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Carne bovina: mercado enfrenta turbulência com Covid-19, diz Rabobank

De acordo com analista do banco, alguns países, como os da América do Sul, ainda estão começando a sentir os impactos da doença

carne bovina marfrig
Foto: Pixabay

A pandemia de Covid-19 e as medidas tomadas para conter suas expansão criaram uma turbulência no mercado global de carne bovina, aponta estudo do Rabobank, referente ao segundo trimestre de 2020.

Segundo o analista sênior em proteína animal Angus Gidley-Baird, enquanto alguns países, como China, Austrália, EUA e, mais recentemente, Europa, começam a rever algumas restrições, outros países, como os da América do Sul, estão apenas começando a sentir os impactos da doença. “A contenção do vírus, as chances de uma segunda onda de infecções, as reações dos consumidores e as consequências econômicas ainda são incertas”, comenta.

Nos Estados Unidos, após a desaceleração ou o fechamento de várias fábricas de processamento de carne bovina no fim de abril, o abate de bovinos no país caiu para quase 50% abaixo dos níveis de 2019. “Isso pressionou imensamente os estoques de carne bovina e os números de gado alimentado, com os preços se ajustando de acordo. Desde então, os níveis de abate começaram a voltar ao normal, mas o grande volume de gado leva alguns meses para ser concluído”, diz.

Na Austrália, a China suspendeu as licenças de exportação de quatro grandes fábricas de processamento de carne bovina em 12 de maio por motivos técnicos. Conforme o Rabobank, essas quatro plantas representam uma grande proporção do abate de bovinos de corte do país e acredita-se que contribuam com um volume substancial das exportações da Austrália para a China. “Uma situação semelhante ocorreu em 2017 e, nesse caso, levou três meses para que o assunto fosse resolvido”, afirma.

Na Índia, as interrupções na cadeia de suprimentos, por questões de logística e de mão de obra durante o bloqueio pelo coronavírus estão afetando as operações de carne bovina. O fornecimento de búfalos aos matadouros foi significativamente impactado, pois os mercados de animais não estão operando ou operando de maneira limitada. Além disso, há atrasos nos portos indianos para a movimentação do produto, pois as operações nos portos estão sob pressão. “Esperamos que as exportações de carne bovina de março a maio sejam significativamente menores”, sinaliza Angus.

Em termos globais, o Rabobank acredita que deva haver uma queda da produção de carne bovina neste ano em cerca de 1% frente a 2019, não apenas pelos efeitos diretos da Covid-19, mas por outros fatores. No caso da Austrália e do Brasil, o elevado nível de abates de fêmeas levou a uma redução no número de cabeças.

Na Austrália as condições ruins do mercado levaram ao declínio no volume de abates. Já no Brasil, a fraca demanda doméstica, as incertezas nas exportações e as melhores condições de clima devem fazer com que mais animais sejam terminados nos pastos. A produção bovina brasileira tende a cair 1% frente a 2019, conforme o Rabobank.

O banco também estima uma queda de produção na Argentina e nos Estados Unidos. Na China, por outro lado, deve haver um aumento na demanda, em substituição à carne suína, por conta dos efeitos da peste africana.