COP26

Brasil na COP26: painéis mostram cases sustentáveis

Programação brasileira na COP26 apresentou iniciativas que contribuem para a redução dos gases de efeito estufa

Na extensa programação da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, na Escócia, não faltam cases de sustentabilidade na agenda brasileira.

Nesta terça-feira, 2, o presidente da Embrapa, Celso Moretti, afirmou que, dentre os 15 países com o maior potencial de diminuir o carbono a partir do solo, o Brasil é o primeiro da lista.

“O Brasil tem 36 bilhões de toneladas de carbono orgânico armazenado em seus solos. Apesar de ter 5% de todo o carbono presente no solo, está em primeiro lugar da lista dos 15 maiores países que armazenam esse carbono”, disse Moretti ao participar do painel “Carbono Orgânico no Solo – Oportunidades e Desafios”, mediado pelo secretário-adjunto Clima e Relações Internacionais do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Marcelo Freire.

O presidente da Embrapa explicou que o sistema orgânico captura carbono e melhora a qualidade do solo, trazendo mais fertilidade e capacidade de retenção de água. “Além de contribuir para armazenar gases de feito estufa dentro desse recurso [água] que é extremamente estratégico para o Brasil, o carbono contribui para a estruturação física do solo”, explicou.

Segundo relatório apresentado por Moretti, o carbono pode ser mais facilmente encontrado no solo das regiões Norte e Sul em função da maior produção de matéria vegetal. Por outro lado, o semiárido e o Pantanal têm pouca concentração, já que o solo nesses locais são mais arenosos e dificultam a fixação.

O secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Fernando Camargo, acrescentou que o país conta com um programa de desenvolvimento e interpretação do solo, o PronaSolos. A iniciativa, segundo ele, vai garantir a investigação, a documentação e a interpretação de dados nas próximas três décadas sobre o solo brasileiro.

“Apesar de ser um uma potência agroambiental, o Brasil não conhece [profundamente] seu solo”, lamentou. Agora, com o programa, será possível “fazer a agricultura digital”. Isso significa, segundo o secretário, utilizar os dados para colocar o fertilizante certo num determinado local, por exemplo.

“Raio-x” das emissões

Outro tema abordado pela agenda brasileira da COP26 foi o Inventário Nacional de Gases de Efeito Estufa. A ideia é ampliar o relatório para detalhar o quê e onde concentram os maiores gases poluentes no país. “É uma iniciativa de alta relevância para que possamos ter um melhor entendimento do nosso avanço, planejar melhor as políticas públicas[e mensurá-las]”, explicou o secretário.

O levantamento é dividido atualmente em cinco áreas: agropecuária, uso da terra, processos industriais, energia e resíduos. O cálculo do nível de emissão é feito com base na atividade produtiva — no agro, são avaliados o número de cabeças de gado, o gênero, a idade, o manejo e a raça – e o fator de emissão de gases – o animal emite determinada quantidade de metano por ano, por exemplo.

O trabalho de ampliação do inventário nacional será feito por uma consultoria contratada pelo ministério. “É um primeiro passo para fazer uma sintonia fina especificamente nos setores de agricultura e florestas”, disse o sócio da consultoria, Ricardo Zibas.

Siderurgia Sustentável

Pela manhã, em um dos painéis, o diretor de clima da Secretaria de Clima e Relações internacionais do MMA, Paulo Toledo, falou sobre o projeto Siderurgia Sustentável. Com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente, a iniciativa busca reduzir as taxas de emissão de gases de efeito estufa do setor.

“Ele [o programa] foca em um setor que já é conhecido por ter uma produção mais limpa. O aço brasileiro já é considerado bem verde fora do país e dentro também, mas ele ainda responde por 3,2% das emissões [de gases poluentes]”, afirmou o diretor.

O projeto estudou o funcionamento de fornalhas de carvão no estado de Minas Gerais, onde está boa parte da indústria siderúrgica brasileira. A meta inicial era fazer com que três fábricas mudassem suas tecnologias de trabalho para diminuir a poluição, mas a equipe conseguiu dobrar o número.

A principal mudança foi a técnica utilizada na queima da madeira. Antes, os fornos liberavam os gases poluidores livremente, o que, além de causar problema ao meio ambiente, afetava a saúde dos trabalhadores. A solução encontrada pelo projeto foi canalizar os gases para um sistema menos prejudicial.

Como resultado, a iniciativa conseguiu aumentar em cinco vezes as reduções dos gases de efeito estufa nas fábricas. Quanto à produção de carvão limpo, Toledo disse que a meta era produzir 80 mil toneladas ao ano e, a partir das melhorias, passou a ser 290 mil toneladas.

Metas nacionais

A programação do dia foi encerrada com a palestra “Políticas Públicas de Mudança Climática do Brasil”. Mediado pelo secretário Marcelo Freire, o painel destacou a importância das Diretrizes para uma Estratégia Nacional para Neutralidade Climática, lançado pelo MMA na abertura da COP26. O documento prevê, entre outras metas: restaurar e reflorestar 18 milhões de hectares de florestas até 2030; alcançar, em 2030, a participação de 45% a 50% das energias renováveis na composição da matriz energética; e recuperar 30 milhões de hectares de pastagens degradadas.

O secretário também citou que o Brasil possui um programa robusto de proteção da camada de ozônio. Além disso, segundo Freire, o país avançou no combate à desertificação. Sobre siderurgia sustentável, tema de um dos painéis do dia, ele disse que o país tem uma vantagem sobre outras nações. “[Somos] bastante diferente dos concorrentes internacionais, que usam carvão de fonte fóssil, [pois priorizamos o uso de] carvão vegetal”.

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