Internacional

Sanções contra a Rússia: confira os impactos econômicos

Segundo o professor da Universidade de São Paulo Simão Davi Silber, é preciso olhar todas as conjecturas com muito cuidado

Depois da invasão da Ucrânia, a Rússia, uma das 20 maiores economias do planeta, sofreu uma dos maiores sanções econômicas já aplicadas na história.

Estados Unidos, Europa, Austrália, Japão e outras grandes economias ocidentais congelaram os ativos de bancos russos.

As medidas têm o objetivo de isolar a Rússia do mercado global, controlar de forma rigorosa a exportação e impactar diretamente o acesso do país à tecnologia de ponta.

As sanções pretendem congelar aproximadamente US$ 1 trilhão em ativos; e mais de um terço dos bancos russos serão cortados do sistema financeiro SWIFT. O sistema SWIFT é uma cooperação internacional que conecta instituições financeiras em mais de 200 países, e que é controlado pelos bancos centrais dos países que integram o G-10, o grupo das 10 maiores economias do mundo.

Segundo o jornal Financial Times, cerca de US$ 300 bilhões dos US$ 630 bilhões de reservas internacionais mantidas pela Rússia foram bloqueadas da noite para o dia. Nos anos recentes, medidas semelhantes foram aplicadas contra o Irã e a Venezuela, mas não na escala atual, com praticamente todas as economias avançadas proibindo a transação de ativos russos.

Os US$ 630 bilhões das reservas russas não estão em dinheiro vivo, nem estão armazenados em cofres subterrâneos, mas estão investidos em ativos líquidos, que podem ser trocados facilmente no mercado internacional. Muitas vezes, depositados em outros países.

Consequências

Segundo o professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, Simão Davi Silber, para o Brasil, as sanções podem comprometer a safra 2022/23. “Vai ser praticamente impossível comprar fertilizantes da Rússia, e a Rússia comprar qualquer commodity do Brasil”, afirma.

Maior exportador de trigo do mundo, a Rússia também vai ter dificuldades para cultivar e comercializar o cereal, o mesmo acontece com a Ucrânia, outro grande país produtor. “No Brasil, o impacto não será tão grande, já que o país importa trigo da Argentina, mas gera uma distorção nos preços, e o pão pode sim ficar mais caro”.

Grande produtor e exportador de petróleo, o óleo diesel também pode ter impacto no agronegócio brasileiro.

Por outro lado, o Brasil, como um grande produtor e exportador de commodities, pode ser beneficiado com uma possível escalada nos preços.

O professor, no entanto, é cuidadoso e lembra que ainda é muito cedo para traçar qualquer cenário de médio e longo prazo. “A guerra tem apenas sete dias. É preciso olhar todas as conjecturas com muito cuidado. Muita coisa ainda pode acontecer”, afirma.