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Milho: ataques de cigarrinha aumentam em MT e produtores temem não cumprir contratos de venda

Alguns produtores da região de Nova Mutum realizam até 9 aplicações e não conseguem combater a ocorrência da cigarrinha do milho

O ataque das cigarrinhas foi impiedoso na fazenda localizada em Nova Mutum (MT). Parte da colheita de milho segunda safra teve que ser feita manualmente. O que sobrou no campo, poucas plantas permanecem em pé e com potencial produtivo bastante prejudicado, como relata o agricultor Luiz Antônio dos Santos Silva.

“Esse ano desde que a gente plantou e nasceu o charutinho do milho já tinha supressão grande de cigarrinha. Numa área dessa aqui acredito que não chega nem aos trinta sacos de milho, porque os pés de milho estão bem caídos aqui. Você pega nos carrapichos que estão nascendo é muita cigarrinha. Estamos bastante preocupados”, relata o produtor.

Na lavoura do produtor Luiz Antônio dos Santos Silva, o ataque da cigarrinha gera apreensão com os contratos de venda já firmados (Foto: Pedro Silvestre)

Nem mesmo as nove aplicações específicas usadas para controlar os insetos foram suficientes. Ao todo, a perda de produtividade na safra pode chegar a 70%. Uma frustração que tira o sono do agricultor, que ainda precisa entregar cerca de 5 mil sacas de milho vendidas antecipadamente.

“A gente não dorme não. Temos o contrato com uma empresa, e do jeito que está a média não vamos conseguir cumprir, é de desesperador. Além disso, a gente vendeu milho lá atrás a preço menor, para você comprar hoje o prejuízo seria muito maior, você paga até R$ 65 reais para cumprir contrato de R$ 32,33. Nosso sentimento não tem nem explicação. Investimos bastante para colher, no mínimo, 120 sacos. Não foi falta de cuidar. Aplicamos os produtos e infelizmente está aí a consequência, o custo nosso da área aqui já estava na faixa de 70 sacos e ainda teve mais esse custo extra que a gente teve que ir atrás destes produtos para poder aplicar”, conta o produtor Luiz Antônio dos Santos Silva.

Os milharais da fazenda Porto Seguro, em Nova Mutum, também foram surpreendidos pela invasão da praga. Mesmo com duas aplicações específicas e cultivares tolerantes, o agricultor José Martins Badan estima perdas significativas na produtividade final da safra.

“Comparado com o ano passado, vamos ter uma perda de 30 a 40 sacos por hectare, por conta da cigarrinha. O estrago que ela fez foi bem grande. A gente aqui não estávamos acostumados com essa praga, se não é material todo suscetível nós iríamos perder muito mais. Tem produtores aqui na região que não estão colhendo nem 70 sacas por conta da cigarrinha e a pressão é alta. Isso acaba inviabilizando o plantio do milho aqui na região. O custo de milho bem feito é R$ 70,75 sacas. Temos uma praga que apareceu e já deu todo esse impacto aí na lavoura. Estamos preocupados, porque não sabemos como que vai ser no ano que vem”, diz.

Na lavoura do produtor José Martins Baldan, a perda estimada com o ataque da cigarrinha pode chegar a 40 sacas por hectere (Foto: Pedro Silvestre)

Emerson Zancanaro, presidente do sindicato rural de Nova Mutum, estima as perdas para as lavouras que não receberam o tratamento ideal contra a cigarrinha.

“Estamos tendo uma colheita muito condensada e pouco espaço de tempo, fora da janela ideal do milho e as produtividades estão caindo. Tivemos relatos de lavouras que já colheram inicialmente em torno de 120 sacas por hectare, no máximo. Essas lavouras não sofreram com estresse hídrico, porém, elas sofreram por enfezamentos causados pelo ataque de cigarrinhas do milho. Nós aqui no sindicato rural estávamos estimando uma queda de produtividade inicial de 10% já avançamos para 20%”, pontua.

Como a cigarrinha do milho ataca as lavouras?

Cledson Pereira é agrônomo e atua como consultor na região de Nova Mutum. Ele explica como a cigarrinha age nas lavouras de milho.

“A cigarrinha é só a vetor, que pega aquela doença que tem em uma planta que não iria fazer mal nenhum na produção e aí pica aquela planta e passa para as outras. Se a pressão é alta, uma grande quantidade de plantas será atacada. Os molicutes prejudicam a translocação de seivas e atuam principalmente no floema. Aí vem os patógenos secundários que aqui no nosso caso é o macrofomina, fusarium. Elas apodrecem a planta e o pé cai. Você tem uma espiga que foi mal formada também, um grão menor, porque a translocação de seiva foi prejudicada e é isso que reflete na queda de produção”.

A Aprosoja-MT, que recebeu relatos de ataque da cigarrinha de diversos produtores, diz que as perdas podem ser ainda maiores para algumas regiões do estado.

“Perdas em mais de 50% em alguns casos excepcionais, mas a gente sabe que isso pode se agravar e representar um aumento muito grande de custo, onde o produtor normalmente faz uma, duas aplicações para pulgão. No entanto, temos produtor relatando fazer até 9 aplicações e ainda assim sofrer prejuízos grandes por conta da cigarrinha”, afirma Lucas Beber, vice-presidente da Aprosoja-MT.

De acordo com o pesquisador da Embrapa, Rafael Pitta, as condições do clima favorecem o aumento populacional da cigarrinha.

“Tivemos um regime hídrico irregular, e isso aumentou a nossa janela de semeadura do milho. Como essa praga vai migrando de áreas mais velha para mais novas, nós criamos diversas pontes, que favoreceram a migração de área para área, aumentando também o período de disponibilidade de alimento. Outro ponto relacionado a essas faltas de chuvas, é que os insetos, em geral, se beneficiam dessas condições de baixas precipitação, onde é reduzida a população dos inimigos naturais da praga, esses patógenos o que naturalmente faz com que a população da praga aumente”, ressalta o pesquisador.