máquina adaptada para essa operação de semeadura na entrelinha da soja, além da adequação do trator para que o trânsito entre as linhas na soja não cause danos às plantas. “No entanto, vale ressaltar que é uma semeadora-adubadora que pode ser utilizada para outras espécies sem adoção do Sistema Antecipe. Em função da possibilidade do maior potencial produtivo, e da área de adoção do Antecipe, um ano de colheita do milho de segunda safra já pode amortizar boa parte ou até mesmo a totalidade do investimento”, afirma o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste.

Semeadora-adubadora

Em 2019, a Embrapa desenvolveu o desenvolvedor da semeadora-adubadora, inclusive com pedido de patente. Em seguida a Jumil de implementos agrícolas, empresa a partir do recurso, fazer o processo para melhorias e tornar as máquinas alternativas .

Na safra 2020/2021 passou por configurações, o real de produção a fim de cumprir as exigências dos protocolos para sua fabricação em escala e comercialização.

O diretor da Jumil, Fabrício Rosa de Morais, explica que, na primeira fase do projeto, a semeadora-adubadora foi desenvolvida pela Embrapa e para atender os pequenos e os médios produtores, dando a eles a oportunidade de competir em resultados, diminuir riscos e ampliar a produtividade. Morais ainda o sucesso e a velocidade do desenvolvimento desta solução, que, mesmo com a pandemia, conseguiu cumprir todos os cronogramas planejados.

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Foto: Wenderson Araujo-Trilux/CNA