CNA quer barrar volta de Kátia Abreu à presidência da entidade

Confederação da Agricultura e Pecuária não quer ter a ex-ministra no comando, que perdeu popularidade entre os produtores

Ao deixar o ministério da Agricultura e retomar a cadeira no Senado, o próximo passo da ex-ministra Kátia Abreu seria a volta à presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Como outros ministros que foram exonerados, Kátia Abreu tem que cumprir uma “quarentena” antes de assumir qualquer posto em entidade ou empresa, já que tem informações privilegiadas. Mas, de acordo com advogados ouvidos pelo Canal Rural, a senadora pode pedir autorização para não cumprir os 180 dias de prazo ao Conselho de Ética da Presidência da República. Com isso, se ex-ministra decidir voltar à presidência da CNA, praticamente nada pode impedi-la.

Mas o retorno não será tão fácil assim. A popularidade de Kátia Abreu está em baixa entre a classe produtora há bastante tempo, desde que decidiu continuar apoiando a amiga e, agora, presidente da República afastada Dilma Rousseff. “Não há clima, o descontentamento com a senadora é quase 100%”, disse um membro de uma das 27 federações que integram o Conselho de Representantes da CNA. Apenas a federação do Tocantins, estado da ex-ministra, continua a apoiá-la.

Novo presidente

Neste momento, o clima na CNA é de expectativa com o que pode ser feito para evitar que Kátia retome seu lugar de direito – após seis anos à frente da entidade, ela foi reeleita presidente para o triênio 2014-2017, com 21 votos dos 22 participantes da eleição. Assim que assumiu o Ministério da Agricultura, em janeiro de 2015, o seu vice-presidente e amigo, João Martins da Silva Junior passou a presidir a CNA.

Pouco mais de um ano depois, o presidente em exercício da entidade não pretende devolver o posto. João Martins já declarou diversas vezes que a ex-ministra “traiu os produtores rurais”. Na última entrevista que deu ao Canal Rural, no dia do lançamento do Plano Safra 2016/2017, ele foi categórico: “em vez de optar ficar do lado do produtor, ela optou ficar do lado da presidente. Então ela cortou o cordão umbilical com os produtores rurais”.

O descontentamento com a senadora por parte dos produtores é tanto que a CNA precisou enviar um ofício às federações esclarecendo que Kátia Abreu não pode retomar a presidência durante o período de quarentena. É que alguns produtores estariam estimulando um boicote ao pagamento da contribuição sindical que vence no dia 22 de maio, caso a senadora voltasse à entidade.

Qual a manobra para evitar a volta de Kátia Abreu?

Nos corredores da CNA, algumas estratégias para impedir a volta de Kátia Abreu à presidência são levantadas. Uma delas seria a renúncia coletiva da diretoria, para que uma diretoria interina ocupasse a presidência e convocasse novas eleições. Mas isso não está previsto no estatuto e, mesmo que 90% da diretoria renuncie, os 10% restantes continuariam à frente da entidade – a própria senadora, por exemplo.

A alternativa mais provável é que o conselho da entidade decida afastar a presidente. Como o grupo se reúne duas vezes ao ano (uma até maio e outra até novembro), será necessário convocar uma assembleia extraordinária. 

Com a convocação, os representantes têm três dias para se reunir e, no encontro, podem decidir pelo afastamento. Advogados ligados à área ouvidos pelo Canal Rural afirmam que o argumento mais forte que pode ser usado é o de que a presidente licenciada “agiu contra os interesses da entidade e dos produtores rurais”.

Oficialmente, a CNA não se pronuncia sobre o assunto, mas a informação é que os diretores estão estudando o estatuto para convocar essa assembleia extraordinária em breve. “Semana que vem, esse debate vai esquentar”, disse outro representante de federação de agricultura que também não quis gravar entrevista.

Outro advogado ouvido pela reportagem afirma que, mesmo afastada pelo conselho da CNA, a senadora pode recorrer à justiça comum para garantir a volta à cadeira da presidência. Kátia Abreu foi procurada pela reportagem, mas não quis se manifestar sobre o assunto.

Agora, uma pergunta poderia ter sido feita pela entidade à senadora e evitar todo esse desgaste: Kátia Abreu quer mesmo voltar à presidência da CNA?